
ficar mais velho é aquele lembrete anual de que o mundo continua girando – só que agora, sem o mesmo entusiasmo quando chega o seu aniversário. você organiza tudo, prepara o melhor que pode, coloca sua alma ali. quer celebrar, quer reunir as pessoas que gosta, e quer, claro, sentir que isso importa pra elas também. mas aí, no grande dia, você percebe que as coisas mudaram. ou talvez elas só ficaram mais evidentes.
quando criança, um aniversário era quase um festival em sua homenagem. as pessoas vinham carregadas de presentes, sorrisos, e aquela ideia palpável de que você era importante. o presente não era só um objeto; era um gesto, um reconhecimento, uma forma de dizer: “eu pensei em você.” e isso valia mais que o carrinho ou a boneca que você encontrava ao abrir o pacote. era sobre a consideração.
hoje, essa consideração parece ter ficado na infância. ninguém traz nada. não que seja sobre os objetos – eu juro que não é. é sobre o que eles simbolizam. sobre alguém ter parado, mesmo que por cinco minutos, pra pensar: o que posso levar que mostre que me importo? mas, ao que parece, até esse pequeno esforço se perdeu no meio do caminho. em vez disso, o que vem é a desculpa educada: “eu nem sabia o que comprar, você já tem tudo!”. e aí você percebe que a pessoa nem tentou.
claro, todos vieram. e isso, em si, é bonito. mas não dá pra evitar aquele pensamento incômodo: será que, no fundo, o aniversário se tornou mais um evento obrigatório pra elas, uma pausa rápida na rotina, sem o significado que ele tem pra mim? porque, sim, pra mim significa muito. significa reunir quem eu amo, sentir que sou valorizado, que minha presença é algo que marca.
não é sobre o presente físico. é sobre o gesto, o tempo, a intenção. é sobre alguém ter olhado pra uma prateleira qualquer e pensado: “essa pequena coisa vai fazer o dia dele mais especial.” e, sim, poderia ser um pacote de café, uma flor, ou até um cartão escrito à mão. algo que dissesse: “eu lembrei de você, e quis mostrar isso.” porque, no final das contas, o presente sempre foi só isso: uma tradução simples de carinho.
então, talvez a culpa seja minha. talvez eu tenha esperado demais. mas, honestamente? esperar ser considerado, querido e lembrado em um dia que é, simbolicamente, o meu dia, não deveria ser demais. e, no entanto, aqui estamos. no próximo ano, quem sabe eu troque as expectativas por algo mais garantido – uma viagem, talvez…