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2024

que tipo de lugar eu gosto?

eu tenho uma atração patológica por lugares que fazem você questionar a existência de qualquer tipo de ordem no universo. sabe, aqueles cantos onde nada funciona direito, onde o conceito de “pontualidade” é tratado como uma piada interna e o som ambiente é uma sinfonia de buzinas, xingamentos e o ocasional som de vidro quebrando. onde a sua mala chegar inteira, ou sequer chegar, é considerado um presente dos deuses do transporte. lugares onde, se tudo der errado (e vai), você ainda consegue rir, porque, afinal, você já sabia onde estava se metendo.

eu amo o caos. não o caos cinematográfico e polido, mas o caos real, cru e sujo. ruas que parecem um quebra-cabeça de 5 mil peças jogado no chão por uma criança revoltada, sistemas que só funcionam para quem sabe as manhas, e você, claro, não sabe. e as pessoas? elas não estão nem aí. discutem, gesticulam como se estivessem dirigindo o trânsito celestial e seguem suas vidas, enquanto você, o forasteiro, tenta não ser atropelado por uma scooter carregando uma família inteira e talvez uma galinha.

e é claro que eu sempre chego nesses lugares com aquela combinação idiota de expectativa e nostalgia romântica. “vai ser incrível,” penso eu, antes de ser recebido com um atendente do aeroporto que parece ter feito um voto pessoal de nunca ajudar ninguém. mas sabe o que é mais ridículo? eu adoro isso. adoro a sensação de estar na merda até o pescoço. adoro o desafio de tentar entender por que diabos o taxista decidiu pegar um caminho que inclui uma rua alagada e uma feira de rua. porque nesses lugares, qualquer pequena vitória, como conseguir pedir uma coca-cola sem ser roubado, parece uma conquista épica.

são lugares sem verniz, sem filtro, sem preocupação com a sua experiência de turista. e talvez seja exatamente isso que me fascina. porque no meio da bagunça, das gambiarras, dos olhares que dizem “boa sorte, trouxa,” eu vejo algo real. algo que não dá a mínima para a sua ideia de como as coisas deveriam ser. e, de alguma forma, é isso que me faz voltar. ou sou só um idiota.