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2024

mudaram a máquina do café

mudaram a máquina de café da minha academia. um dia, eu entro lá, meio zumbi, pronto para aquele gole preto e amargo que me acordava como um tapa na cara, e dou de cara com um monstro prateado, cheio de botões sensíveis ao toque e uma tela digital que parece uma nave espacial pilotada por um barista sem alma. progresso, disseram. inovação, garantiram. só que agora o café tem gosto de decepção. morno, insosso, aguado. um líquido covarde, sem aquele sabor robusto, meio queimado, meio errado, que fazia parecer que eu estava prestes a lutar pela minha vida em vez de apenas fazer agachamento.

mas o café é só um sintoma da praga maior: essa obsessão moderna de mudar tudo o que funciona só para parecer mais esperto. não basta servir um bom café, tem que ser “uma experiência sensorial digitalmente otimizada”. não basta um cardápio de papel, tem que ser um qr code que te obriga a acessar um site bugado onde cada toque na tela te faz querer esfaquear alguém com um garfo de plástico. e não basta um restaurante que simplesmente serve comida boa, ele precisa ter um “conceito” que geralmente significa menos comida, mais adjetivos pretensiosos e um preço que te faz reconsiderar suas escolhas de vida.

e tudo sempre em nome da “facilidade”. claro. como quando os supermercados decidiram que o autoatendimento seria “mais rápido”. mais rápido para quem? porque da última vez que tentei usar aquela porcaria, a máquina me acusou de roubo porque eu coloquei a banana na sacola antes dela dar permissão. aí vem um funcionário com cara de tédio, insere um código secreto digno da cia, e eu sou lembrado mais uma vez de que eu deveria apenas aceitar a fila do caixa e desistir dessa ilusão de independência.

mas a pior parte? ninguém questiona. todo mundo apenas aceita. é como se estivéssemos presos num culto tecnológico onde cada nova atualização nos afasta um pouco mais da sanidade. tudo tem que ser conectado, integrado, otimizado, o que significa, na prática, que nada mais pode simplesmente funcionar. e se você ousa dizer que gostava mais de como as coisas eram antes? parabéns, agora você é um velho rabugento que “não entende o futuro”.

mas eu não sou contra o futuro. eu sou contra a estupidez. sou contra essa necessidade neurótica de destruir o que é bom só para parecer inovador. porque no fim do dia, tudo isso não passa de um grande teatro para justificar que você gaste mais tempo, mais paciência e mais dinheiro para obter algo pior.

ou talvez eu só esteja ficando velho.