
sabe o que realmente me assusta? não é a direita raivosa, os fanáticos de whatsapp ou o ressentimento que anda correndo solto por aí. medo eu tenho é da burrice insistente, da arrogância progressista que se recusa a aprender com a história, da crença ingênua de que “a verdade vencerá” enquanto o povo conta moedas para comprar arroz e feijão.
medo eu tenho desse pessoal que ainda acha que pode tratar o eleitor como um animal de estimação, como se fosse um cachorrinho fiel que volta abanando o rabo a cada eleição, só porque a alternativa é pior. medo eu tenho dessa ilusão coletiva em que a esquerda se enfia, achando que porque tem a mídia, a universidade e os artistas, tem o povo. não tem. o povo está puto. o povo está cansado. e quando o povo cansa, meu amigo, a história já mostrou o que acontece.
acontece um maluco qualquer, um picareta carismático, um vendedor de ilusões que aparece prometendo ordem, dignidade e redenção nacional. acontece um salvador da pátria, um homem forte que diz exatamente o que as massas desesperadas querem ouvir. já vimos esse filme antes. era mudo e em preto e branco, mas terminou em guerra, campos de extermínio e milhões de mortos.
porque a coisa nunca começa com tanques nas ruas e hinos nacionalistas. começa com um povo humilhado, um governo fraco, um parlamento disfuncional e uma elite progressista que vive numa bolha, rindo de quem ousa discordar. começa quando a classe média percebe que sua vida está piorando, quando os pobres percebem que ninguém liga para eles e quando as instituições falham repetidamente em oferecer respostas. começa quando um desgraçado qualquer aparece dizendo “eu sei quem são os culpados”, apontando o dedo para jornalistas, professores, artistas, imigrantes, minorias… qualquer um que sirva de bode expiatório.
e enquanto a esquerda discute pronomes, a realidade está engolindo o país. enquanto os progressistas dobram a aposta, a raiva cresce. e raiva acumulada vira vingança. vira ódio puro. vira voto. e quando o caos estiver completo, quando um novo líder autoritário surgir do nada, quando as massas o carregarem nos ombros como um messias, vai ter muito intelectual chocado perguntando “meu deus, como isso foi acontecer?”.
foi acontecer porque vocês estavam ocupados demais discutindo filigranas ideológicas enquanto o povo queria só saber como pagar a feira. foi acontecer porque vocês acharam que estavam ganhando enquanto estavam sendo varridos do tabuleiro. foi acontecer porque a história, essa velha desgraçada vingativa, tem um senso de ironia brutal e uma paciência infinita para repetir lições que ninguém aprende.