
parei de ouvir podcasts porque percebi que estava me afogando em uma piscina rasa de autoafirmação, cercado por vozes que só me diziam o que eu já queria ouvir. não era informação, não era reflexão, não era nem entretenimento decente, era um loop infinito de confirmações, um algoritmo moldado para me manter satisfeito na minha bolha confortável, sem jamais me desafiar de verdade.
parei porque percebi que os podcasts não estavam me tornando mais inteligente, mais questionador ou mais bem informado. estavam apenas me transformando em um papagaio sofisticado, alguém que repete frases de efeito bem articuladas sem nunca realmente pensar sobre elas. era como se cada episódio viesse com um carimbo invisível… pronto, agora você sabe a opinião certa sobre esse assunto. pode seguir em frente sem questionar.
parei porque vi que todo mundo estava fazendo a mesma coisa, não ouvindo para aprender, mas ouvindo para confirmar. esquerda ouvindo esquerda. direita ouvindo direita. cinéfilo ouvindo cinéfilo. foodie ouvindo foodie. cada um no seu cercadinho, reforçando as mesmas crenças, rindo das mesmas piadas internas, se sentindo mais esperto do que o resto do mundo.
parei porque percebi que os podcasts roubaram meu silêncio. o espaço onde eu pensava, onde eu duvidava, onde eu simplesmente deixava a mente vagar. de repente, cada momento livre precisava ser preenchido com alguém falando comigo. lavando louça? podcast. dirigindo? podcast. tomando banho? podcast. deus me livre ficar sozinho com meus próprios pensamentos. mas aí caiu a ficha… sem espaço para o silêncio, não há espaço para reflexão. e sem reflexão, você não está aprendendo, está só consumindo ruído.
parei porque música existe. e música é infinitamente superior. uma boa faixa instrumental pode dizer mais sobre a condição humana do que qualquer monólogo de uma hora sobre como os millennials estão redefinindo a cultura do trabalho.
parei porque os podcasts começaram a soar todos iguais. os mesmos formatos, as mesmas pausas dramáticas, o mesmo tom de voz de deixa eu te contar algo muito profundo que vai mudar sua vida. às vezes, era uma imitação barata de um programa de rádio da npr. às vezes, um stand-up sem timing. às vezes, um show de autoajuda disfarçado de debate intelectual. mas, no final das contas, era sempre a mesma ladainha.
parei porque descobri que a maioria desses pensadores independentes eram tão independentes quanto um comercial de banco. no começo, vinham com aquele papo de não tenho rabo preso, falo o que penso. meses depois, estavam promovendo app de meditação, suplemento alimentar ou colchão que melhora sua performance cognitiva. revolucionários de ocasião, vendidos ao primeiro patrocinador que apareceu.
parei porque, ironicamente, os podcasts que se dizem provocativos nunca provocam nada. eles desafiam o que já está morto. criticam o que já foi criticado à exaustão. fazem piadas sobre coisas que já não têm defensores. é uma rebeldia artificial, um circo bem coreografado onde ninguém corre o risco de realmente incomodar alguém poderoso.
parei porque percebi que, se tudo que eu ouço confirma o que eu já acredito, então eu não estou pensando. estou só me sentindo confortável. e conforto é uma droga perigosa.
parei porque um dia me peguei citando um podcast como se fosse um fato absoluto. como se, só porque ouvi aquilo em um tom confiante e bem editado, fosse verdade. e percebi que eu tinha parado de questionar.
parei porque, no fundo, prefiro não saber de tudo. prefiro aceitar que a realidade é caótica, que nem toda pergunta tem resposta, que nem toda opinião precisa ser reforçada por um episódio de duas horas com um especialista. às vezes, o melhor que você pode fazer é fechar a boca, desligar tudo e simplesmente pensar.