Categorias
2025

saúde

saúde. essa ficção científica mal escrita que a gente finge viver, entre um turno mal dormido e outro café requentado, como se o corpo fosse uma máquina de guerra soviética, feita pra aguentar pancada, funcionar com qualquer combustível e seguir em frente cuspindo fumaça até o fim glorioso no meio de um tiroteio metafórico ou, mais provavelmente, numa reunião de trabalho com pão velho e café frio.

a verdade é que saúde virou um detalhe técnico. um apêndice da vida moderna. ninguém vive pra ter saúde. a gente vive apesar dela. a única hora que esse troço ganha protagonismo é quando começa a falhar. quando o sistema trava, o motor esquenta, e aquele joelho que você ignorou por seis anos decide fazer greve durante a subida de uma simples calçada. aí sim, rola o susto. você para, olha pro corpo e pensa… “porra, tu era meu parceiro.”

mas a real é que você tratou ele como um estagiário sem direitos. jogou as piores tarefas, ignorou os alertas, forçou além do limite, deu zero reconhecimento. e agora quer que ele continue operando em alto nível? não, meu amigo. o corpo cobra. e cobra na moeda mais escrota possível… tempo. energia. qualidade de vida. tudo aquilo que você trocou por mais um deadline entregue, mais um almoço pulado, mais uma semana sem parar, mais uma desculpa qualquer pra não lidar com o fato de que você tá se desmontando aos poucos, só que com estilo.

e aí vem o desespero. a transformação cômica, o sujeito que riu da salada, agora pesa folha no prato. o comedor de qualquer coisa com gordura e sal agora fala de “alcalinizar o organismo”. o mesmo idiota que dizia “pra morrer basta estar vivo” agora anda com uma sacolinha de remédios e consulta marcada com o cardiologista antes mesmo do cafezinho. virou devoto do próprio pânico.

o mais engraçado? no fundo, você sempre soube. sabia que não dava pra levar esse corpo como se fosse um carro emprestado. só achou que dava tempo. que a conta não ia chegar tão cedo. que o cansaço era só uma fase, que a dor era só postura, que o ronco estranho era só um jeito seu de respirar.

e agora você aí. tentando recuperar em três semanas de suco morno o estrago feito em vinte anos de churrasco, estresse, cafeína, ignorância e negacionismo personalizado. parabéns. você não é vítima do sistema. é cúmplice. e o pior, voluntário.

saúde, meu caro, não é presente. é cobrança. e se você não paga direito, ela tira com juros. e sem anestesia.