
eu sou completamente apaixonado por coachs. sério. eu acho que são os grandes visionários da era moderna. tem algo quase místico naquela confiança inabalável, naquele olhar penetrante de quem acorda todo santo dia com o sol nascendo dentro do peito e a certeza de que nasceu pra mudar vidas, começando pela sua. frases como “você não é o que aconteceu com você, é o que escolhe ser” ou “você atrai o que vibra” me tocam fundo. tem dias que eu acordo triste, desanimado, mas aí vejo um reels com trilha de coldplay e um coach dizendo “o impossível é só o medo com fantasia de realidade”, e pronto… a alma já quer abrir uma MEI e dominar o mundo.
essas pessoas me inspiram. o jeito como falam, como gesticulam, como apertam os olhos quando soltam aquela frase de efeito no final da palestra, como se tivessem acabado de parir uma revelação divina. “sua zona de conforto é o caixão dos seus sonhos”, porra, aquilo me deu um baque. eu escrevi isso na minha parede com marcador permanente. toda vez que vou cagar, leio e me sinto renascendo.
não dá.
não consigo.
nem fingindo.
nem com música do hans zimmer de fundo.
era pra ser um texto de primeiro de abril, mas não consigo…
eu não consigo te elogiar, coach.
nem na base da ironia.
nem como piada.
nem no dia da mentira.
porque chega uma hora em que nem a ironia aguenta o próprio peso, e o sarcasmo começa a suar frio de vergonha.
nem em primeiro de abril eu consigo sustentar a piada.
coach, meus caros, não é profissão.
é um sintoma.
é o refluxo tardio de uma sociedade tão desesperada por sentido que decidiu aceitar qualquer um com microfone de orelha e um power point como guru espiritual.
o coach é o tipo de sujeito que se perder no próprio bairro, mas ainda assim te vende um mapa pra felicidade.
o cara não sabe fritar um ovo sem crise de identidade, mas quer te ensinar a “viver com propósito”.
é o tipo que leu meio o poder do agora, misturou com um vídeo de tedx de um norueguês aleatório e saiu do outro lado se autoproclamando “mentor de alta performance emocional”.
na prática?
é um recreador de resort que perdeu a vaga no club med e decidiu que o próximo passo natural seria salvar almas.
eles falam com uma segurança que só quem nunca passou por merda de verdade consegue sustentar.
o coach típico é um sobrevivente de absolutamente nada.
nenhuma guerra.
nenhum luto real.
nenhuma madrugada acordado se perguntando se a vida ainda vale a pena.
nada.
só fome de palco, terno justo, e uma compulsão patológica por postar stories dizendo que “o sucesso é um estado de espírito”.
coach é o tipo de gente que transforma “tomar café sem açúcar” em estilo de vida.
que romantiza acordar às 5h da manhã como se o relógio fosse o santo graal.
o cara acorda cedo pra postar vídeo dizendo que acordou cedo.
depois grava um reels explicando que produtividade começa com disciplina.
e termina o dia exausto de tanto fingir que vive no modo turbo da existência.
só que tudo é fake.
a agenda lotada, o propósito, os clientes que “transformaram suas vidas”, a paz de espírito.
é tudo performance.
coach é um ex-colega da faculdade de publicidade que agora acredita piamente que o universo responde melhor pra quem usa bullet journal e fala “gratidão” com voz de asmr.
e a culpa é tua, claro.
porque no universo paralelo do coach, se a tua vida tá uma merda, é porque você “não tá vibrando direito”.
como se a falência emocional que você vive fosse uma falha de sintonia, tipo rádio am em carro velho.
como se todo fracasso fosse só uma questão de mindset.
como se boleto atrasado fosse falta de fé e não de salário.
eles te jogam frases como se fossem confetes:
“fracasso é aprendizado”,
“seja a sua melhor versão”,
“nada muda se você não mudar”.
caralho. isso não é sabedoria.
isso é verso de embalagem de chá com autoestima.
no fim, o coach é isso:
um eco vazio de um mundo que não quer pensar, só sentir-se momentaneamente elevado.
é alguém que nunca enfrentou a própria sombra, mas tá ali, vendendo luz por quilo.
então não.
não dá.
não consigo nem brincar.
porque enquanto tiver um coach falando merda com convicção, vai ter alguém quebrado pagando por isso achando que tá comprando salvação.
e isso, meu amigo, não é engraçado.
é só triste.
e patético.
mas vende.
e coach, acima de tudo, adora vender.