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2025

você não lê, você escaneia… e mal

você viu o título. leu rápido, achou provocativo, talvez até se sentiu levemente insultado e, num impulso pavloviano, já tava formando uma opinião com base em 12 palavras. porque hoje em dia é assim, leu o letreiro do restaurante e já tá escrevendo a crítica no tripadvisor.

não importa se era ironia, se o texto se desdobra, se existe nuance. nuance dá trabalho. exige tempo. exige uma coisa rara, quase extinta… atenção. mas você não quer entender. quer parecer que entendeu. quer bancar o sabichão no jantar, o crítico cultural do grupo do whatsapp, o justiceiro de feed, sem nunca ter, de fato, entrado na porra do texto.

as pessoas não leem. elas escaneiam. procuram palavras-gatilho como quem caça pokémons, só que em vez de diversão, querem indignação de bolso. “isso me ofende? isso me representa? posso usar isso contra alguém?” se a resposta é sim pra qualquer uma dessas, pronto, temos uma opinião formada. uma posição sólida como pudim fora da geladeira.

a tragédia nem é a burrice. burrice a gente tolera. o problema é a vaidade. gente que vive com o ego inflado por manchete, achando que é culto porque viu um vídeo com legenda explicando a guerra do oriente médio em 45 segundos com trilha sonora de lo-fi hip hop.

o título virou totem. virou religião. virou identidade. ninguém mais lê um texto com o espírito aberto, como quem vai ao mercado sem lista, disposto a ser surpreendido. leem como quem entra num drive-thru, já sabem o que querem, só não sabem como vem embalado.

e quando o conteúdo desafia, quando quebra a expectativa, quando te joga na cara que você pode, veja só, estar errado… aí pronto. “o texto é confuso”, “pretensioso”, “ai que arrogante”. como se o problema fosse o prato, não o paladar infantil de quem ainda acha que nuggets são alta gastronomia.

e você, que adora parecer engajado, empático, lido, profundo… não passa de um fantasma digital. sem tempo, sem paciência, sem estômago pra lidar com a complexidade real do mundo. acha que ser informado é repostar link. acha que ser crítico é discordar com emoji. acha que tem voz, mas tudo o que tem é wi-fi.

vai lá, compartilha esse texto com a certeza de que ele não é sobre você. chama de “genial”, finge que leu tudo, joga uma frase de efeito no final e volta pra sua zona de conforto. porque pra encarar o conteúdo de verdade, com estômago, você teria que fazer algo radical. parar. ler. pensar. e isso, meu caro… não cabe num título.