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2025

linkedin

abro o linkedin como quem entra num salão de espelhos. tudo parece familiar, mas nada é exatamente o que parece. os sorrisos são largos, os cargos inflados, as histórias… sempre épicas. ninguém ali apenas trabalha, todo mundo transforma, lidera, impacta. você nunca vai ver alguém dizendo “atendo cliente e preencho planilha”. é sempre “sou responsável por potencializar soluções que impulsionam a jornada de inovação”. dá até vontade de pedir um tradutor simultâneo pra entender o que, de fato, essa pessoa faz.

e o mais curioso é o ecossistema. tem o entusiasta do networking, sempre com um café na mão e uma verdade absoluta na legenda. tem o recém-promovido que jura que “nunca imaginou estar aqui”, mas escreve como se tivesse contratado um ghostwriter da forbes. tem o fugitivo da CLT, agora vendendo liberdade em 12 parcelas no pix. e tem também aquele perfil misterioso que aparece a cada três meses só pra dizer que “vem coisa boa por aí”.

ninguém ali está sóbrio de expectativa. é um baile de máscaras corporativas, onde o jogo é parecer importante sem soar arrogante, engajado sem parecer desesperado, estratégico sem dizer nada. e todos, sem exceção, parecem ter saído de um laboratório de branding pessoal. até a ausência é calculada… “tirei um tempo pra mim, mas agora volto com tudo”, como se alguém tivesse notado a falta.

e eu? eu observo. sorrio de canto. penso se deveria entrar no jogo. talvez postar uma foto com cara de quem acabou de fechar um deal fictício. ou criar um cargo novo pra mim, tipo “curador de sarcasmo aplicado”. mas aí lembro que a única métrica que realmente me importa é se eu consigo sair de um dia de trabalho sem vontade de deletar minha identidade digital inteira.

no fim, o linkedin é isso. um palco onde todo mundo se apresenta como vencedor de um prêmio que ninguém sabe quem criou. e a plateia? aplaude, comenta, compartilha. não porque acredita. mas porque também quer ser a próxima atração.