
eu chutei o apple watch da minha vida como quem dá descarga num sanduíche de posto de gasolina esquecido no porta-luvas. não foi por birra, nem por estética, nem por algum insight transcendental sobre o equilíbrio entre homem e máquina. foi por vergonha.
vergonha de ter deixado uma pulseira com crise de identidade mandar mais em mim do que eu mesmo. o apple watch é aquele tipo de tecnologia que grita “olha pra mim!” o tempo todo, como se eu tivesse pedido pra viver com um adolescente narcisista amarrado no pulso. ele quer te lembrar que você tá vivo, mas faz isso do jeito mais desesperado possível… vibrando, mandando corações, te avisando que você tá sentado há muito tempo, como se levantar fosse um ato de heroísmo digno de oscar.
“você ainda pode fechar seus anéis hoje!” meu amigo, se eu quiser anel, eu vou na feira do ouro. o que eu queria era paz. silêncio. respeito. e foi aí que o oura ring apareceu, como um serial killer educado… sem fazer barulho, sem pedir licença, sem te oferecer parabéns por respirar fundo.
o oura não tenta ser seu melhor amigo.
não vibra, não acende, não dá show.
ele te observa dormindo. mede tua alma. anota teus vícios. te entrega tudo na manhã seguinte como se fosse uma autópsia precoce. e o melhor… não julga.
porque ele sabe que julgar é trabalho seu.
ele só mostra o cadáver.
a diferença entre os dois é simples, o apple watch é aquele cara no happy hour da firma que fala alto, toma conta da conversa, interrompe todo mundo e no fim ainda te manda uma notificação. o oura ring é o cara calado no canto do bar. não fala nada. mas sabe que você tá mentindo quando diz que dormiu bem.
eu cansei de usar um aparelho que parecia estar mais preocupado com a minha performance social do que com a minha biologia real. o apple watch quer ser tudo… treinador, guru, conselheiro, stylist, dj. é o canivete suíço dos ansiosos.
o oura ring? ele só quer saber se você vai desmaiar ou não.
ele não me manda levantar. não me elogia. não me cobra. ele me trata como um adulto com um corpo cansado e um cérebro funcionando no modo avião. e isso, hoje em dia, já é mais empatia do que metade da humanidade consegue oferecer.
no final, o apple watch é uma festa com muita luz e pouca comida. o oura ring é um bisturi esquecido numa bandeja de inox. e eu sou o cara que cansou da festa. e aprendeu a amar o corte.