
tá acontecendo uma coisa curiosa, quase comovente, se eu não tivesse perdido a capacidade de me comover com esse zoológico de tela sensível ao toque que virou o planeta. as pessoas, vejam só, começaram a desconfiar que talvez não precisem trocar tudo o tempo todo. sim, parece que a febre consumista crônica que transformou a humanidade numa manada de compradores compulsivos dopados de wi-fi tá… baixando. um milagre tecnológico sem padre e sem keynote da apple.
eu tô vendo com esses olhos míopes… gente que antes mal sabia a diferença entre um cabo e uma corda agora fuçando fóruns, vendo vídeo de russo abrindo smartphone com palito de dente, se enfiando em tutoriais como se tivessem descoberto o sagrado graal, o botão de reiniciar o próprio cérebro.
não é nem sobre economia. é sobre orgulho. é sobre enfiar a mão na carcaça de um aparelho, arrancar um parafuso maldito, trocar uma bateria estufada e dizer “não hoje, filho da puta. hoje eu te ressuscito.”
e, meu amigo e amiga, tem algo de deliciosamente obsceno nisso. consertar hoje é quase um ato terrorista. é cuspir no sistema que quer te ver trocando de aparelho mais vezes do que troca de cueca. é mandar um recado pros deuses da obsolescência programada… vocês vão ter que me engolir, porque eu aprendi a abrir e fazer funcionar de novo.
eu mesmo tô nessa. cansei de ser mais um zumbi de lançamento. agora, quando algo dá pau, eu encaro como missão de guerra. desmontar, limpar, remontar. às vezes piora, às vezes explode, às vezes dá certo. mas sempre vale mais que assinar contrato com mais uma operadora que quer te cobrar em prestações pelo privilégio de ser burro.
a verdade é que o mundo começou a mudar. devagar, como tudo que presta. no subsolo, no silêncio das bancadas improvisadas, entre uma chave torx e um tutorial mal legendado. um novo tipo de insanidade tá nascendo e ela não se alimenta de caixas novas, mas de carcaças velhas com chance de redenção.
bem-vindo à era dos hereges digitais. onde o novo é cafona, o brilhante é suspeito, e consertar virou a forma mais elegante de mandar o mercado pra aquele lugar.
e sinceramente? essa merda toda finalmente tá começando a fazer sentido.