eu sempre pensei que ser pai seria sobre ensinar, sobre ser esse modelo que meu filho olhasse e falasse “uau, meu pai sabe tudo”. a ideia era aquela baboseira de passar o bastão da sabedoria de geração para geração, mas logo percebi que a única coisa que estou realmente ensinando é como consertar brinquedo quebrado. e, sejamos honestos, isso é uma lição valiosa na vida moderna. quem diria que minha verdadeira profissão não era ser mentor ou guia espiritual, mas sim mecânico de brinquedos em tempo integral?
meu dia começa não com um “bom dia, pai” ou “obrigado por existir”, mas com um grito de emergência: “pai, meu carrinho quebrou!” e ali estou eu, em plena missão de resgatar um pedaço de plástico da morte certa. sou chamado para desmontar, remendar, reconstruir, deitar no chão e vasculhar até achar a peça perdida. entre uma cola quente e um pedaço de fita adesiva, aprendo que ser pai não é sobre ser infalível, mas sobre ser flexível e sempre estar disposto a fazer o impossível para dar aquele “ah, valeu, pai” de quem ainda acredita em magia.
não são só os carrinhos, claro. tem legos, que me fazem questionar as leis da física a cada construção que desmorona. meu filho monta castelos que desafiam até os melhores engenheiros, e eu sou o arquiteto frustrado que, em algum ponto do processo, recebe a ordem de “reconstruir tudo”. não importa quantos milhões de peças estejam espalhadas, meu trabalho é dar um jeito. sempre dou. porque ser pai, afinal, é entender que os brinquedos quebram, mas a paciência e a perseverança devem ser restauradas.
e os bonecos, ah, os bonecos. são as estrelas do espetáculo. esses pequenos sobreviventes de inúmeras aventuras passam por cada tipo de trauma possível. braços arrancados, cabeças que não se encaixam mais… já me vi, inúmeras vezes, virando um cirurgião de plástico e tapeando com durepoxi. mas, no final, é sempre um sucesso. o que começa como um desastre termina como um novo herói para o meu filho, que, em sua visão de mundo, sou o melhor “consertador” que existe.
nada, porém, se compara ao caos dos brinquedos eletrônicos. um caminhão de bombeiro sem som? meu filho me olha como se eu fosse um técnico da NASA, e eu, sem saber como, tento ressuscitar o brinquedo com pilhas novas, apertando botões e rezando para o milagre acontecer. às vezes dá certo, às vezes não. mas não importa, porque o que aprendi é que ser pai é isso: improviso, paciência e a capacidade de resolver o impossível, com ou sem a tecnologia a nosso favor.
no fundo, a paternidade tem mais a ver com consertar do que ensinar. você repara brinquedos, corações e até suas próprias expectativas. mas, no final, meu filho me ensina mais sobre resiliência do que qualquer livro ou palestra sobre a vida. e, sim, vou continuar sendo o mecânico de brinquedos enquanto ele acredita que eu posso fazer qualquer coisa.
se você está olhando ao redor e se perguntando “o que diabos está acontecendo com o mundo?”, parabéns, você está oficialmente desperto para o grande desastre cíclico da humanidade. e se quer uma resposta, aqui vai… estamos no meio de um fourth turning, o momento histórico onde tudo desmorona, as pessoas se dividem como torcidas organizadas e ninguém mais consegue concordar nem sobre o que é real.
não acredita? então preste atenção, esse caos não é um erro do sistema, é o sistema funcionando exatamente como sempre funcionou. william strauss e neil howe, no livro “the fourth turning”, explicam que a história não avança em linha reta, ela repete os mesmos quatro atos como um roteirista preguiçoso escrevendo a mesma série ruim toda temporada. cada ciclo dura de 80 a 100 anos e é dividido em quatro fases previsíveis. e, azar o seu, você nasceu no exato momento em que tudo começa a derreter.
primeiro: o high, a ilusão de que consertamos o mundo
o ciclo começa logo depois de uma grande crise, uma guerra, um colapso econômico, algo feio o bastante para traumatizar a humanidade inteira. as pessoas, cansadas de sofrer, decidem fingir que aprenderam a lição e constroem uma sociedade baseada na ordem, na estabilidade e na completa negação da realidade.
os anos 50 foram um exemplo perfeito. todo mundo feliz, sorrindo em comerciais preto e branco, comprando casas idênticas em subúrbios idênticos e acreditando que o governo, a igreja e os bancos estavam lá para protegê-los. as instituições estavam no auge, a sociedade parecia unida, e o futuro era brilhante. claro, ninguém falava sobre os podres escondidos debaixo do tapete, mas ei, pequenos detalhes.
segundo: o awakening, hora de jogar tudo no lixo
mas eis o problema, o high é chato pra cacete. e a geração que nasceu nesse período, criada com estabilidade, segurança e um senso absoluto de que o mundo sempre vai melhorar, começa a achar tudo um grande tédio sufocante. então eles fazem o que qualquer geração entediada faria… chutam o pau da barraca.
de repente, todas as regras do high são questionadas. religião? besteira. governo? corrupto. tradição? prisão disfarçada. o mundo vira um grande campo de batalha cultural, e o que era sólido começa a rachar. os anos 60 e 70 foram exatamente isso… protestos, revoluções sociais, questionamento da moralidade, e um monte de gente correndo pelada em festivais enquanto prometia mudar o mundo.
a ironia? eles acabaram se tornando exatamente aquilo que combateram. décadas depois, os mesmos rebeldes dos anos 60 estão aí, votando em candidatos conservadores e reclamando que a juventude de hoje em dia é “muito sensível”.
terceiro: o unraveling, o começo do fim
se o awakening foi a adolescência rebelde da sociedade, o unraveling é o momento em que o adulto percebe que a vida não tem sentido e desiste de fingir.
a confiança nas instituições desaba, as pessoas param de acreditar que há um futuro coletivo e todo mundo entra no modo “cada um por si”. os anos 80 e 90 foram puro unraveling, o neoliberalismo dominando o mundo, a política virando um show de horrores, os governos sendo gerenciados como empresas (e tão mal quanto), e as pessoas mergulhando no consumismo como se pudessem comprar felicidade parcelada em 12x sem juros.
é nesse período que começamos a ver o caos chegando, mas ainda dá para ignorá-lo. ninguém acredita que o mundo pode realmente desabar. as pessoas acham que “as instituições são ruins, mas pelo menos ainda existem”, que “a democracia pode estar em crise, mas ainda é forte”, que “as guerras são coisas do passado”, e outras ilusões otimistas.
e então, vem o tapa na cara.
quarto: o fourth turning, e agora fodeu
se você está vivo hoje, parabéns, você está no meio do grande colapso histórico do seu tempo.
a crise de 2008? O início do nosso fourth turning. de lá para cá, tivemos… instabilidade financeira, polarização política extrema, colapsos institucionais, guerras voltando a ser uma coisa comum, pandemias, teorias da conspiração dominando a cultura, e um nível de paranoia coletiva que faz os anos da guerra fria parecerem uma colônia de férias.
e ainda estamos só no meio do caminho. se os ciclos se repetirem (e até agora sempre se repetiram), ainda falta a grande crise final, o momento onde tudo se desfaz completamente e o mundo é forçado a se reinventar. pode ser uma guerra global, um colapso econômico total, uma revolução que ninguém viu chegando. o roteiro já está pronto, só falta descobrir qual desastre específico vai fechar essa temporada.
mas você pode estar confuso com essa história de ciclos, não é? acha que talvez isso seja só um papo furado e que o mundo está uma bagunça porque, sei lá, as redes sociais estragaram tudo ou porque a humanidade está ficando mais burra? beleza. então, vamos voltar no tempo e dar uma olhada em alguns outros fourth turnings. porque, amigo, se você acha que o nosso está ruim, deixa eu te contar: já estivemos nesse filme antes, e ele sempre termina com explosões, fogo e um bando de gente tentando reconstruir tudo do zero.
fourth turning #1: revolução gloriosa (1688-1704), quando a europa resolveu chutar a porta
você provavelmente nunca ouviu falar da revolução gloriosa, porque, sejamos honestos, a maioria das pessoas mal consegue lembrar o que comeu no café da manhã, muito menos um evento de 300 anos atrás. mas aqui vai a versão resumida… foi um grande “foda-se” para os reis absolutistas, e o começo da bagunça política moderna.
inglaterra, 1688. os ciclos estavam se repetindo direitinho, um período de estabilidade após a guerra civil, seguido por uma era de mudanças culturais e filosóficas (olá, iluminismo!), depois uma fase de desconfiança nas instituições. e aí, boom!!! um rei impopular, uma crise religiosa, e, de repente, os ingleses resolvem se livrar do monarca e botar outro no lugar, um que pelo menos fizesse o favor de não ser um lunático.
parece algo distante? troque “rei impopular” por “político ridículo”, “crise religiosa” por “polarização ideológica”…
fourth turning #2: revolução americana e francesa (1773-1794), o caos iluminado
avançamos um século e adivinha? outro fourth turning. os eua, ainda um projeto de colônia britânica, decidem que pagar imposto para um rei do outro lado do oceano não é um plano viável de longo prazo. começa uma guerra. um novo país nasce. “ah, agora vai dar certo”, pensam eles. (spoiler: não deu.)
do outro lado do atlântico, os franceses olham para os americanos e pensam: “ei, boa ideia, vamos tentar também”. só que, em vez de uma revolução minimamente organizada, eles entregam um espetáculo de cabeças rolando na guilhotina, enquanto a europa assiste horrorizada. quando o fourth turning chega, todo mundo perde a cabeça, algumas pessoas de forma mais literal que outras.
e antes que você diga “ah, mas isso foi há muito tempo, agora somos mais civilizados”, te pergunto: quantas pessoas você conhece que matariam um desafeto político se tivessem a chance e a certeza de impunidade? pois é. então segura essa régua moral aí.
fourth turning #3: guerra civil americana (1860-1865), quando os eua decidiram se matar por conta própria
vamos para o século XIX. os estados unidos estão crescendo, mas tem um problema… metade do país acha que pode continuar escravizando seres humanos, e a outra metade começa a achar isso meio inaceitável. as instituições falham, o governo se divide, os estados começam a ameaçar se separar e, antes que alguém consiga resolver as coisas de forma civilizada, estão todos enfiados até o pescoço em uma guerra sangrenta.
e olha que coincidência, antes da guerra, vieram as mesmas fases do ciclo de sempre. período de reconstrução pós-revolução? check. era de questionamento e mudança social? check. anos de crescente polarização e desconfiança? check. quarta fase? um mar de sangue e destruição.
e depois? reconstrução. um novo ciclo. novas instituições. novas promessas de que “isso nunca mais vai acontecer.” (spoiler: vai.)
fourth turning #4: grande depressão e segunda guerra mundial (1929-1945), o inferno na terra
ah, agora estamos chegando perto. a geração dos anos 1920 achava que tinha resolvido todos os problemas. a economia estava bombando, as cidades estavam crescendo, a tecnologia estava avançando. e então, bum!!! a bolsa de valores despenca, milhões de pessoas perdem tudo, os governos falham espetacularmente, e, antes que alguém consiga respirar, um austríaco com um bigode ridículo resolve que o melhor jeito de consertar as coisas é iniciar uma guerra global.
o mundo pega fogo. milhões morrem. cidades inteiras viram cinzas. governos são derrubados. a guerra termina, e um novo ciclo começa. os sobreviventes olham ao redor e pensam: “ok, dessa vez aprendemos. nunca mais deixaremos isso acontecer.”
(corte para 2024: estamos fazendo tudo de novo.)
então, e o nosso fourth turning?
desde 2008, estamos vendo os mesmos sinais que precederam todas as outras grandes crises da história: crise financeira, instituições falhando, aumento do extremismo, um sentimento geral de que as coisas não fazem mais sentido. pandemias, guerras, colapsos econômicos, tudo acontecendo exatamente como antes. e, se os padrões continuarem, ainda não chegamos no clímax.
e quer saber o pior? não tem como sair dessa. não existe atalho, não existe solução rápida, não existe “basta votar certo”. se estivermos realmente no meio de um fourth turning (e todos os indícios apontam que sim), então as coisas só vão piorar antes de melhorar.
e agora, o que fazer?
quer um conselho? pare de agir como se tudo fosse uma surpresa. a humanidade não está em crise… a humanidade É A CRISE. sempre foi. você pode espernear o quanto quiser, mas o ciclo não vai mudar só porque você acha injusto ter nascido na pior fase dele.
você pode até tentar “fazer sua parte”, como todo mundo gosta de dizer. mas sejamos honestos, ninguém realmente faz sua parte. as pessoas seguem discutindo política como se um tweet fosse salvar o mundo, postando textos indignados no linkedin enquanto acumulam mais gadgets desnecessários e, ocasionalmente, assistindo a um documentário para fingir que estão informadas.
mas ao final o que aprendemos com tudo isso?
1. a história sempre se repete. sempre. se você acha que sua geração é a primeira a enfrentar um mundo em colapso, parabéns pela ingenuidade.
2. ninguém nunca percebe que está no meio de um fourth turning até ser tarde demais. as pessoas sempre acham que “dessa vez é diferente”. não é.
3. as instituições não falham porque sim, elas falham porque fazem parte do ciclo. tudo que parece sólido um dia vira pó.
4. o futuro não vai ser gentil. se os padrões se repetirem, ainda temos mais uns dez anos de caos antes do próximo ciclo começar.
5. e o mais importante: todo mundo acha que vai sobreviver, mas historicamente… não é bem assim.
então, qual é a moral da história? simples… relaxe e aproveite o espetáculo. porque, quer você goste ou não, a roda já está girando, e a única coisa garantida é que, no final, alguém sempre sai quebrado.
e agora é a hora de escolher o seu lado, ou você aceita que está dentro de um loop histórico e se prepara para a próxima reviravolta, ou continua fingindo que o caos é uma anomalia e que um dia tudo “vai voltar ao normal”.
entusiasta. só isso. nada de ceo, cmo, gerente sênior, especialista, estrategista, guru, visionário ou qualquer outro título que soe como um troféu corporativo. eu me recuso. não quero um crachá que me tranque numa caixinha confortável. não quero um rótulo que me obrigue a seguir um script. prefiro a liberdade de estar sempre começando, sempre explorando, sempre descobrindo. prefiro ser um entusiasta porque qualquer outra coisa seria limitar o que eu posso ser.
títulos criam muros. e eu não quero muros. não quero ser o especialista que parou de aprender porque acredita já saber tudo. não quero ser o diretor que tem medo de arriscar porque agora tem um cargo pra proteger. não quero ser o guru que se leva a sério demais e vira refém das próprias frases de efeito. eu gosto de errar. gosto de mudar de ideia. gosto de aprender algo novo e me deixar levar por ele até encontrar a próxima obsessão.
ser entusiasta é um ato de rebeldia. num mundo obcecado por certezas, eu escolho a dúvida. escolho a adrenalina de não ter todas as respostas. escolho a curiosidade sem coleira. enquanto muita gente se agarra a títulos pra justificar sua relevância, eu prefiro a vertigem de estar sempre descobrindo o que vem depois. porque é isso que me mantém vivo.
e eu sei que isso incomoda. sei que o mundo prefere especialistas porque especialistas são previsíveis. mas eu não quero ser previsível. não quero seguir o manual. não quero jogar seguro. quero bagunçar, testar, provocar. quero me interessar por algo novo todos os dias. quero ter a liberdade de não precisar fingir que sou algo fixo e definitivo.
por isso eu escolho esse único rótulo… ou melhor, essa recusa de rótulos. porque ser entusiasta significa estar sempre em movimento. significa não me acomodar. significa não precisar da validação de um título pra saber o meu valor. significa olhar pro mundo e pensar: “o que mais eu posso aprender?”. e enquanto essa pergunta fizer sentido, sei que estou no caminho certo.
entusiasta porque qualquer outra coisa seria uma mentira.
sabe o que realmente me assusta? não é a direita raivosa, os fanáticos de whatsapp ou o ressentimento que anda correndo solto por aí. medo eu tenho é da burrice insistente, da arrogância progressista que se recusa a aprender com a história, da crença ingênua de que “a verdade vencerá” enquanto o povo conta moedas para comprar arroz e feijão.
medo eu tenho desse pessoal que ainda acha que pode tratar o eleitor como um animal de estimação, como se fosse um cachorrinho fiel que volta abanando o rabo a cada eleição, só porque a alternativa é pior. medo eu tenho dessa ilusão coletiva em que a esquerda se enfia, achando que porque tem a mídia, a universidade e os artistas, tem o povo. não tem. o povo está puto. o povo está cansado. e quando o povo cansa, meu amigo, a história já mostrou o que acontece.
acontece um maluco qualquer, um picareta carismático, um vendedor de ilusões que aparece prometendo ordem, dignidade e redenção nacional. acontece um salvador da pátria, um homem forte que diz exatamente o que as massas desesperadas querem ouvir. já vimos esse filme antes. era mudo e em preto e branco, mas terminou em guerra, campos de extermínio e milhões de mortos.
porque a coisa nunca começa com tanques nas ruas e hinos nacionalistas. começa com um povo humilhado, um governo fraco, um parlamento disfuncional e uma elite progressista que vive numa bolha, rindo de quem ousa discordar. começa quando a classe média percebe que sua vida está piorando, quando os pobres percebem que ninguém liga para eles e quando as instituições falham repetidamente em oferecer respostas. começa quando um desgraçado qualquer aparece dizendo “eu sei quem são os culpados”, apontando o dedo para jornalistas, professores, artistas, imigrantes, minorias… qualquer um que sirva de bode expiatório.
e enquanto a esquerda discute pronomes, a realidade está engolindo o país. enquanto os progressistas dobram a aposta, a raiva cresce. e raiva acumulada vira vingança. vira ódio puro. vira voto. e quando o caos estiver completo, quando um novo líder autoritário surgir do nada, quando as massas o carregarem nos ombros como um messias, vai ter muito intelectual chocado perguntando “meu deus, como isso foi acontecer?”.
foi acontecer porque vocês estavam ocupados demais discutindo filigranas ideológicas enquanto o povo queria só saber como pagar a feira. foi acontecer porque vocês acharam que estavam ganhando enquanto estavam sendo varridos do tabuleiro. foi acontecer porque a história, essa velha desgraçada vingativa, tem um senso de ironia brutal e uma paciência infinita para repetir lições que ninguém aprende.
acordo quando acordo. sem despertador, sem notificações me lembrando de coisas que não quero lembrar, sem um aplicativo tentando me convencer de que a primeira hora do dia precisa ser otimizada. levanto, faço café para minha esposa. café de verdade, nada desses crimes mornos e aguados que algumas pessoas chamam de “suave”. ela merece um café decente. eu também. enquanto isso, pego o jornal de papel. sim, papel. aquele objeto ultrapassado que não me pede senha nem me bombardeia com anúncios baseados nos meus últimos cinco segundos de pensamento. folheio, deixo a tinta sujar os dedos, respiro fundo e confirmo que a humanidade segue firme na sua missão de se autodestruir com eficiência, nada novo.
passo a manhã no escritório com meu filho. eu trabalho, ele desenha, escreve, inventa teorias. minha mesa se transforma numa exposição temporária de ideias malucas e obras de arte feitas com papel, tesoura e fita adesiva em quantidades que desafiam a física. entre um e-mail e outro, surgem perguntas que ninguém no escritório teria coragem de fazer. “e se o oceano fosse doce?” “se o silêncio faz barulho, então ele ainda é silêncio?” “o tempo existe mesmo ou é só uma coisa que a gente inventou pra não enlouquecer?”.
no escritório o teatro corporativo. reuniões, e-mails, discussões que parecem importantes, mas que, com um pouco de distância, são só uma sucessão de frases genéricas ditas com convicção. algumas reuniões são úteis. outras são como ficar preso num elevador com gente que adora escutar a própria voz. sorrio, anoto coisas, finjo interesse. faço cara de quem se importa, porque às vezes isso já resolve metade dos problemas.
chega a hora de levá-lo para a escola, e o trajeto nunca é só um trajeto. tem teorias, tem descobertas, tem uma análise detalhada sobre por que algumas palavras soam engraçadas e outras não. discutimos os nomes das ruas, os formatos das nuvens, a melhor forma de construir um foguete com materiais encontrados em casa. chegamos, ele desce com a confiança de um astronauta prestes a pisar num planeta novo. as crianças entram na escola como se estivessem embarcando numa expedição intergaláctica. e, de certa forma, estão.
na hora do almoço, pausa. como com minha esposa, porque trabalhar na mesma região e não almoçar juntos seria um nível de insanidade que ainda não alcancei. almoçar com ela é um momento de sanidade no meio do pandemônio do dia. falamos sobre tudo e sobre nada, e às vezes só ficamos ali, apreciando o raro milagre de uma refeição sem interrupções.
a tarde segue seu curso. mais trabalho, mais reuniões, mais decisões que provavelmente serão refeitas amanhã. em algum momento, escrevo algo, rabisco uma ideia sem objetivo, faço qualquer coisa que não tenha prazo, só para lembrar que meu cérebro ainda funciona por conta própria. então, finalmente, o melhor momento do dia: buscar meu filho.
as crianças saem da escola como sobreviventes de uma expedição ao desconhecido. meu filho já chega falando, e eu escuto como se fosse a notícia mais importante do dia. porque é. tem histórias, tem reviravoltas, tem pequenas vitórias e derrotas épicas. um amigo perdeu a borracha e foi um drama shakespeariano. a aula de circo ele fez um movimento tão impressionante que todo mundo ficou em choque. o recreio foi um campo de batalha onde alianças foram formadas e traídas. cada detalhe é contado com urgência, como se fosse informação confidencial de um dossiê ultrassecreto.
chegamos em casa, e o caos recomeça. desenhos, mais perguntas impossíveis, mais projetos que desafiam as leis da lógica e da arquitetura. a sala vira um campo de experimentação criativa, e eu só observo, fascinado com a liberdade de quem ainda não foi contaminado pelo medo de errar.
à noite, quando conseguimos, assistimos tv. ou tentamos. às vezes a gente dorme no sofá, afogados em travesseiros, cobertores e o peso de um dia vivido de verdade. a festa do pijama oficial da casa. acordamos em horários diferentes, nos arrastamos para a cama sem cerimônia. e amanhã? tudo de novo. ou diferente. não importa. o que importa é que, no meio da rotina, do trabalho, das reuniões sem sentido, sempre tem esses momentos. e esses momentos são a única coisa que vale a pena.
abrir um jornal de papel hoje em dia é quase um ato de resistência, tipo acender um cigarro num restaurante vegano ou perguntar onde fica a sessão de carne num mercado hipster. enquanto o resto do mundo acorda e se enfia num transe digital, sendo alimentado por manchetes mastigadas e tendências ditadas por um algoritmo invisível, eu estou aqui, dobrando as páginas de um trambolho impresso, deixando meus dedos sujos de tinta e minha cabeça suja de pensamentos que talvez não me agradem. porque é disso que se trata: enfrentar a realidade sem filtros personalizados, sem sugestões feitas sob medida pro meu gosto. um jornal não quer saber no que eu acredito. ele só me mostra o que está acontecendo, e eu que lide com isso.
as redes sociais são um fast food mental, projetadas pra servir informação do jeito mais rápido, viciante e previsível possível. tudo que aparece já foi escolhido com base no que eu já li, no que eu já cliquei, no que eu já discuti. e qual o resultado? um loop infinito onde eu só vejo versões ligeiramente diferentes do que já penso, só reforçando minhas certezas, só alimentando minha bolha. o jornal, por outro lado, é um prato completo, com coisas que eu gosto e coisas que talvez eu nunca pediria… mas que, no fim das contas, fazem bem. eu começo a ler sobre política, acabo caindo numa história sobre um pescador esquecido no meio do oceano e, de repente, minha cabeça não está mais no mesmo lugar de antes. e isso é bom. porque o mundo não gira ao redor do meu gosto pessoal.
e tem o foco. ah, o luxo da atenção plena. abrir um jornal e simplesmente… ler. sem pop-ups, sem notificações histéricas, sem um vídeo de um idiota dançando logo abaixo da manchete. só a notícia, a matéria inteira, sem cortes, sem interrupções. ler uma reportagem longa no celular é como tentar ouvir um disco clássico no meio de uma festa barulhenta, impossível absorver tudo, impossível se perder na experiência. com o jornal, não tem distração embutida. se eu quiser parar no meio de uma leitura, a interrupção tem que vir de mim, não de uma inteligência artificial desesperada pra me jogar na próxima tendência irrelevante.
e o jornal ocupa espaço. ele está ali, sólido, físico, impossível de ignorar. diferente de um feed que desaparece no instante em que eu rolo a tela, o jornal não some, não se dissolve no ar. ele se impõe. e me força a dar um passo atrás, a processar as informações sem a pressa insana da internet, onde tudo tem que ser consumido rápido antes que outra coisa tome seu lugar. com o jornal, o tempo é meu. eu leio no meu ritmo. e quando termino, ele continua existindo, um lembrete de que a informação real tem peso, tem substância.
e não me entenda mal, eu não sou ingênuo. não estou aqui pra canonizar jornalistas ou fingir que tudo que está impresso num jornal é uma obra-prima de honestidade e profundidade. tem muito jornalista preguiçoso, muito veículo vendido, muita matéria feita na correria só pra preencher espaço. mas pelo menos… pelo menos, o jornalismo ainda exige um mínimo de rigor, uma base de pesquisa, um esforço pra conectar os pontos. é um milhão de vezes melhor do que confiar em prints duvidosos ou numa manchete distorcida compartilhada por algum tio no whatsapp. e, convenhamos, qualquer coisa que faça um trabalho melhor do que uma inteligência artificial gerando notícias automáticas já vale a pena.
porque esse é o problema do jornalismo digital, ele se tornou refém da velocidade. na corrida por cliques, pela viralização, pela manchete mais chamativa, a verdade muitas vezes se perde no meio do caminho. uma reportagem de fôlego, aquela que exige semanas de apuração, não compete com um tweet esperto e venenoso que faz a galera espumar de raiva. mas a verdade, aquela verdade que dói, que incomoda, que não cabe num título de clickbait, ainda está lá, esperando. e geralmente, ela não aparece no trending topics.
e tem um outro detalhe, talvez o mais subestimado, o jornal, ao contrário das redes sociais, não fala comigo. ele não me bajula, não tenta me agradar, não molda as notícias pra me manter confortável. não tem um algoritmo me tratando como um bebê gigante, servindo só as informações que me deixam feliz ou indignado do jeito certo. no jornal, eu leio coisas que talvez me façam mudar de ideia. leio pontos de vista que talvez eu não queira encarar. e sabe o que isso significa? que eu ainda tenho escolha. que ainda posso pensar por conta própria, sem que um software decida qual é a minha opinião antes mesmo de eu terminar de ler.
e no fim das contas, é disso que se trata, escolher entre ser um consumidor passivo, alimentado por um sistema que lucra com a minha previsibilidade, ou assumir o controle da minha própria curiosidade. ler um jornal não é sobre nostalgia, não é sobre fetiche analógico, não é sobre ser hipster e rejeitar tecnologia. é sobre pegar a informação na sua forma mais pura possível, e decidir o que fazer com ela.
e sim, eu poderia simplesmente fechar esse jornal, abrir meu celular e deixar que a máquina me jogue de volta no fluxo infinito de distrações. poderia passar o resto do dia rolando a tela, me sentindo informado sem nunca sair da superfície. poderia. mas, por enquanto, fico aqui, dobrando as páginas, deixando a tinta sujar meus dedos, sabendo que hoje, pelo menos hoje, escolhi algo real.
acordei outro dia e fiz exatamente o que qualquer pessoa minimamente sensata evitaria: enfiei a cara no apocalipse antes mesmo de sair da cama. abri as notícias e pronto, lá estava ele, o festival diário de desgraça e absurdo. guerra. inflação. algum bilionário brincando de deus. um desastre ambiental que, surpresa, ninguém vai resolver. e, claro, uma análise profunda e totalmente inútil sobre como estamos todos fodidos, mas dessa vez com gráficos interativos.
passei os olhos nas manchetes como quem checa o saldo bancário depois de um mês descontrolado, sabendo que só vem merda, mas incapaz de resistir ao masoquismo. porque é isso que virou essa história de “se manter informado”, um vício sujo, um looping infinito de más notícias temperado com o ocasional meme de gato só pra garantir que você não se jogue pela janela antes do almoço.
mas aí eu levantei. olhei em volta. minha casa. minha família. minha equipe. as pessoas que realmente precisam de mim. as pessoas que confiam que eu vou estar ali, inteiro, lúcido, pronto pra resolver as merdas reais do dia. e percebi que eu estava começando todas as manhãs do jeito errado… já drenado, já esgotado, já convencido de que o mundo era uma lixeira pegando fogo e que nada mais prestava. e o pior? eu fazia isso comigo mesmo. todo dia. como um ritual doentio.
então eu cortei. fechei o celular. decidi que não ia mais me afogar no colapso global antes do café esfriar. não porque eu parei de me importar, mas porque, se eu continuar nesse ciclo, vou acabar me tornando só mais um zumbi cínico, um desses caras que passam o dia inteiro repetindo “nada faz sentido” como se isso fosse um mantra iluminado, quando na verdade é só pura preguiça de viver.
e olha, sei que tem gente que acha que estar bem-informado significa estar perpetuamente fodido, como se carregar toda a miséria do mundo nos ombros fosse algum tipo de passaporte pra superioridade moral. mas me diz uma coisa, quando foi a última vez que você terminou de ler as notícias e pensou “nossa, agora sim, pronto pra encarar o dia com otimismo!”? pois é. nunca.
então eu escolhi outra coisa. escolhi focar no que eu posso mudar. na minha família, na minha equipe, nas pequenas coisas que ainda fazem sentido. escolhi lembrar que o mundo sempre esteve uma bagunça, mas que, apesar disso, a vida ainda acontece fora das telas, longe das manchetes, e que se eu passar o tempo todo hipnotizado pelo caos, eu simplesmente deixo de viver. e, sinceramente? não tô a fim de dar esse gostinho pra ninguém.
aquela série que começou como um thriller de sobrevivência e terminou como uma confusão metafísica onde ninguém sabia mais se estavam vivos, mortos ou apenas mal pagos. mas entre todas as almas perdidas daquela ilha, há um homem que se destaca: desmond hume. e, do outro lado do espectro, o doutor jack shephard, o equivalente humano a uma palestra motivacional que ninguém pediu.
vamos começar pelo rei do “brotha”, desmond. o cara era um escocês maldito, cheio de carisma, um misto de herói trágico e profeta relutante que não pedia nada além de uma chance de voltar para a mulher que amava. e diferente da maioria dos palermas naquela ilha, ele tinha algo que poucos ali pareciam possuir: um propósito. enquanto o resto do elenco ficava debatendo liderança e moralidade como se fossem alunos de filosofia do primeiro semestre, desmond estava lá, girando chaves, prevendo o futuro e carregando a série nas costas sem nem reclamar. e ainda por cima tinha o melhor arco da série, uma história de amor que na verdade fazia sentido e não parecia escrita num guardanapo sujo às três da manhã.
agora, jack shephard. ah, jack. o doutor maravilhoso, o líder autoimposto, o rei do discurso inspirador que só servia pra aumentar a enxaqueca de quem assistia. porque todo maldito episódio esse cara achava que precisava dar uma lição de moral? parecia um coach de startup preso num pesadelo existencial. e a necessidade compulsiva dele de controlar tudo? o cara não aceitava um “não” da vida. era como um daqueles tipos que insistem que podem consertar qualquer coisa, menos a própria falta de carisma.
jack era o tipo de cara que, se você estivesse num voo internacional e ele sentasse do seu lado, você fingiria estar dormindo só para evitar a conversa. “sou médico, sou líder, sou um mártir, blá blá blá.” sim, jack, já entendemos, você quer salvar todo mundo e carregar o peso do mundo nos ombros, parabéns, agora vai ali buscar um calmante e para de encher o saco.
e o pior de tudo? no final, a série ainda quis vender jack como o grande herói, o cara que resolveu tudo. mas vamos ser sinceros: o verdadeiro herói era desmond. porque enquanto jack estava ocupado fazendo cara de quem tem prisão de ventre emocional, desmond estava literalmente viajando no tempo, salvando a realidade e ainda encontrando espaço pra um final decente. então, se tivesse justiça nesse mundo ou nessa ilha, “lost” teria terminado com desmond indo embora e jack sendo deixado para trás, fazendo um último discurso para ninguém.
se walter white fosse um guru de curso online, a série teria acabado no terceiro episódio. nada de noites em claro cozinhando metanfetamina em trailers no meio do deserto, nada de explosões, nada de enfrentar cartéis assassinos. ele simplesmente abriria um canal no youtube e venderia um curso chamado “como construir um império do zero com um simples método.” em vez de dizer “i am the danger”, ele falaria “você está cansado de viver na mediocridade?” e pronto, fim da história, império garantido sem um arranhão. porque, no mundo desses charlatões, riqueza não vem de talento, esforço ou sacrifício. vem de um método mágico que, veja só, só eles conhecem e estão dispostos a compartilhar por um precinho camarada.
a grande diferença? walter white, apesar de todos os seus defeitos, pelo menos sabia que era um bandido. o guru do curso online, por outro lado, finge que está fazendo um favor ao mundo. enquanto walter enfrenta traficantes armados até os dentes para proteger seu império, o guru enfrenta… um ring light e um script mal ensaiado. a única coisa que ele tem que fazer é repetir frases prontas sobre “renda passiva” e “mentalidade milionária” enquanto finge que seu fundo alugado em dubai é um símbolo de sucesso genuíno.
e o golpe é sempre o mesmo. primeiro, ele te convence de que ser uma pessoa normal, trabalhar, pagar contas, viver sem alarde… é a pior coisa que pode acontecer com um ser humano. porque, claro, a verdadeira felicidade não está em comer um bom prato de comida, viajar por prazer ou simplesmente não ser um babaca. está em ser um tubarão dos negócios, um investidor visionário, um predador em um mundo de presas. e, por sorte, ele tem um curso exatamente para isso.
mas a parte mais brilhante desse golpe? quando dá errado, e sempre dá errado, a culpa nunca é do curso. é sua. você não aplicou direito. você não teve a mentalidade certa. você não quis o suficiente. genial. ele vende uma miragem e ainda te convence de que, se você morrer de sede no deserto, o problema foi sua falta de comprometimento. walter white pelo menos admitiria que te enganou. o guru do curso online vai te convencer a comprar outro curso.
mas a cereja do bolo, o golpe final, é quando o ex-aluno finalmente percebe a realidade: o único jeito de ganhar dinheiro com esses cursos é vendendo um. e assim nascem novos gurus. o sujeito que gastou r$ 3.000 em um treinamento inútil agora está pronto para recuperar o investimento. grava um vídeo, monta um “método infalível” e começa a vender exatamente a mesma ilusão que comprou. um grande esquema de pirâmide emocional onde a única coisa que se multiplica não é o dinheiro, é o número de pessoas convencidas de que são gênios do capitalismo.
walter white, se assistisse a isso tudo, provavelmente abriria uma cerveja, daria um gole e diria: “eu explodi um cartel inteiro para construir um império e esses imbecis conseguiram o mesmo resultado vendendo e-books de autoajuda. parabéns para eles.”
olha pra essa tela. agora olha de novo. quantas abas abertas? cinco? dez? vinte e sete? um número tão grande que você já desistiu de contar? você não está navegando na internet. você está se afogando num mar de informação inútil, fake news de quinta categoria, vídeos de gatos tocando piano e aquele tutorial que você jurou que ia assistir, mas ficou só no “depois eu vejo”. você virou um acumulador digital, um esquilo paranoico empilhando nozes de conhecimento irrelevante que nunca vai mastigar.
mas aqui vai a real, essas malditas abas abertas estão roubando a sua alma. isso mesmo, vampiros sugadores de sanidade, pequenas armadilhas psicológicas vestidas de produtividade. você acha que está no controle, acha que cada aba tem um propósito, mas, na verdade, você está apenas colecionando distrações como um viciado coleciona desculpas.
cada aba é uma promessa não cumprida. uma pesquisa acadêmica que você nunca terminou de ler. um site de notícias que só aumenta sua ansiedade. um vídeo de receita que você nunca vai tentar. um e-mail que você finge que vai responder. uma aba para cada decisão adiada, cada projeto inacabado, cada fantasia de que um dia você será mais organizado, mais culto, mais eficiente. mas você não é. e nem vai ser, enquanto não apertar aquele bendito “fechar todas as abas”.
pensa bem, quando foi a última vez que você conseguiu se concentrar em uma coisa só? não estou falando de fingir que presta atenção numa reunião enquanto navega entre quatro abas do google, mas sim de realmente mergulhar em uma única tarefa, sem interrupções, sem pulinhos de atenção dignos de um peixinho dourado com déficit de memória? pois é.
isso tem nome. se chama sobrecarga cognitiva. o seu cérebro, essa máquina gloriosa que evoluiu para caçar mamutes e fazer fogo, está derretendo lentamente sob o peso de centenas de fragmentos de informação inútil. e você sente isso. você sente na dificuldade de lembrar das coisas, na ansiedade crescente, na insônia alimentada por uma mente que se recusa a desligar porque você passou o dia inteiro consumindo estímulos como um bufê de fast food para o cérebro.
e não vamos esquecer do impacto físico: olhos secos de tanto encarar a tela. tensão no pescoço, nos ombros, na alma. aquele cansaço mental que te faz sentir exausto mesmo sem ter saído do lugar. você está sendo moído por essa avalanche de informação, mas insiste em continuar abrindo mais e mais abas, como se estivesse construindo um castelo de cartas no meio de um furacão.
o pior é que você sabe. sabe que devia fechar tudo e focar no que realmente importa. sabe que esse hábito de acumular abas é uma forma elegante de procrastinação. sabe que está apenas se iludindo com a ideia de que está sendo produtivo, quando, na verdade, está apenas girando em falso, como um hamster numa roda de ansiedade.
e ainda tem a ilusão da “volta”. aquele pensamento traiçoeiro: “vou deixar essa aba aberta pra ler depois”. depois nunca chega. depois é uma mentira que você conta para si mesmo enquanto se afunda cada vez mais nesse oceano digital.
então, que tal fazer um teste? fechar todas as abas. todas. sem dó. sem piedade. aperta aquele botão e observa a sensação que vem depois. talvez um frio na barriga, um medo absurdo de ter perdido algo importante. mas logo depois, um alívio. um silêncio mental. um espaço vazio onde, por alguns segundos, a sua mente pode respirar.
isso é desintoxicação digital. isso é minimalismo mental. isso é parar de agir como um viciado em informação que não consegue desligar.
porque, no fim das contas, se algo for realmente importante, ele vai voltar. a informação certa sempre encontra um jeito de chegar até você. mas a paz de espírito que você está trocando por um mar de abas abertas? essa, meu amigo, você está jogando fora sem nem perceber.
então feche todas as abas. agora. respire fundo. e talvez, só talvez, comece a sentir o gosto da liberdade.