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2024

matrix

quer saber o código para viver fora da matrix? aquela receita que todo mundo conhece, mas ninguém tem coragem de seguir? está na ponta da língua, mas poucos têm o estômago pra realmente encarar. a verdade é que você só encontra a saída quando aprende a cortar o ruído, a ignorar a falsa urgência e, principalmente, a escolher de verdade como gastar seu tempo. viver bem não tem nada a ver com encher a agenda ou estar sempre disponível. viver bem é sobre dizer “não” ao que suga sua energia e “sim” ao que faz sentido. e quase nunca é a mesma coisa.

começa pelos e-mails. ah, os e-mails. um oceano de solicitações, calendários, reuniões que poderiam ser resolvidas em uma mensagem rápida. então aprendi a grande arte de excluir. sem cerimônia, sem drama. deletar e-mails não é grosseria, meu amigo, é estratégia de sobrevivência. o que realmente importa vai encontrar uma maneira de chegar até mim. o resto? ruído, peso morto. e no whatsapp? faço a mesma coisa. arquivo mensagens sem abrir, como quem varre as sobras da mesa. aquele áudio de cinco minutos que chega sem aviso? ouço só se tiver a garantia de uma história sensacional. senão, deixo lá. o mundo continua girando, e minha paz de espírito segue intacta. não é uma questão de grosseria; é saber que minha atenção é um recurso precioso, e eu não vou gastá-lo com qualquer coisa.

quanto ao correio de voz… bom, nem perco meu tempo. pensa comigo: estamos em 2024, e ainda tem gente tentando te convencer de que você precisa de correio de voz? se é urgente, existe mensagem, existe ligação direta. correio de voz, pra mim, é como aqueles panfletos de pizzaria que entopem a caixa de correio – ninguém quer, ninguém pediu, mas lá estão, insistindo. então, decidi: correio de voz, não. quem precisa falar comigo de verdade já sabe onde me encontrar. e adivinha? o mundo continua girando. minha sanidade agradece.

viajar só a trabalho? é como ir a um restaurante e pedir o prato mais sem graça do cardápio. o sujeito atravessa o planeta, mas só vê o aeroporto, a sala de conferências e, com sorte, o bar do hotel. isso é viver? pra mim, não. se eu vou cruzar o oceano, vou querer muito mais do que uma apresentação formal e uma noite sem sal com desconhecidos. vou querer o inesperado, a chance de me perder pelas ruas, de achar um boteco onde ninguém se importa quem eu sou, de comer algo que eu nunca mais vou encontrar. isso, para mim, é o verdadeiro motivo de se viajar. e se não há tempo para isso, então para que gastar passagem? prefiro ficar em casa, de boa.

e conferências? ah, as conferências. o altar da produtividade vazia. aquele lugar onde as pessoas fingem escutar atentamente, enquanto se preocupam em parecer ocupadas, como se tivessem decifrado algum grande mistério do universo. só me encontram em uma dessas se eu estiver no palco, e ainda assim, só se eu tiver algo que valha o tempo de quem escuta. fora isso, não gasto um segundo naquele teatro mal ensaiado.

e é por isso que hoje eu me recuso a abrir mão do tempo que realmente importa. recuso. faço questão dos jantares com minha família, de horas em volta de uma mesa cheia de pratos e histórias, onde a conversa vai longe e ninguém olha para o relógio. e sim, dessas conversas que vão e voltam, dos risos que preenchem cada espaço, até ninguém saber mais onde uma história termina e outra começa. esses momentos são como o descanso entre pratos de uma refeição de verdade – são a pausa, o sabor, o que dá sentido ao restante.

me recuso a viver só de agendas lotadas, de tarefas marcadas com hora exata. porque no final, a vida já é apressada demais. o que realmente vale são os momentos que você escolhe viver e, principalmente, as pessoas com quem você escolhe estar. o resto? ah, o resto é ruído.

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2024

pessoas certinhas

ah, as pessoas certinhas. aqueles que respiram obediência, acordam ao som de um alarme calculado e, claro, tomam seu café com uma quantidade exata de açúcar. esses seres que veem a vida como uma lista de afazeres e tratam as regras como mandamentos divinos. o mundo deles é um cubículo de previsibilidade, sem espaço para a bagunça gloriosa que realmente faz a vida valer a pena.

são os tipos que nunca vão experimentar o gosto sublime de uma madrugada errante, porque precisam dormir oito horas para manter a produtividade. nunca vão se perder numa cidade estranha ou deixar um vinho barato virar uma conversa épica, porque tudo, absolutamente tudo, precisa estar sob controle. se você soltar um “f***-se” por aí, eles já arregalam os olhos, cheios de pavor, como se a própria existência estivesse ameaçada.

e eles acham que esse modelo engessado é sinônimo de superioridade. olha só, “eu pago meus impostos na data certa”, “minha mesa está organizada”, “não tomo café depois das seis”. parabéns, você conseguiu ser a pessoa mais desinteressante da festa. porque, veja bem, viver sem risco, sem surpresa, é como viajar e se trancar no hotel. é acordar todo dia para uma rotina escrita por um robô e achar que isso te torna mais respeitável. na verdade, isso só torna sua vida um monumento à mesmice.

talvez seja isso que nos irrita tanto nos certinhos. eles nos lembram do quão fácil é fugir da vida, se esconder atrás de cronogramas, evitar qualquer tipo de turbulência. enquanto eles se preocupam em alinhar os móveis e os horários, o resto de nós está se debatendo, tropeçando, cometendo erros épicos, mas, pelo menos, estamos vivendo alguma coisa real. e, no final, são as histórias sujas, os erros e os momentos improvisados que fazem a vida. tudo que esses seres “certinhos” se recusam a abraçar.

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2024

manifesto aos profissionais de marketing

nós, os profissionais de marketing, somos os arquitetos do desejo moderno. estamos sempre prontos para construir um mundo de aparências, um universo onde cada produto, cada serviço, cada ideia é uma promessa embalada para presente. somos os especialistas em transformar o comum no essencial, em te fazer sentir que está a uma compra de distância da felicidade, do status, da autoconfiança, da vida dos seus sonhos. é um teatro cuidadosamente planejado, onde você acredita que precisa daquilo que nunca sequer imaginou querer.

é nossa arte, nossa ciência, nossa religião. dia após dia, empurramos campanhas que fazem você pensar que aquela jaqueta, aquele novo celular, aquele café orgânico “especial” vão finalmente te trazer aquele algo mais. fazemos isso porque sabemos exatamente como sua cabeça funciona, sabemos como cutucar aquela insegurança escondida, aquela necessidade de pertencimento, aquela carência por algo que nem você sabe definir. e no fundo, sabemos que é uma mentira. sabemos que a felicidade que vendemos é tão fugaz quanto o próximo lançamento.

mas e agora? agora, estamos começando a sentir o desgaste. podemos ver que o consumidor, esse pobre coitado que já encheu a casa, o armário, a garagem de tralha, está exausto. cansado de promessas vazias, saturado de campanhas “disruptivas” que são só mais do mesmo. e o que fazemos? dobramos a aposta. tentamos gritar ainda mais alto. lançamos mais uma “experiência transformadora”, um produto “revolucionário”, como se ninguém tivesse percebido o truque. e a ironia é que, enquanto continuamos a reciclar esse teatro, as pessoas do outro lado estão começando a entender que a piada é sempre a mesma – e que o alvo, no fim das contas, são elas.

de vez em quando, aparece uma marca que resolve desafiar esse circo – como a Patagonia, que ousou dizer: “não compre esta jaqueta.” uma empresa de roupas dizendo ao consumidor que ele não precisa de mais roupas. é de cair o queixo, porque eles entenderam algo que a maioria de nós finge ignorar: talvez o verdadeiro luxo, o verdadeiro marketing de impacto, seja vender a ideia de não consumir. mostrar que a coisa mais poderosa que você pode ter hoje é o poder de dizer “não, obrigado. eu já tenho o suficiente”. a Patagonia não só falou, como fez. eles ofereceram reparos gratuitos, incentivaram o reuso, convidaram o consumidor a parar de comprar compulsivamente. não era um truque barato de sustentabilidade; era uma afronta real ao modelo de negócios que mantém a maioria de nós confortáveis e bem pagos.

e aí vem a questão: quantas empresas seguiram esse caminho? quantos de nós realmente tiveram a coragem de olhar pra nossa própria indústria e questionar tudo? quase ninguém. porque é muito mais fácil pegar a palavra “consciente” e usá-la como mais um acessório, mais uma isca pra fisgar o consumidor que já está tentando fugir desse ciclo. “compra sustentável”, “consumo responsável” – transformamos essas palavras em mais um verniz de virtude que não nos obriga a mudar nada de verdade.

a verdade é que a maioria de nós não tem coragem de arriscar, de subverter o jogo, de admitir que talvez o melhor marketing que poderíamos fazer fosse ensinar o mundo a viver com menos. vender o que ninguém vende: o direito de não precisar de nada. mas isso, claro, é o tipo de coisa que ameaça tudo o que conhecemos. no final das contas, seguimos empurrando o vazio, porque é o vazio que alimenta a máquina.

então, estamos aqui, repetindo o mesmo ciclo, vendendo o mesmo sonho em novas embalagens, torcendo para que ninguém perceba que o que estamos oferecendo nunca foi real. mas talvez, no fundo, a única coisa realmente revolucionária que poderíamos fazer seria olhar no espelho e aceitar a verdade: a paz, a liberdade, a autenticidade que vendemos nunca esteve à venda. e talvez nunca esteja.

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2024

esg

sustentabilidade no mundo corporativo é como aquele reality show gourmet onde os participantes fingem ser grandes chefs, mas a gente sabe que é tudo de micro-ondas. empresas adoram encher a boca com palavras bonitas como “sustentabilidade,” “responsabilidade ambiental,” e “governança,” mas a verdade? é tudo casca. é como uma calda de chocolate sobre uma fatia de isopor.

imagine só: corporações gigantes que gastam rios de dinheiro em relatórios de esg, relatórios cheios de termos técnicos, gráficos coloridos, metas ambiciosas pra 2050. dá uma olhada neles – cada número ali é pensado pra impressionar, pra acalmar o investidor e fazer o consumidor se sentir um pouco menos cúmplice. mas, enquanto falam de futuro, continuam a fazer o que sempre fizeram. continuar explorando recursos naturais, continuar usando o trabalho precário, continuar empurrando produtos descartáveis como se fossem essenciais.

a lógica é simples: enquanto a maioria das pessoas compra a fantasia, eles vendem o espetáculo. acham que um post bonitinho sobre o dia do meio ambiente compensa décadas de poluição. acham que doando uma quantia irrisória pra uma ong ambiental vão apagar toda a sujeira que deixam pelo caminho. sustentabilidade pra eles é só mais uma linha no orçamento de marketing.

no final das contas, a real é essa: a palavra sustentabilidade, nas mãos das grandes corporações, é só mais uma ferramenta pra transformar preocupação genuína em lucro. é a velha história – eles têm o mundo como playground e o chamam de “negócio.” e vão continuar assim até o último pedaço de floresta, o último litro de água limpa, o último suspiro de um planeta exausto.

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2024

livros

alguns livros não entram na vida da gente como simples palavras. eles chegam como ideias que tomam corpo, que vão moldando o jeito de ver o mundo, mesmo que você não esteja pronto. esses aqui, dos pesos-pesados da filosofia e literatura antiga, fazem exatamente isso. aristóteles, sócrates, maquiavel – esses caras te arrastam para uma reflexão nua e crua sobre a vida, o poder, a moralidade. você começa pensando que vai ler um “clássico”, e termina encarando suas próprias crenças com aquela desconfiança que só os grandes livros conseguem despertar.

1. “ética a nicômaco” – aristóteles
aristóteles não estava interessado em metáforas ou figuras de estilo. ele queria entender o que faz uma vida valer a pena. ética a nicômaco mexeu comigo porque não te dá um manual, mas uma pergunta: o que é a areté, a excelência? ele descreve a virtude como um equilíbrio entre extremos – coragem, por exemplo, está entre a covardia e a imprudência. cada capítulo é como um espelho, uma chamada para você refletir se está buscando uma vida digna ou apenas “vivendo”. ele coloca na mesa o conceito de felicidade não como prazer, mas como uma vida bem vivida, pautada por propósito. é uma leitura que te faz questionar tudo, principalmente o que você anda fazendo com seu tempo e se está perseguindo algo realmente significativo.

2. “a república” – platão
platão desenhou aqui não só uma ideia de justiça, mas o que seria a sociedade perfeita. você lê a república e, em vez de sair com respostas, sai com uma sensação de que a verdade é muito mais difícil de alcançar do que parece. o mito da caverna é uma das partes que mais ficou comigo, aquela ideia de que a maioria de nós vive preso em uma realidade de sombras, acreditando que aquilo é o mundo. é perturbador, porque te obriga a se perguntar o que mais você não está enxergando. e mais: ele nos apresenta sócrates, aquele pensador incansável que questiona até a própria existência. a república me fez perceber que a busca pela verdade é um caminho solitário e perigoso, mas ao mesmo tempo, é a única coisa que nos mantém realmente vivos.

3. “meditações” – marco aurélio
marco aurélio não era só um filósofo; ele era um imperador que entendia que o poder absoluto não vale nada sem controle sobre a própria mente. meditações é um livro íntimo, quase como um diário de reflexões sobre a finitude, a aceitação do destino, e o que realmente importa. ele escreve sobre a necessidade de manter a calma diante das dificuldades, de aceitar as coisas que não podemos controlar. quando li, foi como uma lição de humildade – um lembrete de que até o mais poderoso dos homens é só mais uma peça num tabuleiro. marco aurélio ensina que a verdadeira força vem do autocontrole e da aceitação da nossa fragilidade.

4. “o príncipe” – nicolau maquiavel
maquiavel é frequentemente mal compreendido, mas se você lê o príncipe com atenção, percebe que ele não está defendendo a crueldade gratuita. ele está expondo o poder como ele é – nu e cru, sem moralismos. maquiavel foi o primeiro a admitir que, às vezes, fazer o que é certo para o bem comum exige sacrifícios que nem sempre são bonitos. o príncipe mexeu comigo porque coloca o leitor diante da verdade impiedosa de que o poder não é para os fracos. ele te faz pensar até que ponto você estaria disposto a ir para proteger aquilo que acredita. depois de ler maquiavel, você sai com uma visão mais cínica, mas também mais realista sobre como o mundo funciona.

5. “confissões” – santo agostinho
em confissões, agostinho escreve sobre suas próprias falhas, seu ego, suas dúvidas, e a busca desesperada por redenção. ele fala de desejo, de luxúria, de orgulho – coisas que qualquer um de nós conhece. ao ler, senti como se estivesse observando alguém despir a própria alma, admitindo fraquezas que a maioria prefere esconder. a honestidade de agostinho é brutal e, ao mesmo tempo, profundamente humana. ele nos lembra que somos criaturas em conflito constante com nós mesmos e que, muitas vezes, a paz é o maior desafio. confissões é um livro que faz você olhar para dentro e admitir os próprios demônios, na esperança de encontrar alguma paz.

esses livros mudaram minha vida, mas não do jeito que você imagina. eles não me deram paz, nem felicidade, nem certezas. o que eles fizeram foi mais profundo, mais incômodo: me ensinaram a olhar o mundo e a mim mesmo com uma honestidade brutal, a aceitar que a vida é feita de caos e de escolhas impossíveis. e depois de passar por essas páginas, você nunca mais volta a ser o mesmo. porque esses livros não são consolo – são um chamado para acordar, para enxergar tudo o que é belo e podre na mesma medida, e para seguir em frente, mesmo que o caminho seja escuro e sem garantias.

eles me fizeram enxergar que toda a ideia de controle que a gente se agarra é ilusão, que o poder é sempre mais sombrio do que parece e que a busca pela verdade é um caminho solitário, sem atalhos, sem mapas.

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2024

nunca tome nada por garantido

não tomar nada como garantido não é só uma filosofia de vida; é um manual de sobrevivência. é entender que o mundo, com toda a sua falsa fachada de ordem, não passa de uma grande farsa onde tudo que você tem como certo – planos, carreiras, aquela ilusão patética de estabilidade – é só areia escorrendo pelos dedos enquanto você tenta fingir que está no controle. o universo, por sua vez, assiste a tudo isso de camarote, segurando o riso.

essa ideia de “segurança”? ah, a maior mentira que já te venderam. você acha mesmo que aquele emprego vai estar lá ano que vem? que sua saúde tá garantida só porque você faz yoga? que aquela pilha de economias é sua linha de defesa contra o caos? por favor. o mundo está apenas esperando o momento perfeito pra desmontar seu teatrinho de controle, como um diretor que adora ver atores improvisando em cena de pânico. o truque é que ele sabe exatamente quando puxar o tapete, e não há plano de contingência, planilha ou coach motivacional que salve.

então, qual é o caminho nesse circo de horrores? fácil: esqueça essa baboseira de chão firme. aceite que qualquer coisa que pareça estável é só uma pausa antes do próximo ato de insanidade. quando você entende que o chão pode – e vai – sumir a qualquer momento, até as coisas mais banais ganham um tom quase épico. aquele café aguado? um brinde ao acaso. aquela viagem sem perrengue? quase um feito histórico. porque quando você larga essa ideia patética de controle, a vida fica mais interessante. não “melhor,” mas com aquele toque perverso de um show onde o desastre é parte do espetáculo.

e então, quando o inevitável colapso finalmente acontecer – e acredite, ele vem, ele sempre vem – você não faz cara de espanto. você ri. um riso ácido, de quem já sabia desde o começo que tudo isso é uma grande pegadinha. você olha pro caos, dá de ombros e segue em frente, porque percebeu, lá no fundo, que a única coisa que o universo não pode tirar de você é o prazer de rir na cara do destino.

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2024

neutro

a neutralidade é a tática dos que querem sobreviver no teatro da vida sem nunca entrar no palco. é o cozinheiro que evita qualquer tempero que possa ofender o paladar delicado de quem “não tolera pimenta”. você já viu esse cara — ele é o chef que prepara um prato como se estivesse montando uma planilha de excel. faz o básico, o insosso, o insípido, com um sorriso frio de quem acha que o verdadeiro talento é nunca se comprometer. afinal, qual é o crime de cozinhar sem sal, não é? não ofende ninguém. mas, e aí, quem quer comer isso? quem quer uma vida que tenha o gosto de água morna?

a neutralidade é a especialidade dos que têm um medo mortal de realmente acrescentar algo ao prato. é o jornalista que nunca faz a pergunta que precisa ser feita, o escritor que nunca ousa uma linha de verdade. ele escreve como quem limpa uma janela: invisível, translúcido, sem marcas. é o tipo que vê o mundo como uma coleção de colheres de chá, cada uma medida milimetricamente pra não ofender nem o freguês mais exigente. e eles adoram essa pose de pureza moral, de quem está acima da vulgaridade das opiniões. mas, sabe o quê? na real, o neutro não tá acima de nada. ele tá embaixo, rastejando no meio-termo.

e é claro que ele não quer sujar as mãos — porque sujar as mãos é feio, exige assumir que o mundo não é um lugar simétrico e que, às vezes, sim, você tem que escolher um lado. o neutro odeia isso. ele quer um mundo onde todo debate seja um exercício educado de boas maneiras, onde o fogo e a sujeira da opinião forte fiquem à margem, longe do espetáculo. ele quer um universo higienizado, onde ele possa desfilar com seu prato cinza e sua cara de “sou mais evoluído que você”. mas, me diz, desde quando ser um medroso com diploma de educação faz de alguém relevante?

o neutro tá no fundo da cozinha, escondido no freezer onde nunca vai correr o risco de queimar a língua. ele acha que, assim, tá acima de toda essa “briga suja” que é viver com convicção. mas a verdade é que ele é tão parcial quanto qualquer um — só que com um verniz de “imparcialidade” pra esconder que tá morrendo de medo. então ele se veste de diplomata, de “eu só observo”. mas a neutralidade é só uma desculpa pro desespero de quem tem medo de que seu gosto próprio ofenda alguém. é o último refúgio do inseguro, do covarde e, sejamos sinceros, do insosso.

ser neutro não é virtude. é o caminho fácil dos que nunca vão ter seu nome lembrado, dos que nunca vão criar algo que faça alguém pensar, dos que sempre escolheram o caminho menos arriscado. é a especialidade do cozinheiro que acha que o prato perfeito é aquele que ninguém lembra de ter comido. é o manifesto do sem-gosto.

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2024

antissocial

ah, vamos encarar os fatos: chamam de “antissocial” quem tem o bom senso de não desperdiçar o tempo em rodinhas de conversa insípida e interações repletas de ego e carência disfarçada de amizade. vivemos numa era onde “socializar” virou um esporte coletivo de autoconfirmação, em que todo mundo corre atrás de validação como se fosse um novo tipo de narcótico. e lá está ele, aquele cara que simplesmente não quer comprar ingresso pra esse teatro absurdo – e aí, de repente, vira o esquisito, o solitário, o antissocial.

ele não odeia ninguém, mas definitivamente não tem paciência pra essa epidemia de superficialidade em que cada rosto sorridente esconde uma agenda própria. cada “como você está?” é apenas uma pausa antes de falarem de si mesmos; cada “saudade” é só uma jogada pra ver se ainda têm algum controle sobre o outro. e quando ele escuta um “vamos marcar?” – ah, ele sabe que isso vale tanto quanto uma nota de três dólares. porque ele já entendeu o jogo, e o jogo é assim: todos atuam, todos fingem, e todos estão cansados, mas ninguém para de correr.

então ele se retira, prefere o conforto de um bom livro, um copo de uísque, uma noite silenciosa. isso não é solidão; é o alívio de não ter que se jogar na lama do “networking social” onde todo mundo é amigo até a próxima crise de interesse. ele vê as conversas, as piadinhas ensaiadas, os elogios trocados como se fossem moeda corrente – e tudo isso pra quê? pra manter as aparências, pra alimentar o ciclo interminável da mesmice disfarçada de intimidade. enquanto os outros se desesperam pra acumular seguidores e construir suas identidades digitais como castelos de areia, ele observa com uma indiferença que beira o desprezo, sabendo que tudo aquilo não vale absolutamente nada.

ele não é antissocial – ele só não quer perder tempo com a farsa coletiva onde cada sorriso é uma armadilha e cada aperto de mão é um contrato não assinado. ele vê as trocas de favores mascaradas de amizade, o teatro das emoções enlatadas, o culto moderno à “conexão” que, no fim, não conecta nada. pra ele, o verdadeiro luxo é poder escolher a companhia – ou, muitas vezes, a falta dela. enquanto o mundo inteiro dança em círculos ao som do vazio, ele saboreia o silêncio, aquele silêncio que só quem desistiu de participar dessa comédia humana entende. porque, no fundo, ele sabe que, em um mundo onde todos estão desesperados por aprovação, a verdadeira subversão é não precisar de nada disso.

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2024

workaholics

os workaholics, essas criaturas infelizes que praticamente respiram planilhas, documentos e café queimado. já passei por essa fase também, já comprei o mito da produtividade incessante, a ilusão de que trabalhar até não sentir mais os dedos era um caminho glorioso para algum nirvana corporativo. o quão patético é perceber, agora, que estava apenas num ciclo idiota de autossabotagem disfarçado de “dedicação”.

imagine a cena: escritórios lotados de almas exaustas, fixadas na ideia de que correr até o colapso é algum tipo de medalha de honra. e por quê? para um chefe que nem lembra o nome delas? para um cliente que, no final das contas, só quer um trabalho entregue? é a mentira mais bem contada do século. parece até que a produtividade virou a nova religião, com o teclado como altar e o outlook como a bíblia sagrada. cada e-mail respondido depois da meia-noite é uma oração ao santo burnout, um sacrifício para o deus do esgotamento. e o pior? existe até um orgulho doentio nisso.

ah, sim, o workaholic se acha “diferente”. ele se acha especial porque vive atado ao smartphone, esperando o próximo “ping” da notificação como se fosse uma dose de adrenalina. é quase poético de tão trágico. vive com a fantasia de que é um guerreiro numa cruzada importante, carregando o mundo corporativo nas costas. mas a verdade é mais simples, quase triste: ele só está aprisionado num ciclo sem propósito, vendido na ideia de que o “trabalho duro” é a resposta para a felicidade. spoiler: não é.

e não me venham com essa de “é que eu amo o que faço.” ah, tá bom. amar o que faz não é trabalhar até o limite da exaustão. amar o que faz é saber a hora de parar, de dar um tempo para viver fora do escritório, do e-mail, do slack. amar o que faz é ter equilíbrio, não é virar um zumbi corporativo. mas o workaholic, esse mártir moderno, não quer saber disso. ele quer a sensação de “estar ocupado,” quer provar para o mundo – e para si mesmo – que ele é indispensável. é uma farsa. a verdade? o mundo seguiria em frente muito bem sem ele, obrigado.

hoje, vendo de fora, é até engraçado. vejo pessoas se desgastando, se desfazendo, transformando cada segundo do dia em “produtividade” como se estivessem no meio de uma missão heroica. mas na real, estão apenas cavando um buraco. e nem percebem que já estão a uns bons metros de profundidade. então, fica a dica: desce dessa corrida sem fim. o mundo é grande, e a vida é muito maior do que a próxima reunião no zoom.

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2024

clube secreto

ah, a paternidade. aquele clube exclusivo onde ninguém te entrega o verdadeiro manual — porque, na real, ninguém sabe o que tá fazendo e muito menos tem tempo pra escrever um. ser pai é quase uma daquelas seitas esotéricas: te prometem uma “iluminação”, uma “transformação de vida”, mas esquecem de mencionar o lado surreal, hilário e até surrealista dessa história.

ninguém te conta, por exemplo, que ser pai é redescobrir o que é puro caos. você entra numa rotina onde a palavra rotina é só uma piada interna entre você e o travesseiro. é tipo viver com um relógio biológico que desrespeita todos os fuso-horários conhecidos e inventados, onde dormir mais que três horas consecutivas vira um luxo equivalente a uma massagem tailandesa. mas — surpresa! — você se adapta. o corpo humano tem essa capacidade insana de funcionar no piloto automático, regado a café e ao som de choros noturnos que são o equivalente auditivo de um alarme de incêndio.

e o amor? ah, o amor não é o que aparece no comercial de margarina. é muito mais como uma febre passageira. às vezes, seu filho te acorda às 4 da manhã porque quer um copo d’água (ou porque resolveu que é o momento ideal para debater sobre dinossauros), e você, exausto, com cara de zumbi, faz aquilo porque, de alguma maneira que a ciência nunca vai explicar, você faria qualquer coisa por aquele ser humano miúdo. mas, ao mesmo tempo, você sente uma saudade absurda da época em que paz era um conceito real.

agora, o lado oculto e espetacular: ser pai é como ter um passe de backstage para o universo paralelo das crianças. essas criaturinhas vivem num mundo que é, em partes iguais, lógico e completamente nonsense. de repente, você está lá, assistindo seu filho levar uma conversa séria com um brinquedo, planejando uma viagem intergaláctica com um balde na cabeça. e você percebe que a mente dele é uma espécie de fábrica de sonhos, uma bolha de criatividade que não dá a mínima pra lógica do mundo adulto. se você der espaço e não interferir, essas pequenas mentes te convidam pra mergulhar nesse universo de puro absurdo e honestidade brutal. e é viciante.

e o humor? é outra coisa que ninguém te conta. crianças são, sem querer, os maiores comediantes vivos. o sarcasmo inocente, a lógica torta, as perguntas que te deixam entre o riso e o existencialismo — é uma dose diária de terapia humorística. tipo quando seu filho te pergunta por que você tem essa cara ou se um pato e um porco podem ser amigos de verdade. isso te obriga a enxergar o mundo com outros olhos, uma ótica onde o extraordinário e o banal se encontram num só.

ah, e se prepare para o ego em frangalhos. seus filhos serão os primeiros a apontar cada falha sua, com a sinceridade de um monge budista. e aí você aprende a rir de si mesmo, porque afinal, não tem outro jeito. quer se achar invencível? seja pai de uma criança que vai te derrubar sem esforço com um comentário sobre seu cabelo “esquisito” ou seu jeito “estranho” de comer.