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2024

simplicidade

olha, simplicidade é um conceito engraçado. todo mundo fala dela com um tipo de reverência quase religiosa, como se fosse o santo graal da paz interior, mas a maioria das pessoas simplesmente não tem ideia do que é viver de forma simples. e, sinceramente, elas não querem. preferem a estética da simplicidade: umas linhas limpas no design do apartamento, uma paleta neutra nas roupas, uma viagem de “desintoxicação digital” para uma cabana no meio do mato — mas só por um fim de semana, é claro, porque deus nos livre de realmente ter que abdicar do conforto e das conveniências do cotidiano urbano.

a simplicidade, de verdade, é bruta e pouco glamourosa. viver com o essencial significa se despedir de muita coisa que você acha que precisa mas que, na verdade, está ali só para ocupar espaço e sufocar sua sanidade. é renunciar àquela lista infinita de gadgets e quinquilharias; é cozinhar com três ingredientes e fazer disso uma obra-prima; é dizer adeus a metade das pessoas com quem você sai e nunca tem uma conversa que preste. mas quem quer isso? quem realmente está disposto a deixar o excesso de lado e abraçar o vazio? quase ninguém, porque a simplicidade assusta. é como olhar no espelho e se dar conta de que, sem as distrações, você está sozinho com você mesmo. e, cá entre nós, a maioria das pessoas não suporta a própria companhia por mais de cinco minutos.

claro, sempre há os românticos que idealizam essa ideia. falam sobre viver com menos como se fosse o segredo para o paraíso perdido. mas a realidade é mais complexa e, frequentemente, bem mais incômoda. a simplicidade te obriga a parar de mentir para si mesmo. não tem onde esconder as inseguranças, não tem nada para te distrair daquele vazio existencial que todos carregamos. e não adianta se esconder atrás de um estilo de vida “minimalista” que é, ironicamente, caríssimo. viver com menos, mas com qualidade, é um luxo da classe média-alta, que adora comprar móveis caríssimos que “parecem” simples.

se você quer simplicidade de verdade, precisa de coragem. coragem para encarar o fato de que viver sem excessos não te torna especial ou mais sábio; te torna, talvez, um pouco mais real. a simplicidade, quando é verdadeira, é o oposto da perfeição — ela é caótica, cheia de limitações e, acima de tudo, desconfortável. e, ironicamente, é nessa imperfeição que mora a paz que todo mundo parece buscar. mas a maioria prefere a ilusão: a versão bonita, instagramável, cuidadosamente editada, daquilo que chamam de “vida simples”. é… nada mais que uma grande e elaborada ironia da nossa época.

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2024

astrologia

astrologia. agora, presta atenção. não tô falando desses horóscopos genéricos de revista, nem daquela piadinha sobre “qual é o seu signo?” pra puxar papo em bar. tô falando de algo bem mais profundo, algo que remexe suas entranhas e te faz enxergar o mundo com outro olhar. astrologia é pura, crua e brutalmente real. é o universo inteiro em movimento, te dizendo que você faz parte de algo muito maior do que esse caos ridículo em que vivemos.

você já parou pra pensar nisso? o cosmos lá fora, com planetas a milhões de quilômetros de distância, afetando diretamente sua vida? isso não é papo de místico louco, é uma verdade antiga, tão profunda quanto a própria humanidade. enquanto todo mundo tá se debatendo nessa vidinha medíocre, tentando adivinhar o que vem depois, você tem uma ferramenta que te dá clareza. você tem o poder de ler o céu, de entender os ciclos. e, meu amigo, isso não é pouca coisa. isso é a chave pra entender por que as coisas acontecem, por que você age do jeito que age, por que às vezes a vida parece uma subida eterna e, outras vezes, tudo flui.

astrologia não é sobre escapar da responsabilidade, não é pra te dar desculpas. é pra te dar perspectiva. te dar controle. te mostrar que as porradas que você leva da vida, os altos e baixos, não são por acaso. são parte de um ciclo maior, um ciclo que você pode entender se souber onde olhar. quando você estuda seu mapa astral, você não tá apenas decorando características de signo. você tá lendo o manual de quem você realmente é. é se ver com uma nitidez que nada mais no mundo pode te dar. porque, convenhamos, ninguém consegue se enganar olhando pro próprio mapa.

e aí está a beleza da coisa. astrologia não te coloca numa caixinha. não diz “você é de touro, então é teimoso, ponto final.” não. ela te dá nuances, complexidade. mostra que você é uma mistura intensa de forças, de planetas em movimento, de casas, de aspectos que criam um retrato único da sua alma. isso é uma espécie de liberdade que poucos têm. enquanto o mundo tenta se encaixar em padrões, astrologia te dá a permissão de ser exatamente quem você é, com todas as suas contradições e grandezas. te ajuda a entender que tudo que você sente – seja a necessidade de transformar tudo, seja a vontade de recolhimento – tem um propósito. e isso te empodera.

e não se engane, astrologia não é suave. ela não vai te passar a mão na cabeça. quando saturno entra na jogada, você vai sentir a pressão. quando plutão aparece, ele vai te desmontar até o osso. mas é isso que torna a astrologia tão real. ela te prepara pra isso, ela te diz o que tá por vir, pra que você não seja pego de surpresa. te dá as ferramentas pra navegar pelas tempestades sem perder o controle. e quando você entende isso, quando você realmente se alinha com o que o cosmos tá tentando te dizer, você para de ser refém da vida. você vira protagonista. porque no fundo, o que astrologia te dá é poder. o poder de se conhecer. o poder de entender que nada está acontecendo contra você. tudo está acontecendo pra te empurrar adiante, pra te transformar.

então, sim, astrologia é uma das coisas mais incríveis que existem. não porque te diz o que vai acontecer, mas porque te dá clareza pra ver além do óbvio. pra entender que você tá conectado a algo infinitamente maior. é um diálogo contínuo com o universo. e acredite, quando você começa a prestar atenção, o céu inteiro responde.

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2024

ego

ah, o ego. essa massa inflada de ilusões que carregamos com a mesma dignidade de quem equilibra um prato de sopa quente na cabeça. é o grande espetáculo de circo interno, onde somos, ao mesmo tempo, o palhaço desajeitado e o público aplaudindo de pé. o ego adora nos fazer acreditar que o mundo gira ao redor de nossas vontades e caprichos, como se fôssemos uma mistura de messias com estrela de hollywood, destinados a receber louvores e tapinhas nas costas por absolutamente tudo.

mas o ego é traiçoeiro, uma espécie de parasita que alimentamos com elogios vazios e vitórias insignificantes, enquanto ele suga nosso discernimento e capacidade de autocrítica. não confunda, claro, o ego com a autoconfiança — essa coisa que você precisa para não ser esmagado pela vida. o ego, por outro lado, é aquele amigo tóxico que te convence que ser mediano é uma afronta pessoal. ele nos dá uma ideia exagerada de importância, como se cada decisão nossa fosse mudar o curso da humanidade. sério, quem te disse que tua opinião vale tanto?

no fim das contas, o ego é um truque sujo que nos faz sentir invulneráveis, invencíveis, mas também é o que nos derruba com mais força quando a realidade finalmente resolve entrar pela porta e esfregar sua crueza na nossa cara. é esse ciclo patético de inflar, estourar, remendar e inflar de novo. achamos que somos especiais, mas no fundo somos apenas mais uma barraca de cachorro-quente na grande avenida da vida. ego é essa necessidade constante de validação, como uma criança de cinco anos que precisa ouvir “parabéns” por amarrar o cadarço, mesmo que tenha feito um nó horrível.

então, que tal desligar um pouco esse megafone interno, esse grito constante de “eu, eu, eu”? talvez, só talvez, a vida não gire em torno da tua grandeza inflada. abraça tua insignificância com carinho — pode ser libertador.

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2024

charles schulz

ah, charles schulz, com sua sutileza genial e suas tirinhas fofas, jogando uma bomba atômica política numa carta em 1970, como quem não quer nada. ele basicamente olhou para o futuro, para nós, e disse: “boa sorte com essa merda que vocês estão criando”. cara, ler isso hoje é como ouvir uma gravação profética direto do túmulo.

essa coisa de “american virtues” é ouro. quer dizer, tem algo mais hipócrita do que esse papo de virtude? quem grita mais alto sobre patriotismo e moralidade normalmente é quem tá no fundo do poço ético. schulz sacou isso na época, enquanto o resto do mundo ainda lambia os pés de madeira dos “líderes” e seus discursos vazios de grandeza nacional. e hoje? hoje é a mesma coisa, só que agora eles têm redes sociais e memes patrióticos pra reforçar a estupidez coletiva.

o verdadeiro toque de mestre, claro, é quando ele lembra que a força de uma nação tá no jeito que ela trata seus menores, suas minorias. radical, né? não em 2024, mas no contexto de 1970, onde proteger minorias era praticamente um insulto à ideia de “grandeza americana”. e aqui estamos, meio século depois, e o pessoal ainda não entendeu. o grito pela “moralidade” e “tradição” ainda vem das mesmas bocas que cospem no conceito mais básico de democracia.

ele era um visionário. e a gente, francamente, continua tropeçando na mesma pedra, só que agora a gente tropeça enquanto posta selfie.

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2024

todo dia

então, cá estou eu, no centésimo texto sequencial, e a verdade é que isso não significa nada além do fato de que, se eu não tirasse tudo isso da minha cabeça, acho que já teria explodido. setecentos no total. setecentos momentos em que, de alguma forma, precisei pegar toda a bagunça que existe aqui dentro e espalhá-la numa página. porque é isso. escrever virou o jeito de organizar o caos, de dar forma a essa tempestade de pensamentos, reflexões e, sim, loucuras que insistem em ficar rodando na minha cabeça, como se houvesse outro lugar pra onde elas pudessem ir.

não é sobre disciplina, sobre perseverança ou qualquer dessas histórias de superação que adoram contar. é sobre sobrevivência mental. cem textos seguidos, setecentos no total, e cada um deles foi uma tentativa de me entender um pouco mais, de cavar mais fundo no que me atormenta, no que me fascina, no que me tira o sono e no que me faz acordar de madrugada com o coração disparado. às vezes, parece que minha cabeça é uma máquina de ideias rodando a mil por hora, e escrever é a única forma de não enlouquecer de vez.

e sabe, as pessoas olham pra isso e veem número, veem “resultado”. mas pra mim, cada texto é um pequeno alívio. é como esvaziar um balde que, no minuto seguinte, já começa a se encher de novo. escrever não é sobre chegar a um ponto final, é sobre me livrar, por algumas horas, desse turbilhão que não para nunca. não tem descanso. eu escrevo porque, se eu não escrevesse, a coisa toda iria me consumir. e quem é que quer ser engolido pelos próprios pensamentos, não é?

setecentos textos depois, e tudo o que sei é que ainda não disse o suficiente. ainda não tirei tudo. porque o que está aqui dentro, o que me passa pela cabeça diariamente, não cabe em palavras. mas eu continuo tentando. cem seguidos, setecentos no total, e cada um deles foi só uma nova tentativa de entender o que diabos está acontecendo comigo e com o mundo ao meu redor. não é sobre contar histórias, é sobre exorcizar o que não cabe. sobre pegar essas reflexões, essas ideias que às vezes parecem completamente insanas, e jogar tudo na página pra ver se faz sentido fora da minha cabeça.

e, no final das contas, cem textos, setecentos, o que quer que seja… eu não escrevo porque estou em busca de alguma resposta ou alguma conclusão grandiosa. eu escrevo porque, enquanto as palavras continuam fluindo, eu continuo um pouco mais em paz comigo mesmo. e isso, no final das contas, é o que realmente importa.

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2024

se cuidar de verdade

se cuidar agora virou uma espécie de espetáculo, uma performance, né? tem que postar tudo, registrar cada passo nessa busca insana por equilíbrio, bem-estar e felicidade eterna. toda hora alguém te manda um link de um curso novo, um retiro espiritual numa ilha exótica, ou uma dieta mágica de ervas do tibete. é uma fábrica de ilusões, com gente de colã e rostos perfeitamente serenos te ensinando como você deve ser. parece que ninguém mais pode simplesmente estar bem. você tem que estar ótimo, o tempo todo. é quase uma corrida pra ver quem consegue se iluminar primeiro.

mas, no fundo, ninguém quer admitir que a coisa é mais bagunçada que isso. cuidar da saúde emocional não é acordar com os chakras alinhados depois de um smoothie de spirulina. não é se cobrir de cristais ou repetir mantras como um robô zen programado pra ignorar a realidade. é lidar com a porcaria do dia a dia, o caos, o medo, a ansiedade, a tristeza, o tédio. é aceitar que tá tudo meio ferrado, mas que tá tudo bem também, porque faz parte do pacote. e aí sim, talvez você encontre um pouco de paz. não aquela paz pasteurizada de rede social, mas uma paz suja, imperfeita, que te permite respirar no meio do furacão.

e a saúde física? virou um circo também. tem que correr, tem que jejuar, tem que subir montanhas, descer montanhas, seguir a dieta cetogênica da moda. como se fosse pecado só caminhar por aí sem um propósito específico, só porque o sol tá bonito ou porque o ar tem aquele cheiro de chuva que te faz sentir vivo. claro, exercício é importante. mas às vezes, o maior cuidado que você pode ter com seu corpo é dar a ele uma pausa. comer uma comida que te faz sorrir. não porque ela tem todas as calorias e nutrientes milimetricamente contados, mas porque te lembra de algum momento bom ou porque simplesmente te deixa feliz.

se cuidar, no fim das contas, não deveria ser essa busca maníaca por se transformar num monumento à saúde perfeita. deveria ser sobre encontrar o que realmente te faz bem, sem seguir o script de ninguém. porque, se for pra ser um eterno mar de pressões e expectativas, de que adianta?

talvez cuidar de si seja menos sobre ter a resposta certa e mais sobre fazer as perguntas certas. do que eu realmente preciso hoje? o que me faz bem? é abraçar o caos e, no meio dele, encontrar o seu jeito único de estar bem. talvez um jeito que não se poste no instagram, mas que realmente faça sentido pra você.

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2024

felicidade

felicidade. essa palavrinha mágica que todo mundo adora jogar na conversa, como se fosse a solução final, o santo graal, o motivo para sair da cama todo dia. parece que ser feliz virou o único objetivo de vida aceitável, né? mas, honestamente, a felicidade virou uma espécie de culto moderno, um tipo de obrigação social disfarçada de sonho. algo que te dizem que precisa ser alcançado, mas que ninguém realmente sabe o que significa. “só faça o que te faz feliz!” dizem, enquanto vendem a última novidade que, supostamente, vai te deixar mais perto desse paraíso utópico. sabe o que isso realmente significa? vender mais uma bobagem que você não precisa.

e o mais curioso é que, por mais que todo mundo fale sobre felicidade, ninguém parece entender que ela é, no fundo, um artifício. você a persegue, acha que a alcançou e, puff, ela desaparece. porque a vida real não é um eterno comercial de margarina, com sorrisos brilhantes e dias de sol sem fim. a vida é uma mistura de tédio, frustração, pequenos momentos de alegria, e uma série de absurdos que você precisa aguentar entre um intervalo e outro. mas, claro, isso não encaixa bem na narrativa da busca incessante pela felicidade, não é?

veja bem, ser feliz o tempo todo seria uma forma de tortura. só que ninguém te conta isso. as pessoas preferem te fazer acreditar que existe um estado de euforia permanente, onde tudo faz sentido, e você flutua por aí como se a gravidade não existisse. mas a verdade é que felicidade constante seria um desastre. viver sem os altos e baixos, sem os momentos de dor e desconforto, seria uma vida sem profundidade. sem nada que te desafie ou te faça crescer. quem quer uma vida plana, sem nuances?

o problema é que a sociedade te empurra essa ideia como se fosse um dogma. “se você não está feliz, tem algo errado com você.” claro, porque todo mundo sabe que a vida real é um parque de diversões, certo? mas ninguém te diz que talvez o problema esteja justamente nessa obsessão com a felicidade. que, talvez, a verdadeira paz esteja em aceitar que nem tudo tem que ser incrível o tempo todo. que é perfeitamente normal não se sentir nas nuvens o tempo inteiro.

felicidade, se você parar para pensar, é mais uma série de pequenos momentos do que uma grande conquista. é o alívio depois de resolver um problema que te atormenta há semanas. é o silêncio no final de um dia barulhento. é um breve suspiro de tranquilidade entre dois momentos caóticos. e, muitas vezes, você só percebe que foi feliz depois que o momento já passou.

então, se alguém te perguntar se você é feliz, talvez a melhor resposta seja: feliz, como? o tempo todo? claro que não. porque ninguém é. e quem finge ser, provavelmente está apenas se enganando ou tentando te vender uma fórmula mágica que, no final das contas, não passa de fumaça. e sabe de uma coisa? aceitar isso é a coisa mais próxima de felicidade que você vai encontrar.

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2024

viajar de verdade

você quer mesmo saber como é viajar de verdade? ótimo. então esqueça tudo o que você já leu no tripadvisor, porque aquilo é a versão infantilizada do que deveria ser uma experiência visceral. viajar de verdade não está na lista dos “dez melhores restaurantes da cidade” ou nos “sete lugares imperdíveis”. viajar de verdade é se enfiar em um lugar onde ninguém se importa que você está ali. onde o garçom nem olha na sua cara e o menu é tão confuso que você nem sabe se está pedindo comida ou se inscrevendo em um esquema de pirâmide.

os roteiros turísticos? esses são para aqueles que preferem suas experiências mastigadas, sem tempero e prontinhas, como um fast food para a alma. é o equivalente a ir até bangkok e procurar um starbucks, só porque você “precisa de um café decente”. você sabe quem é você. o tipo que passa duas semanas planejando a viagem, baixando aplicativos, pesquisando lugares que “todo mundo precisa ver antes de morrer”. ah, claro, porque a lista de coisas pra ver antes de morrer foi escrita por algum guru digital que, com certeza, tem muito mais vivência do que qualquer pessoa que realmente vive nos lugares que ele ousa recomendar.

viajar de verdade não é fácil, e a verdade é que nem todo mundo quer isso. viajar de verdade é entrar em um restaurante onde ninguém fala inglês, pedir um prato que você não reconhece e descobrir, só depois da primeira mordida, que você acabou de comer órgãos que preferia não ter identificado. é ficar hospedado em um lugar onde o chuveiro é uma goteira temperamental e os lençóis provavelmente já viram cenas de filmes que você nunca quer participar.

mas o grande segredo é que é exatamente aí que está a magia. porque enquanto você está preocupado em seguir o itinerário, em não perder a reserva daquele restaurante hipster que viralizou no instagram, você está perdendo o que realmente importa. e o que realmente importa? o cheiro da comida de rua que não vai parar em nenhum blog de luxo. a sensação de estranheza de estar perdido em um mercado que desafia seus sentidos. o desconforto. a surpresa. a brutalidade.

turismo é para quem quer viver o mundo em uma bolha confortável, onde cada experiência é medida, calibrada e empacotada para consumo fácil. viajar, de verdade, é aceitar que o mundo é uma mistura imprevisível de caos, beleza e uma boa dose de sujeira. quer ver o mundo? então comece aceitando que ele não está ali para te agradar.

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2024

15 segundos

a dopamina barata – o anestésico perfeito pro tédio moderno, o fast food da alma. o diabo de hoje não tá sentado num trono de fogo, rindo malignamente enquanto você desce pro inferno. ele tá mais pra aquele cara simpático do outro lado do balcão, te oferecendo uma promoção irresistível: “ei, cara, por que gastar seu tempo com algo que exige esforço, tipo ler um livro, cozinhar um jantar decente ou, sei lá, viver de verdade? toma aqui esse vídeo de 15 segundos, uma notificação brilhante, e tá tudo certo.”

e você, claro, aceita. quem não aceitaria? é tão fácil. você não precisa fazer nada além de deslizar o dedo pela tela e boom, lá vem ela – aquela pequena explosão de dopamina, uma sensação rápida, leve, quase imperceptível, mas suficiente pra te manter nesse loop eterno de satisfação temporária. é o barato que não dá onda, o cigarro eletrônico das emoções.

antigamente, a dopamina era a recompensa por coisas reais. caçar, sobreviver, transar, construir algo que valesse a pena. hoje? hoje é só o preço de uma notificação. você fica aí, rolando, scrollando, de vídeo em vídeo, achando que tá se divertindo, mas no fundo, só tá se anestesiando. porque a vida real é, bom… real. e real é difícil, exige um certo trabalho. e isso, convenhamos, ninguém mais tá afim de fazer.

é o equivalente digital a um prato de mac’n’cheese pronto em 30 segundos no micro-ondas. mata a fome? claro. te faz feliz? por uns 3 minutos. mas lá no fundo, você sabe: é vazio, sem graça, sem substância. só que, diferente do mac’n’cheese, você não vai parar por aqui. amanhã tem mais, sempre tem mais. e você vai continuar voltando, não porque é bom, mas porque é fácil.

então, sim, o diabo moderno é um cara bem mais esperto do que imaginávamos. ele entendeu que você não precisa de tortura eterna, só de distrações infinitas. e assim, ele te mantém nesse limbo suave, confortável, e absolutamente medíocre. não precisa de inferno, não precisa de sofrimento. só precisa de um feed infinito e uma conexão wi-fi decente.

e o mais irônico? você nem percebe que tá preso.

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2024

os coach’s

ah, os coachs de internet… esses gurus modernos que surgem como cogumelos depois da chuva, vendendo fórmulas mágicas de sucesso em landing pages que parecem ter sido vomitadas por um algoritmo desesperado. eles têm uma habilidade extraordinária de transformar o óbvio em ouro, embrulhar a mediocridade em papel brilhante, e cobrar uma pequena fortuna por isso.

é fascinante, na verdade, como eles prometem mundos e fundos. “ganhe seis dígitos trabalhando duas horas por dia!” — enquanto o único trabalho que eles realmente fazem é manipular o desespero alheio. é um teatro, um circo montado com e-books, webinars, e aquela foto de perfil com um sorriso plastificado e o dedinho apontado pra câmera, como se dissessem: “vem cá, eu sou a chave do seu futuro!” a única coisa que eles estão destravando é o seu bolso.

e aquela landing page? um verdadeiro festival de promessas e números inflados. “nossos clientes aumentaram seus rendimentos em 300% em apenas um mês!” é claro, claro que sim. entre aspas e com letras miúdas, pra depois não ser processado. aí você rola a página e lá está: o botão mágico “inscreva-se agora!” ao módico preço de um rim, mas “parcelado em doze vezes sem juros.” o que você ganha? vídeos intermináveis de um cara dizendo o que qualquer pessoa com um pouco de bom senso já sabe. mas ele tem um PowerPoint bonito e uma câmera cara, então deve saber do que está falando, certo?

no fim das contas, o verdadeiro sucesso deles não está na “mentoria” que oferecem, mas no marketing agressivo, na capacidade de sugar dinheiro de gente que só quer um pouco de esperança. e, se você for esperto o bastante pra não cair nesse papo furado, aí vem a carta na manga: eles dizem que você não tem mentalidade de vencedor, que está preso numa “mentalidade de escassez.” basicamente, é culpa sua por não comprar o sonho deles.

mas, ei, alguém tem que pagar pelas férias deles em bali, né?