
olha, simplicidade é um conceito engraçado. todo mundo fala dela com um tipo de reverência quase religiosa, como se fosse o santo graal da paz interior, mas a maioria das pessoas simplesmente não tem ideia do que é viver de forma simples. e, sinceramente, elas não querem. preferem a estética da simplicidade: umas linhas limpas no design do apartamento, uma paleta neutra nas roupas, uma viagem de “desintoxicação digital” para uma cabana no meio do mato — mas só por um fim de semana, é claro, porque deus nos livre de realmente ter que abdicar do conforto e das conveniências do cotidiano urbano.
a simplicidade, de verdade, é bruta e pouco glamourosa. viver com o essencial significa se despedir de muita coisa que você acha que precisa mas que, na verdade, está ali só para ocupar espaço e sufocar sua sanidade. é renunciar àquela lista infinita de gadgets e quinquilharias; é cozinhar com três ingredientes e fazer disso uma obra-prima; é dizer adeus a metade das pessoas com quem você sai e nunca tem uma conversa que preste. mas quem quer isso? quem realmente está disposto a deixar o excesso de lado e abraçar o vazio? quase ninguém, porque a simplicidade assusta. é como olhar no espelho e se dar conta de que, sem as distrações, você está sozinho com você mesmo. e, cá entre nós, a maioria das pessoas não suporta a própria companhia por mais de cinco minutos.
claro, sempre há os românticos que idealizam essa ideia. falam sobre viver com menos como se fosse o segredo para o paraíso perdido. mas a realidade é mais complexa e, frequentemente, bem mais incômoda. a simplicidade te obriga a parar de mentir para si mesmo. não tem onde esconder as inseguranças, não tem nada para te distrair daquele vazio existencial que todos carregamos. e não adianta se esconder atrás de um estilo de vida “minimalista” que é, ironicamente, caríssimo. viver com menos, mas com qualidade, é um luxo da classe média-alta, que adora comprar móveis caríssimos que “parecem” simples.
se você quer simplicidade de verdade, precisa de coragem. coragem para encarar o fato de que viver sem excessos não te torna especial ou mais sábio; te torna, talvez, um pouco mais real. a simplicidade, quando é verdadeira, é o oposto da perfeição — ela é caótica, cheia de limitações e, acima de tudo, desconfortável. e, ironicamente, é nessa imperfeição que mora a paz que todo mundo parece buscar. mas a maioria prefere a ilusão: a versão bonita, instagramável, cuidadosamente editada, daquilo que chamam de “vida simples”. é… nada mais que uma grande e elaborada ironia da nossa época.