
ah, essas listas. sempre as listas. a vida é curta, faça isso, faça aquilo, como se a solução para toda a complexidade de existir estivesse resumida a pequenos gestos de uma página do pinterest. nada contra. de verdade. só que, sabe… eu acho que a gente merece um pouco mais de profundidade do que “use um chapéu” como fórmula mágica para aproveitar melhor o tempo que resta.
“pule em vez de andar”. sério? ok, vamos ser honestos. se você quiser pular pela rua, como uma criança que acabou de ganhar uma bola de sorvete, quem sou eu para dizer que está errado? mas, cá entre nós, talvez a mensagem aqui seja sobre se permitir quebrar a rotina. só que ninguém te conta que, às vezes, a rotina não é o vilão. a verdadeira coragem está em encarar a vida como ela é, não em se distrair com esses pequenos saltos.
“coma algo diferente”. bem, vou admitir que pode ter seu valor. mas “algo diferente” não vai, por si só, redefinir sua existência. quer realmente experimentar algo novo? abra espaço para uma nova perspectiva, para uma forma diferente de encarar o mundo. porque, no fim do dia, comer um prato tailandês que você nunca provou pode até ser interessante, mas a verdadeira aventura está em deixar seus preconceitos de lado, não em trocar de restaurante.
“pegue um caminho errado”. essa é boa. claro, há valor em se perder, em explorar o desconhecido, mas vamos ser realistas: não é todo dia que você pode largar tudo e simplesmente vagar por aí esperando que o universo lhe mostre algo revelador. mas, quem sabe, da próxima vez que a vida te empurrar por um caminho que não planejou, ao invés de lutar contra, você possa simplesmente seguir o fluxo. porque o verdadeiro “caminho errado” é achar que há apenas um jeito certo de viver.
“suba em uma árvore”. bom, a menos que você seja uma pessoa realmente inclinada à natureza, isso parece mais uma receita para um tornozelo torcido do que para um momento transcendental. mas, olha, se escalar uma árvore é o que falta para te fazer sentir vivo, vá em frente. só não espere que isso resolva a crise existencial que você anda empurrando com a barriga. a árvore, coitada, não vai te oferecer respostas.
“encontre pessoas que você normalmente não sairia”. ok, aqui eu vou ter que ceder um pouco. porque sim, sair da bolha é necessário. mas, de novo, não é só sobre encontrar alguém “diferente”. é sobre realmente ouvir o outro, com abertura e curiosidade genuína. e, honestamente, isso dá mais trabalho do que parece. se fosse fácil, todo mundo já estaria fazendo, ao invés de só sair para tomar um café com alguém que vai passar mais tempo falando do que escutando.
e por último, “assista ao pôr do sol”. romântico, né? e totalmente válido. mas, me diga, quantos pores do sol você precisa ver antes de perceber que o verdadeiro pôr do sol acontece dentro de você? a vida não se resume a momentos bonitos que você captura com o celular para postar no instagram. a beleza real está em viver os momentos, na consciência de que, sim, o tempo está passando – e isso é aterrorizante e lindo ao mesmo tempo.
no fim, essas listas têm uma certa doçura, eu admito. só que a vida não é doce o tempo todo. às vezes, ela é amarga, áspera, confusa, frustrante. e isso não vai mudar se você sair de casa de chapéu ou decidir pintar um quadro num sábado à tarde. a verdadeira chave não está nas atividades, mas na forma como você se joga na experiência. viver intensamente não é só sobre fazer mais coisas, mas sobre se permitir sentir mais, errar mais, se abrir mais.
então, vai lá, comece a lista. pule, coma algo novo, ligue para um velho amigo. mas faça tudo isso com a consciência de que a vida não vai se transformar magicamente num filme indie com trilha sonora de fundo. e talvez seja justamente isso o mais bonito: que no meio de tanta simplicidade, entre uma árvore e um pôr do sol, a vida vai acontecendo, cheia de imperfeições – e é exatamente assim que ela deve ser.