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2024

times square: a maior pegadinha da história da humanidade

times square é o pior lugar do mundo. uma aberração arquitetônica onde a cidade mais interessante do planeta se transforma em um parque temático de mau gosto para turistas desavisados. tudo ali é um golpe. tudo ali custa o dobro do que deveria. tudo ali brilha o suficiente para te cegar, mas nada tem alma. é um espetáculo de consumo frenético, onde multidões se arrastam como zumbis, esbarrando em você sem nem perceber, enquanto perdem tempo e dinheiro em experiências vazias que parecem mágicas no momento, mas que depois deixam apenas um gosto amargo na boca.

se por algum infortúnio eu precisar estar perto dessa calamidade urbana, prefiro andar até a 115th street, sentar num banco de praça qualquer e observar um grupo de velhos jogando dominó com expressões de quem já viu tudo nessa vida. prefiro comprar um café numa bodega onde o dono me trata com o mesmo desdém que eu trato times square. prefiro debater sobre o preço da gasolina com um taxista mal-humorado que se recusa a usar gps. qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, é melhor do que pisar naquele circo de neon e desespero.

agora, senta e se prepara, porque eu vou te dar 30 motivos detalhados para nunca mais desperdiçar um segundo sequer naquele zoológico de idiotas.

1. a bandeira de neon de nova york: o símbolo supremo da confusão coletiva

você já viu. eu já vi. todo mundo já viu. aquela maldita bandeira de neon, gigantesca, piscando como se tivesse algo importante a dizer. e, no entanto, ninguém sabe o que ela significa. turistas param em frente, tiram fotos, fazem poses dramáticas, postam no instagram com legendas emocionadas como se estivessem diante da estátua da liberdade. só tem um detalhe… ninguém nunca se perguntou por quê. é só uma bandeira de neon. não marca um momento histórico, não tem um propósito, não significa absolutamente nada. mas, como times square funciona à base de distrações brilhantes, as pessoas continuam registrando essa imagem como se fosse o auge da viagem delas.

2. os mascotes falsificados: um elenco de terror em plena luz do dia

se um dia um estúdio de filmes B quiser rodar um terror psicológico sem gastar um centavo com figurino, basta montar as câmeras em times square. temos um elmo que parece ter sido resgatado de um incêndio, um homem-aranha com uma barriga de quem trocou os arranha-céus por uma dieta baseada em fast food e um minion cujo olhar vazio sugere que ele já passou por traumas que não podem ser descritos em palavras.

esses “personagens” não estão ali por amor à cultura pop. estão ali para se aproximar de você, te abraçar sem permissão e, no instante em que seu corpo encostar naquela fantasia suja, pronto, agora você deve pagar. tente recusar e observe o rosto sorridente se transformar em uma expressão de puro ódio enquanto eles te perseguem com a cobrança.

3. os caras do CD: um estudo de manipulação psicológica

esses são os mestres do golpe. eles chegam com uma abordagem amistosa, fingindo serem rappers em ascensão. “aí, mano, toma aqui, meu CD, de presente!” e você, sendo uma pessoa educada, pega o CD sem pensar. e é nesse momento que você se fode. porque agora, segundo eles, você tem que pagar. tente devolver e veja um show de indignação que poderia render um oscar. “sério, cara? tu vai desrespeitar meu trampo assim?” tente ignorar e veja eles te seguindo, insistindo, repetindo que tudo que eles querem é apoio. e se você realmente pagar, parabéns! você acaba de comprar um CD virgem que não tem absolutamente nada gravado.

4. os caras da pulseirinha: o assalto sem faca

eles aparecem sorrindo, com uma abordagem tão amigável que parece que você reencontrou um primo distante. sem pedir permissão, amarram uma pulseirinha colorida no seu pulso e dizem algo genérico como “agora você tá abençoado, irmão”. nesse instante, você já caiu no golpe. porque agora vem a cobrança. e se você tentar recusar, eles mudam de tom. o sorriso desaparece, a expressão fica séria. “pô, mano, a gente tá na luta, só uma ajuda.” pronto. você acabou de pagar 10 dólares por um pedaço de barbante amarrado no seu braço.

5. os caras da plataforma giratória: a humilhação em 360°

esse golpe é novo, mas já está no topo da lista de humilhações públicas. um grupo de rapazes monta uma pequena plataforma giratória no meio da rua. eles chamam você, te convencem a subir, ligam uma música ensurdecedora (geralmente empire state of mind) e começam a filmar. você, iludido, faz poses, gira como um frango de padaria, acha que está arrasando. e então, vem a cobrança… um valor absurdo para receber um vídeo que, na verdade, você nunca mais vai assistir. tente recusar e eles começam a gritar e agir como se você fosse o ser humano mais mesquinho do mundo.

6. a loja da m&m’s: um templo para o açúcar

três andares. três malditos andares dedicados exclusivamente a vender chocolates que você encontra em qualquer farmácia da esquina. só que aqui, em vez de pagar um dólar, você paga 20 por um saquinho de cores personalizadas. e, claro, como times square não seria times square sem uma fila completamente desnecessária, há um “muro de m&m’s” onde turistas gastam horas escolhendo cores específicas como se estivessem tomando uma decisão que mudaria suas vidas.

7. a loja da hershey’s: a experiência menos especial da sua vida

se a loja da m&m’s é um culto ao consumo sem sentido, a loja da hershey’s é a sua versão genérica e deprimente. as mesmas barras de chocolate que você pode comprar em qualquer loja de conveniência, só que aqui vendidas em embalagens um pouco maiores para justificar o preço absurdo.

8. a disney store: o campo de batalha das famílias desesperadas

o lugar onde crianças perdem a cabeça, pais perdem dinheiro e funcionários perdem a paciência. imagine um grito infantil ecoando incessantemente enquanto uma mãe tenta, em vão, convencer seu filho de que ele já tem brinquedos demais. agora imagine isso em loop infinito. essa é a disney store de times square.

9. a loja da levi’s: onde jeans comuns viram relíquias sagradas

se você já comprou uma calça jeans na vida, sabe que não há absolutamente nada de especial em uma levi’s. é um jeans honesto, funcional, sem surpresas. e, no entanto, na times square, há uma loja da levi’s que opera como se estivesse vendendo arte renascentista.

você entra achando que vai encontrar promoções. mero engano.

um vendedor aparece com um entusiasmo forçado digno de um culto religioso. “essa aqui é a nossa linha especial new york edition, feita com algodão premium e um corte exclusivo inspirado na vibe da cidade!” você pega a calça e olha para ela. é uma calça jeans normal. nada de especial, nada de edição limitada, apenas um pedaço de tecido azul costurado exatamente da mesma forma que todas as outras levi’s do planeta.

o preço? 180 dólares.

você pisca, confuso. “Mas essa mesma calça custa 60 dólares no site da levi’s.”

o vendedor sorri, imune à lógica. “sim, mas essa é a experiência de comprar uma levi’s em times square!”

e é aí que você percebe o golpe: eles estão te vendendo a experiência de ser roubado.

10. o hard rock café: um tributo à mediocridade gastronômica

quer pagar 50 dólares por um hambúrguer enquanto olha para uma jaqueta usada por um músico decadente nos anos 80? então você encontrou seu lugar.

11. o bubba gump shrimp co.: pagando caro para reviver um filme de 1994

a experiência de comer no bubba gump shrimp co. é a definição de humilhação gastronômica. um restaurante temático baseado em forrest gump, que aparentemente ainda tem força suficiente para enganar turistas ingênuos.

tudo ali é uma grande piada interna para quem acha que nostalgia justifica pagar 30 dólares por um prato de camarão congelado. os garçons são obrigados a repetir frases do filme como se fossem robôs programados para reencenar forrest gump todos os dias, para sempre. eles fazem quiz sobre o filme. quiz. sobre um filme de trinta anos atrás. e você tem que fingir que está gostando enquanto espera um prato que demorou uma eternidade para chegar e que, no final, tem gosto de traição e margarina velha.

12. os carrinhos de hot dog: uma obra-prima da trapaça nova-iorquina

o carrinho de hot dog de times square é um dos maiores experimentos de roubo ao ar livre já criados. é simples… um menu que diz “hot dog = $2”. você, cansado e com fome, pensa “finalmente, algo barato por aqui.” você pede, pega o cachorro-quente e, na hora de pagar, o vendedor te olha nos olhos e diz… “12 dólares”.

e agora? você já deu a primeira mordida. você já segurou o hot dog. a fila atrás de você cresce. turistas te olham. você não quer discutir por um hot dog. então, com um suspiro de derrota, você paga. e pronto… você acaba de ser oficialmente batizado como trouxa em nova york.

13. as filas para tirar foto com anúncios de led

há algo de perversamente fascinante em assistir um grupo de turistas esperar pacientemente na fila para tirar uma foto com um outdoor digital. sim, isso acontece. pessoas gastam tempo da viagem para registrar a imagem de uma propaganda da coca-cola piscando no meio do caos. como se, sem essa foto, o passeio não estivesse completo.

“olha, tirei uma foto com esse anúncio de uma marca de automóveis que nem vende carros no meu país!”

sim. parabéns. uma experiência inesquecível.

14. os caras que vendem ingressos falsos da broadway

se existe uma categoria de vigaristas que merece reconhecimento por sua criatividade, são os golpistas dos ingressos falsos. eles andam pelas calçadas com um crachá improvisado e um sorriso confiável. “quer ver o rei leão por metade do preço?”, perguntam. claro que você quer. quem não quer um bom desconto?

só que tem um problema. o ingresso é uma ilusão. um pedaço de papel que não vale nada. e quando você chega no teatro, descobre que, na verdade, acabou de gastar 80 dólares por um marcador de livro inútil.

15. a tkts booth: a fila da resignação coletiva

essa é uma cena clássica de times square… centenas de turistas esperando sob o sol, na chuva ou na neve, em uma fila que se arrasta como um funeral, tudo para conseguir um desconto meia-boca em ingressos de teatro.

as pessoas esperam horas. horas. para no final conseguirem um ingresso para um musical que não queriam ver, mas que compraram porque já estavam ali mesmo.

“é chicago ou mamma mia?”
“eu não queria ver nenhum dos dois.”
“mas a gente ficou duas horas na fila…”
“tá, compra logo.”

e assim nasce mais uma experiência teatral motivada pela pressão social e não pelo interesse real.

16. os entregadores de panfletos de stand-up comedy

esses caras são incansáveis. estão em todas as esquinas, tentando enfiar um panfleto na sua mão. “show de comédia hoje à noite! os melhores comediantes de nova york!”

spoiler… não são os melhores comediantes de nova york.

se você cair na cilada, vai acabar em um porão escuro, sentado em uma cadeira desconfortável, ouvindo piadas ruins de caras que parecem estar prestes a desistir da carreira. e o pior? há um consumo mínimo obrigatório. sim. você é obrigado a comprar ao menos duas bebidas, que custam o mesmo que um rim no mercado negro.

17. os turistas que caminham como se nunca tivessem usado as pernas

andar em times square é um jogo de paciência. as ruas estão sempre lotadas de pessoas que aparentemente nunca caminharam antes na vida.

há o turista-zebra, que para abruptamente no meio da calçada, fazendo com que você quase bata nele. o turista-baleia, que se move em câmera lenta, arrastando um grupo inteiro atrás de si. e o pior de todos… o turista-barreira, um grupo de cinco ou seis pessoas que caminham lado a lado, bloqueando completamente a passagem, como se fossem o elenco de um comercial de margarina.

18. os influencers dançando no meio do trânsito

é inevitável. em algum momento, você verá um influenciador tentando gravar um vídeo no meio da rua, fazendo uma dancinha ridícula para o tiktok enquanto um táxi amarelo avança lentamente, pronto para acabar com o sonho digital dessa pessoa.

e você, parado na calçada, segurando sua frustração, pensa… “será que ele merece ser atropelado?”, ok exagerei mas não irei apagar.

19. o cheiro característico de times square: lixo quente e pretzel queimado

se houvesse um perfume que capturasse a essência de times square, ele seria uma mistura de suor de turista, esgoto e aquele cheiro vagamente doce de pretzel queimado vindo de algum lugar indefinido.

não importa a estação do ano. esse cheiro está sempre lá. impregnado no asfalto, flutuando no ar como uma maldição invisível.

20. os ônibus turísticos vermelhos: uma aula de desperdício de dinheiro

esses ônibus circulam por times square o dia inteiro, cheios de turistas felizes sentados no andar de cima, ouvindo um guia entediado repetir fatos históricos meia-boca sobre a cidade.

só tem um detalhe… o trânsito não anda.

então, essencialmente, você paga 50 dólares para ficar preso no mesmo lugar, olhando para os mesmos anúncios de neon por 40 minutos enquanto um guia diz algo genérico tipo “ali está a broadway, onde os grandes shows acontecem!”.

21. a loja de souvenirs mais cara da sua vida

se você entrar em qualquer loja de lembrancinhas de times square, verá um fenômeno curioso, itens de qualidade questionável sendo vendidos por preços absolutamente criminosos.

uma camiseta “i ❤️ ny” que custa 5 dólares em qualquer outro bairro? aqui, 35 dólares.
uma mini estátua da liberdade feita de plástico vagabundo? 20 dólares.
um chaveiro que diz “new york city” e que provavelmente foi fabricado na china por centavos? 15 dólares.

e as pessoas compram. porque times square tem essa capacidade de fazer você acreditar que precisa gastar dinheiro com coisas que você nunca vai usar.

22. os caras dos retratos que não se parecem com você

esses artistas de rua têm um dom único, transformar qualquer rosto humano em um cruzamento bizarro entre um personagem de desenho animado e um suspeito de crime procurado.

você para, animado, pensando… por que não? afinal, é uma lembrança personalizada de nova york. você senta, fica imóvel enquanto o “artista” desenha com a seriedade de um cirurgião, e quando ele finalmente vira o papel para te mostrar o resultado…

você vê um ser humano genérico, com olhos esbugalhados, queixo pontudo e uma expressão completamente aleatória. nada ali se parece com você. nada.

e aí vem a melhor parte… o preço. “são 50 dólares.”

você tenta argumentar. “50 dólares? Mas você nem desenhou meu nariz direito.”

mas já era. você agora está diante de um “artista” ultrajado que começa a gritar sobre respeito ao seu trabalho. e, claro, para evitar a humilhação pública, você paga. e sai dali segurando um desenho que vai direto para o fundo da mala e depois para o lixo.

23. a loja da pele: uma homenagem sem sentido ao rei do futebol

há muitos lugares no mundo onde faz sentido abrir uma loja temática do pelé. times square não é um deles.

e, no entanto, ali está ela. firme, forte, completamente deslocada. uma loja onde você pode pagar centenas de dólares por chuteiras e camisetas autografadas.

quantos turistas alemães, canadenses ou japoneses realmente vêm a nova york pensando… preciso urgentemente comprar um tênis do pelé? absolutamente nenhum. mas a loja continua lá. porque, em times square, se uma ideia parece absurda e sem sentido, alguém vai tentar vendê-la.

24. os turistas que acreditam que jaywalking é crime

nova york é uma cidade onde atravessar fora da faixa não é apenas normal, é essencial. se você quer sobreviver aqui, precisa andar rápido, ser ágil, se jogar na rua entre os carros quando vê uma brecha.

mas em times square, os turistas congelam na calçada, esperando religiosamente o sinal de pedestres abrir, mesmo que não tenha carro nenhum vindo. eles ficam lá, parados, como se fossem explodir caso desrespeitassem a regra.

pior ainda… quando o sinal abre, eles andam lentamente, olhando para os lados como se estivessem atravessando um campo minado. enquanto isso, os nova-iorquinos já atravessaram duas ruas e pediram um café no starbucks.

25. o preço de um café ruim em times square

se você acha que 12 dólares por um hot dog é um crime, espere até pedir um café na times square.

não estamos falando de um café artesanal, moído na hora, servido por um barista que faz desenhos sofisticados na espuma do seu latte. não. estamos falando de um copo de café comum, ralo, que tem gosto de água quente com um leve toque de depressão.

e o preço? 6 dólares.

e se você pedir um cappuccino? parabéns, agora estamos na faixa dos 9 dólares. um espresso? mínimo de 5. e claro, se você cometer o erro de pedir leite de amêndoa, eles vão te cobrar um extra porque, aparentemente, leite alternativo é um luxo digno da realeza.

26. os pedestres que decidem parar e abrir um mapa no meio da calçada

não importa o quão avançada esteja a tecnologia, sempre haverá turistas em times square que param no meio da rua, abrem um mapa de papel do tamanho de um lençol e começam a girá-lo desesperadamente, tentando entender onde estão.

esse movimento provoca um fenômeno fascinante: o efeito dominó do ódio.

um nova-iorquino esbarra neles e pragueja.
outro desvia abruptamente e quase derruba alguém. um entregador de comida bufa enquanto passa por cima da calçada para escapar.

e o turista ali, impassível, analisando o mapa como se estivesse tentando decifrar os hieróglifos de uma tumba egípcia.

27. as lojas de eletrônicos que são um golpe descarado

essas lojas são fáceis de reconhecer… vitrines cheias de celulares, fones de ouvido e câmeras, sempre anunciando “PROMOÇÃO! 90% DE DESCONTO!”

parece bom demais para ser verdade? é porque é um golpe.

o truque é simples. você entra, escolhe um item com preço aparentemente baixo, vai até o caixa e… surpresa! o desconto só vale se você comprar uma garantia extra ou um acessório superfaturado.

se recusar, eles mudam o preço na hora. e quando você percebe, já pagou três vezes o valor normal por um carregador que não funciona.

28. o preço criminoso da água engarrafada

andar em times square pode dar sede. e aí você vê um vendedor ambulante, pensa “vou só pegar uma garrafinha d’água”.

aí vem o assalto… 5 dólares.

cinco dólares por água. por algo que literalmente cai do céu.

mas você está suado, cansado, desesperado. você paga. e quando dá o primeiro gole, percebe que a garrafa estava no sol o dia inteiro e a água está quente o suficiente para fazer chá.

29. os músicos que tocam a mesma maldita música sempre

há músicos incríveis espalhados por nova york. nenhum deles está em times square.

o que temos ali são artistas que tocam a mesma música repetidamente, dia após dia, esperando que turistas ingênuos joguem dinheiro no chapéu.

o repertório?

1. empire state of mind (claro)


2. new york, new york (frank sinatra, óbvio)


3. qualquer coisa do elton john, porque aparentemente “rocket man” combina com um cruzamento caótico e barulhento

se você for azarado, pode pegar um daqueles caras que tentam improvisar e começam a cantar sobre você. “hey, lady in the red dress, walking down the street!” e pronto. agora você está forçada a interagir e, no final, pressionada a dar uma gorjeta.

30. o preço absurdo para usar um banheiro decente

em qualquer outro lugar de nova york, você pode entrar em um café, comprar um café barato e usar o banheiro sem problemas. mas em times square, usar um banheiro decente é um privilégio para poucos.

opção 1: os banheiros públicos, que são um pesadelo. filas gigantescas, cheiro de guerra química e uma porta que provavelmente não fecha direito.
opção 2: entrar em um starbucks e implorar para usá-lo sem comprar nada, o que provavelmente vai te render um olhar de ódio do funcionário exausto.
opção 3: pagar. sim, pagar. há banheiros pagos que cobram 2 ou 3 dólares para te dar o direito básico de não explodir em público.

conclusão: times square é um culto e você é o sacrifício

times square não é um destino. é um golpe. é um espetáculo distorcido de luzes piscantes e promessas vazias. é um laboratório de experiências ruins onde tudo custa mais do que deveria, tudo demora mais do que o necessário, e tudo te deixa com a sensação de que você acabou de ser enganado. é um shopping center sem teto, um cassino sem fichas, um zoológico de gente perdida esbarrando umas nas outras sem saber por quê.

nada ali é real. os restaurantes são redes genéricas que servem comida congelada a preços de restaurante cinco estrelas. as lojas vendem produtos que você pode encontrar em qualquer outro lugar da cidade por um terço do preço. os artistas de rua são golpistas disfarçados. os turistas andam como se nunca tivessem usado as pernas antes. os influenciadores dançam no meio do trânsito, prontos para serem atropelados por um táxi que já desistiu de tentar escapar do inferno.

times square é uma experiência sensorial de frustração, calor humano indesejado e preços extorsivos. é um buraco negro de autenticidade, um lugar que promete algo incrível, mas só entrega fila, buzina e arrependimento.

mas… se você nunca foi, vá.

vá e veja com seus próprios olhos. caminhe entre a multidão lenta, respire o cheiro de pretzel queimado e suor de turista, tente atravessar a rua sem enlouquecer. tire sua foto na frente de um painel de neon que não significa nada. compre um souvenir superfaturado que você nunca vai usar. pague caro por um hambúrguer ruim e fique preso no trânsito dentro de um táxi bufando de ódio.

vá, sinta tudo isso, absorva cada detalhe.

e depois, nunca mais volte.

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2024

dez dias que abalaram o mundo

acabei de ler dez dias que abalaram o mundo, de john reed. e agora estou aqui, olhando para o teto, tentando decidir se acabo de testemunhar um épico revolucionário ou a mais bem escrita carta de amor a uma ilusão. porque reed não só narra a revolução bolchevique… ele a vive, a respira, a devora com uma fome insaciável de história e heroísmo. ele corre por petrogrado como um maníaco com um caderninho, anotando cada discurso, cada barricada, cada grito de ordem como se fosse o evangelho de um novo mundo. um mundo sem patrões, sem exploração, sem injustiça. soa lindo, não? até que a realidade chega chutando a porta e lembrando que toda revolução começa com promessas e termina com uma fila de gente esfarrapada esperando pão, sob a mira de um fuzil.

porque o que reed descreve é eletrizante, sim. petrogrado em outubro de 1917 é um caos em estado puro, uma ópera revolucionária onde operários largam as máquinas, soldados desertam em massa e os bolcheviques, aqueles caras de olhar vidrado e discurso afiado, tomam o poder prometendo que agora, agora sim, o povo está no comando. e reed acredita em cada palavra. ele não é um jornalista, ele é um missionário. lenin e trotsky são seus santos, os sovietes, sua igreja. e a revolução? a salvação.

e eu? eu leio isso tudo com um misto de fascínio e desconfiança. porque a gente já viu esse filme antes, e continua vendo, só que agora com redes sociais, hashtags e influencers de apartamento fingindo que entendem de luta de classes. reed vende a revolução como um espetáculo, e não o culpo. nos primeiros dias, tudo parece grandioso, o palácio de inverno tomado, os ministros do governo provisório presos como ratos em um porão, os sovietes se espalhando como uma febre. parece o triunfo definitivo dos oprimidos. mas revoluções são traiçoeiras. começam com a promessa de liberdade e acabam com uma nova casta no poder, um novo czar, só que agora com um manual marxista na mão e uma polícia secreta mais eficiente.

reed não viveu para ver o que aconteceu depois. morreu jovem, enterrado com honras na muralha do kremlin, enquanto o paraíso proletário se transformava num estado paranoico, onde qualquer um poderia desaparecer no meio da noite por um “desvio ideológico”. a revolução que ele testemunhou foi só o primeiro ato de um espetáculo longo e sangrento. e, no entanto, ele acreditava. acreditava tanto que sua paixão transborda das páginas e faz a gente quase querer acreditar também. quase.

porque a verdade é que dez dias podem mudar o mundo, sim. mas e os anos depois? e os corpos empilhados? e os sonhos despedaçados? essa parte reed não escreveu. e talvez seja por isso que sua história continua tão poderosa, porque ainda queremos acreditar que, de alguma forma, da próxima vez, vai ser diferente.

mas não é diferente. nunca é. porque, por mais que mudemos os nomes, os slogans, as bandeiras, a estrutura do espetáculo continua a mesma. trocamos czar por secretário-geral, depois por presidente vitalício, depois por um CEO de big tech que promete um futuro brilhante enquanto mina os direitos trabalhistas por trás da cortina de néon do progresso. a revolução, nos dias de hoje, não acontece mais nas ruas de petrogrado, ela acontece em threads no x, em vídeos no tiktok, em discursos inflamados no youtube, onde jovens empolgados, que nunca passaram fome e nunca seguraram uma ferramenta de verdade, falam sobre “derrubar o sistema” com um iphone na mão e um starbucks do lado.

reed, se estivesse vivo, teria um milhão de seguidores e seria adorado por metade da internet e odiado pela outra. ele estaria lá, transmitindo direto da linha de frente de alguma nova insurreição, seja em caracas, em hong kong, em porto príncipe, postando fotos borradas de barricadas e tanques na rua, contando histórias de operários insurgentes com a mesma paixão que usou para narrar petrogrado. e, claro, haveria quem o chamasse de vendido, de ingênuo, de idiota útil. porque hoje a revolução não é só armada, é digital. e cada um escolhe a sua trincheira baseado no algoritmo e a bolha que está inserido.

mas, no fim das contas, a questão continua a mesma… quem está realmente no comando? quem realmente ganha quando o sistema cai? porque, assim como em 1917, os discursos podem ser sobre o povo, sobre justiça, sobre um futuro brilhante… mas, em algum lugar, há um pequeno grupo de homens planejando como reorganizar o jogo para que eles continuem no topo. os bolcheviques fizeram isso quando tomaram o poder. as grandes corporações fazem isso quando dizem que querem um mundo mais inclusivo enquanto exploram mão de obra no sudeste asiático. os políticos fazem isso quando dizem lutar pela democracia enquanto assinam acordos que garantem que tudo fique exatamente como está.

dez dias podem mudar o mundo, mas e o décimo primeiro? e o centésimo? e o milésimo? é aí que a poeira assenta, os heróis se tornam burocratas e os sonhos revolucionários viram propaganda estatal. é aí que petrogrado vira moscou, que esperança vira controle, que liberdade vira vigilância. e nós? continuamos esperando pela próxima revolução, como se desta vez fosse ser diferente. como se desta vez a história não fosse se repetir. como se desta vez, finalmente, o povo fosse vencer.

mas a história ri da nossa ingenuidade. sempre riu.

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2024

vídeo game

videogames. tentei. porra, eu tentei. liguei a máquina, peguei o controle, me preparei para ser tragado para essa maravilha tecnológica onde tudo é possível, onde mundos inteiros se dobram à minha vontade, onde cada detalhe foi meticulosamente projetado para sugar minha alma e me manter engajado como um rato pressionando alavancas por um torrão de açúcar. quinze minutos depois, eu queria morrer de tédio.

talvez o problema seja eu. talvez eu tenha perdido alguma coisa, algum gene da modernidade que faz as pessoas ficarem obcecadas com esse troço. ou talvez o problema seja o fato de que videogames, assim como fast food e redes sociais, foram projetados para te viciar sem te dar nada de verdade em troca. uma dose cuidadosamente medida de dopamina a cada “missão cumprida”, cada “nível alcançado”, cada pequena recompensa que mantém seu cérebro feliz enquanto suas horas desaparecem no ralo.

mas eu não sou rato de laboratório. não preciso que me deem estrelinhas douradas por apertar botões na sequência certa. então desliguei aquela merda e voltei para o que realmente me relaxa… escrever. porque escrever não me dá pontos, não me elogia, não me faz sentir um vencedor só por ter existido. escrever me enfrenta. me desafia. me olha na cara e pergunta: “é só isso que você tem?”

e talvez seja exatamente isso que falta nos videogames modernos. risco. imprevisibilidade. o cheiro de sangue na água. hoje, tudo é calibrado para ser seguro, acessível, para que ninguém fique frustrado, para que todos sintam que estão indo bem. um grande parque de diversões digital onde todo mundo ganha, onde tudo é um espetáculo de luzes e barulhos que mascaram o fato de que, no fim, você não fez nada. não aprendeu nada. não conquistou nada.

eu sei que tem jogos incríveis por aí, que para muita gente isso é arte, um refúgio, um escape válido. beleza, sem ressentimentos. mas para mim? quinze minutos e já estava de saco cheio. talvez porque prefira criar meu próprio mundo a vagar por um que alguém já desenhou para mim. talvez porque precise da frustração de uma página em branco, do risco real de falhar, da liberdade absoluta que só existe onde não há regras.

ou talvez porque eu simplesmente não tenha paciência para perder tempo com besteira.

já escrever me fode. me arrasta pelo chão, me esmurra, me faz duvidar de cada palavra que sai da minha cabeça. não tem botão de reset, não tem checkpoint, não tem mecânica de recompensa para me fazer continuar. tem só eu, uma página vazia e a pergunta incômoda… isso aqui presta? isso aqui vale alguma coisa? isso aqui sangra o suficiente para ser real?

e é exatamente por isso que eu escrevo. porque não há atalhos. não há sistema projetado para me fazer sentir bem o tempo todo. escrever é sujo, difícil, ingrato. é cavar fundo e encontrar coisas que eu preferia deixar enterradas. é falhar, reescrever, detestar tudo, jogar fora e começar de novo.

mas quando funciona… quando uma frase estala como um golpe preciso, quando uma ideia se encaixa como se sempre estivesse ali esperando para ser escrita… nada se compara. não existe recompensa digital que se equipare a essa sensação. não há “achievement unlocked” que chegue perto do momento em que você olha para algo que acabou de escrever e pensa: “porra, isso aqui tem vida.”

e é isso que me vicia. não o conforto, mas o desconforto. não a certeza, mas a dúvida. não a segurança de um caminho pré-definido, mas a luta constante contra o vazio, contra a mediocridade, contra a tentação de escrever qualquer coisa só para preencher espaço.

escrever não me dá paz.

escrever não me relaxa.

escrever me mastiga e me cospe.

mas, no fim, é a única coisa que faz sentido.

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2024

o bom é bom pra sempre

o bom é bom para sempre. um relógio suíço de verdade continua funcionando depois de cem anos, enquanto seu smartwatch morre depois de três. um porsche 911 de 1973 ainda arranca suspiros e respeito, enquanto SUVs genéricos vêm e vão como itens de liquidação. “casablanca” ainda dá uma surra em qualquer blockbuster multimilionário cheio de CGI e diálogos escritos por comitê. “dark side of the moon” segue impecável, enquanto álbuns que bateram recordes de streaming hoje serão esquecidos na semana que vem.

mas aí vem a turma da modernidade, os entusiastas da obsolescência programada, os apóstolos do efêmero, tentando te convencer de que tudo precisa ser substituído o tempo todo. que o vinil é ultrapassado, que um livro físico é tralha, que seu carro antigo não tem “conectividade” e que um filme preto e branco é “lento demais”. essa gente que troca substância por novidade, que acha que um remix genérico melhora uma música que já era perfeita, que acredita que um aplicativo faz melhor o que um simples caderno já resolvia há séculos.

mas a verdade sempre vem. no silêncio da madrugada, um “blade runner” envelhece como vinho enquanto os efeitos visuais da moda já parecem toscos. um riff do led zeppelin ainda arrepia, enquanto a última tendência musical já soa como trilha sonora de elevador. uma velha leica ainda captura a alma de uma cena melhor do que qualquer câmera cheia de firulas digitais.

o bom é bom para sempre. e o resto? bem, o resto é só ruído branco para distrair quem tem medo do tempo.

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2024

inundar a zona

“inundar a zona”, é assim que chamam. jogue tanta coisa ao mesmo tempo que ninguém consiga focar em nada. transforme o noticiário em um carnaval de manchetes histéricas, uma enxurrada de absurdos, um verdadeiro tiroteio de escândalos. enquanto as pessoas tentam entender o que está acontecendo, você já passou para o próximo golpe. não se trata de esconder, isso é antiquado. o truque agora é mostrar tudo, de uma vez, até que a mente coletiva simplesmente desligue.

e funciona. funciona porque ninguém aguenta viver em estado de choque permanente. um dia, um decreto absurdo. no outro, uma medida draconiana. na quarta-feira, um ataque às instituições. na quinta, uma briga fabricada para desviar a atenção. no sábado, um novo inimigo inventado. e na segunda, começamos tudo de novo. até que a indignação vire cansaço, até que a população, mesmo informada, esteja exausta demais para reagir.

e quando alguém ousa perguntar… “mas como isso foi acontecer?” a resposta é um encolher de ombros coletivo. porque depois de semanas, meses, anos nesse jogo sujo, tudo começa a parecer normal. ignorar leis? normal. reescrever regras? normal. reverter direitos? normal. até que um dia, sem perceber, as pessoas acordam em um mundo que jamais teriam aceitado no passado, mas que hoje já não têm forças para questionar. e quem provocou tudo isso? segue tranquilo, sem pressa, pronto para jogar mais um balde de caos na próxima rodada.

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2024

desligar, ignorar, sobreviver


acordar, respirar fundo, sentir o silêncio antes do mundo começar a gritar na minha cara. olhar para o celular, hesitar, saber exatamente o que me espera se eu desbloquear a tela. fazer isso mesmo assim. rolar o feed, ser recebido pelo espetáculo habitual da desgraça. guerra, crise, catástrofe, alguém dizendo algo estúpido, outro alguém indignado com isso. repetir esse ciclo até minha sanidade começar a derreter.

levantar, tentar fingir que nada disso me afeta, que não estou sendo sugado para dentro do buraco negro do pânico e da indignação coletiva. ligar a cafeteira, olhar pela janela, perceber que o mundo real ainda está ali, intacto, sem a interferência do noticiário histérico. mas a tentação de voltar, de me afogar mais um pouco na overdose de tragédia, ainda está lá, como um vício maldito que se recusa a morrer.

saber que essa merda toda não é acidente. que cada manchete apocalíptica, cada escândalo fabricado, cada crise cuidadosamente dramatizada, existe para me manter exatamente assim… atento, ansioso, puto. que não é informação, é entretenimento. que o medo vende, que o ódio engaja, que a indignação é uma droga barata e viciante.

fazer o impensável, desligar tudo. sair da dieta tóxica de más notícias, parar de alimentar o algoritmo com minha raiva. sentir uma paz desconfortável no silêncio que sobra. perceber que não saber cada detalhe da última grande tragédia não me torna um monstro insensível, mas apenas um ser humano tentando não enlouquecer.

e então, viver. fazer qualquer coisa mundana e ridiculamente simples… lavar a louça, jogar algo no fogo, resolver as pequenas obrigações patéticas do dia. perceber que o mundo real, esse que existe fora da tela, é infinitamente menos histérico. que a vida continua, com ou sem meu desespero.

talvez amanhã eu volte. talvez eu abra as portas do inferno de novo, me deixe ser sugado pelo espetáculo. mas hoje, só por hoje, eu escolho escapar.

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2024

a paulista

a avenida paulista não é só uma rua. é um organismo vivo, respirando, pulsando, cuspindo e engolindo gente como uma grande boca de concreto e vidro. não é um lugar para quem gosta de calma, não é para quem teme multidões. aqui, o tempo não passa, ele atropela. a paulista é onde a cidade se despedaça e se reconstrói todos os dias, como um mosaico caótico de vozes, buzinas, frituras de barraca de rua e discussões sobre startups em cafés com nomes minimalistas. e eu, um mero habitante dessa fera, acordo com ela e me deixo levar.

o começo: academia, suor e promessas vazias

minha manhã começa cedo porque a paulista exige. academia às sete. não porque sou disciplinado, mas porque preciso de algo que me desperte antes que o dia me esmague. desço do prédio e a cidade já está em movimento. a paulista nunca acorda, ela apenas muda de fase. os notívagos ainda perambulam, os primeiros entregadores já atravessam os cruzamentos como kamikazes de bicicleta, e os porteiros, esses heróis silenciosos, varrem calçadas que nunca ficam limpas.

na academia, encontro os mesmos rostos, o cara de terno que faz musculação em tempo recorde antes de uma reunião que provavelmente decide o destino de alguém, a mulher que corre na esteira como se estivesse fugindo da própria vida, o idoso que levanta peso com a paciência de quem já viu de tudo. suamos juntos, mas não nos falamos. cada um no seu transe, cada um preso na sua bolha de música alta e cansaço matinal.

saio dali desperto, não pelo exercício, mas pelo choque de voltar para a avenida já em plena atividade. os vendedores ambulantes montam suas barracas com a agilidade de quem já faz isso há anos. vendem desde lanches até óculos falsos, carregadores duvidosos, livros usados com dedicatórias de antigos donos. um café? sempre. mas qual?

o café: entre o requentado e o transcendental

a paulista tem dois tipos de café. o primeiro é aquele líquido preto queimado, servido num copinho de plástico por R$ 3 na banca de jornal. necessário, funcional, sem frescura. o segundo é o café de boutique, servido em xícaras minúsculas, com notas de caramelo e preços que fariam um europeu corar. gosto dos dois. um me mantém acordado, o outro me lembra que o mundo ainda tem luxo, mesmo no caos.

há algo de meditativo em beber café na paulista. eu paro por um instante, observo o fluxo de pessoas, e a cidade me engole de novo. trabalhadores apressados, turistas tirando fotos do masp, uma senhora que vende doces caseiros na calçada. tudo se move rápido, menos eu.

o trabalho: ao lado de casa, mas em outro planeta

a benção (ou maldição) de trabalhar ao lado de casa me poupa do inferno do trânsito paulistano, mas não me protege da brutalidade da rotina. atravesso a rua e troco de mundo. as calçadas lotadas, os motoqueiros entregando pedidos, os grupos de executivos falando de metas inalcançáveis, tudo me envolve. entro no prédio e o burburinho muda. dentro do meu escritório olho pela janela e vejo dentro dos escritórios uma farsa organizada. ali, finge-se controle, eficiência, planejamento. mas basta olhar para o horizonte para ver a verdade, a cidade lá fora não se importa com prazo, KPI’s, e-mails urgentes. a cidade segue, indiferente.

o meio do dia: entre mochilas escolares e o cheiro de almoço

perto do meio dia, saio para levar meu filho à escola. e nesse momento, vejo outro rosto da paulista… o das crianças, dos pais equilibrando mochilas e copos de café, das babás empurrando carrinhos de bebê. por um breve instante, a avenida perde sua dureza. vejo pequenas mãos segurando lancheiras, ouço risadas, sinto a presença de algo raro por aqui, inocência.

mas logo, o relógio me empurra de volta ao ritmo normal. e então, o cheiro de comida começa a se espalhar pela avenida. é um convite e uma tortura. o cheiro de churrasco vindo de um restaurante tradicional, o aroma de alho e óleo de uma cantina escondida, o vapor das marmitas sendo abertas nos bancos da praça do ciclista. na paulista, almoçar é um ato de sobrevivência. você pode escolher a comida afetiva de um boteco, um prato executivo servido com pressa ou um sushi minúsculo, cobrado a peso de ouro. a cidade te dá opções, mas não tempo.

eu tenho meus refúgios. que mantenho em segredo, até de vocês, onde o garçom me chama pelo nome e ninguém pergunta se você quer a conta antes de terminar de comer. nessas horas, a paulista me dá um raro presente, um momento de pausa.

a tarde: a cidade febril

volto ao escritório, mas a paulista segue sua dança. o barulho da obra ao lado, a multidão cruzando a avenida como um enxame, os artistas de rua que começam a ocupar seus lugares. o cara que toca sax na frente do masp, o pintor que expõe seus quadros na calçada, a mulher que distribui panfletos sobre um culto que promete salvar sua alma (e esvaziar sua carteira). o pessoal de colete laranja pedindo um minuto para doações que salvarão o mundo… tudo faz parte da cena.

lá pelas quatro, preciso sair para uma reunião. ando pela calçada e observo os rostos. vejo pressa, cansaço, expectativa. vejo pessoas que parecem existir apenas para correr de um ponto ao outro. vejo casais discutindo, ambulantes contando o dinheiro do dia, adolescentes com roupas que berram contra a normalidade. vejo tudo. e ao ver, me sinto parte.

a noite: a paulista troca de pele

quando o sol se põe, a avenida muda. os escritórios se esvaziam, os bares se enchem. os vendedores de comida de rua tomam as calçadas. espetinhos de carne assam em grelhas improvisadas, o cheiro de pipoca invade o ar. os ônibus seguem lotados, levando sonhos e cansaço para todos os cantos da cidade.

os artistas se multiplicam. dançarinos improvisam coreografias na esquina, músicos fazem jam sessions em plena calçada, e sempre tem alguém recitando poesia para quem quiser ouvir. uma pequena manifestação, reivindicando ação, paralisa um dos lados da avenida e eu caminho por tudo isso, absorvendo cada detalhe.

antes de dormir: a paulista nunca para

volto para casa, mas a paulista não dorme. lá embaixo, um casal termina a noite de bar aos berros. um ciclista corta a avenida como se fosse dono dela. um grupo de corredores cruza pelas calçadas com pausas estratégicas para selfies. alguém grita assalto e mais um celular se vai. entregadores fazem sua última corrida. e eu, da janela, observo.

amanhã, tudo isso acontece de novo. e eu estarei aqui. porque, no fim das contas, sou parte desse caos. sou um filho da paulista. e não há outro lugar no mundo onde eu preferiria estar.

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2024

os astros

horóscopo. essa maravilha cósmica que sobreviveu a impérios, religiões, revoluções industriais e ao ceticismo irritante dos que acham que tudo na vida precisa ser comprovado por um homem de jaleco segurando uma prancheta. você pode rir, pode torcer o nariz, pode até tentar refutar com gráficos e estudos revisados por pares, mas a verdade é que, enquanto você se preocupa em estar certo, eu estou aqui, me divertindo muito mais, deixando que os astros ditem o ritmo do meu dia.

porque acreditar em horóscopo não é sobre prever o futuro… se eu quisesse previsibilidade, trabalharia com planilhas. é sobre algo muito mais interessante, é dar sentido ao caos. é sobre entender que o universo é um lugar absurdo, cheio de variáveis fora do nosso controle, mas que, de alguma forma, faz todo sentido quando você percebe que plutão retrógrado pode, sim, ser responsável pelo seu inferno pessoal.

e me poupe do papo furado de “não tem comprovação científica”. grandes coisas na vida não têm. amor, por exemplo. saudade. aquele instinto que te faz pegar um caminho diferente sem motivo aparente e, no fim, perceber que evitou um desastre. a gente não vive de equações, a gente vive de histórias, e o horóscopo é uma das melhores que já inventaram.

e que história! os signos são arquétipos universais, personagens perfeitos de um drama que se repete desde que o ser humano olhou para o céu e decidiu que, sim, aquelas luzinhas devem significar alguma coisa. e como não acreditar? como não ver um pouco de si mesmo naquele leonino metido, naquele escorpiano vingativo, naquele aquariano que acha que vive num planeta próprio? é pura mitologia moderna, e mitologias, meu amigo, duram porque fazem sentido.

o que eu mais gosto no horóscopo? ele te dá permissão para ser quem você já é. te dá um enredo para suas falhas e suas glórias. você não é teimoso, você é taurino. não é impulsivo, é ariano. não é um desastre emocional, é só um pisciano perdido. e, convenhamos, isso é muito mais divertido do que passar a vida tentando se encaixar no molde frio e sem graça da “racionalidade absoluta”.

então, enquanto os céticos seguem por aí, obcecados em desmontar qualquer coisa que não consigam pesar ou medir, eu continuo aqui, lendo meu mapa astral, esperando o próximo eclipse e aceitando que, sim, mercúrio retrógrado pode ter ferrado meu dia. e sabe de uma coisa? eu gosto assim.

porque no fim das contas, o horóscopo não precisa da sua aprovação. ele estava aqui muito antes de você nascer e vai continuar existindo muito depois que você se for. reis consultavam astrólogos antes de ir para a guerra, navegadores olhavam para as estrelas para não morrer no meio do oceano, e hoje eu vejo meu mapa astral antes de marcar uma reunião importante. progresso? talvez. mas o princípio é o mesmo, entender que há algo maior, algo além do nosso controle, guiando esse espetáculo absurdo que chamamos de vida.

e mesmo que tudo isso seja uma grande brincadeira cósmica, e daí? a vida já é séria demais, cheia de boletos, reuniões sem sentido e tráfego infernal. acreditar que marte pode estar influenciando minha paciência ou que a lua cheia tem algo a ver com meu sono ruim é apenas um jeito mais interessante de encarar o inevitável. se você prefere culpar a biologia, a economia ou algum outro fator “cientificamente comprovado”, vá em frente. mas eu prefiro pensar que os astros têm um senso de humor perverso e que, de vez em quando, decidem sacudir as coisas só para ver no que dá.

e sejamos honestos, é impossível não se identificar com pelo menos uma descrição de signo. até o mais cético, no fundo, já leu um horóscopo que bateu tão certo que ele teve que fingir que não viu. “ah, mas é tudo generalista”, dizem. claro que é, gênio. assim como a vida. tudo pode ser interpretado de mil maneiras, tudo pode fazer sentido se você souber olhar direito. e, convenhamos, se você acha que ler um mapa astral é ilusão, mas acredita que o mercado financeiro é previsível, talvez seja hora de revisar suas crenças.

o mais genial do horóscopo? ele te dá um álibi universal para ser um ser humano contraditório e caótico, porque, adivinha só, o universo também é. então, sim, talvez eu seja uma bagunça emocional, talvez eu tenha mudado de ideia cinco vezes hoje, talvez eu tenha acordado com um humor impossível. mas não é culpa minha, é culpa da conjunção astral. e eu não poderia estar mais feliz com isso.

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2024

ferris bueller’s

o que aconteceu com a juventude? sério, alguém me explica. porque, pelo que vejo, ela foi substituída por uma geração de pessoas que tratam a própria vida como um formulário de imposto de renda, cheia de regras, burocracias e medo de errar um número e acabar presas. cadê os ferris buellers? porque tudo o que eu vejo hoje são adolescentes que pedem desculpa por existir e fazem gráficos mentais sobre o impacto de cada escolha como se estivessem jogando xadrez contra o destino.

se ferris bueller’s day off (curtindo a vida adoidado, para quem não tem vergonha de títulos traduzidos) fosse lançado hoje, ferris não seria um ícone, seria um alerta vermelho. um risco social. uma má influência. seria ridicularizado por especialistas de sofá no x, dissecado em podcasts sobre “comportamentos problemáticos”, condenado à morte por enquetes online. cameron, por outro lado, estaria no topo do mundo. finalmente encontrou seu lugar. ele escreveria textos longos sobre “a importância de reconhecer suas próprias limitações” e daria palestras sobre como “é essencial se preocupar com tudo, o tempo todo”.

e ferris? ferris estaria rindo. porque ele sabia de algo que o mundo esqueceu… a vida é um jogo, e a única forma de ganhar é trapaceando. ele sabia que as melhores histórias vêm dos momentos em que você simplesmente finge que pertence ao lugar. sabia que ninguém se diverte pedindo permissão. você acha que ferris bueller ficaria preocupado com “o que as pessoas vão pensar”? com “o impacto social de suas ações”? ferris não pedia licença. ele abria a porta e entrava.

e esse é o problema. a ideia de sumir por um dia, desaparecer do radar, viver uma aventura sem documentar tudo em tempo real, se tornou impensável. matar aula já não tem mais graça porque ninguém mais tem criatividade para transformar um dia vago em uma obra-prima. você acha que um adolescente moderno, solto em chicago, faria algo remotamente comparável ao que ferris fez? claro que não. ele encontraria um café genérico, tiraria uma foto da xícara e escreveria algo existencialmente vazio tipo “às vezes, a gente só precisa de um momento para respirar.”

e o pior de tudo? ninguém mais sente falta de um ferris bueller. porque ser ferris exige um mínimo de coragem, um mínimo de vontade de simplesmente sair do roteiro e ver o que acontece. e estamos cansados demais para isso. rebeldia, agora, é postar um tweet irônico antes de voltar a cumprir todas as regras do sistema. o que ferris fazia naturalmente? vivia. e hoje isso virou um mercado. tem cursos, tem mentorias, tem aplicativos que te ensinam a fazer aquilo que qualquer adolescente deveria saber de instinto… sumir por um dia e se divertir.

se ferris existisse hoje, ele não estaria no tiktok. não teria um canal no youtube ensinando truques de “vida plena sem culpa”. ele estaria no mundo real, enganando gente importante, se metendo em lugares proibidos, criando histórias que ninguém acreditaria. e nós? nós estaríamos repostando um gif dele, com uma legenda nostálgica sobre como “as coisas eram mais simples antigamente.”

então, se ainda há um pouco de ferris dentro de você… e deus, eu espero que haja, faça um favor ao mundo, desapareça por um dia. ignore mensagens, ignore obrigações, ignore qualquer coisa que se pareça remotamente com um dever. entre num restaurante onde não deveria estar, peça a coisa mais cara do cardápio, brinde à sua própria ousadia. porque, como ferris disse, e ele estava certo, a vida passa rápido demais. e se você não parar para olhar ao redor de vez em quando, vai acabar igual ao diretor rooney, derrotado, humilhado e sendo chutado para fora de um ônibus sem nem um centavo para pegar o caminho de volta para casa.


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2024

miss saravejo

ah, miss sarajevo… aquela música que, à primeira vista, parecia mais um dos devaneios messiânicos do bono, aquele rockstar que se acha um profeta moderno, mas que, de vez em quando, acerta uma flecha bem no meio do peito da hipocrisia mundial. só que essa não foi apenas uma canção. foi um soco no estômago, um lamento disfarçado de balada pop, um fantasma assombrando as caixas de som com um pavarotti que surge no meio como um espectro operático, implorando por algo que o mundo simplesmente não quer dar a mínima… humanidade.

início dos anos 90. os bálcãs fervendo, sarajevo sitiada, uma cidade cortada do mundo como se fosse um tumor indesejado. ruas esvaziadas pela morte, prédios implodindo como castelos de cartas, corpos largados no asfalto enquanto o ocidente observava de longe, confortavelmente anestesiado. quatro anos de terror absoluto. quatro anos de franco-atiradores apostando quem conseguia acertar mais civis atravessando a rua. e o que o mundo fez? bom, a europa progressista e civilizada tomou um longo gole de seu café expresso, suspirou e disse: “que situação complicada…”

e aí vem o momento mais absurdo e brilhante de todos. um desfile de beleza no meio do inferno. mulheres desfilando entre escombros, segurando cartazes que diziam: don’t let them kill us. porque até mesmo no meio da guerra, as pessoas querem lembrar que ainda são humanas. que ainda podem sonhar, sorrir, ser bonitas, viver. e talvez esse seja o maior insulto para aqueles que lucram com a guerra, a insistência das pessoas em continuar vivas. em não se tornarem apenas estatísticas.

é então que o bono e o brian eno transformam essa insanidade em música. mas não qualquer música. uma canção que começa suave, quase um sussurro, e depois se transforma em um lamento monumental quando pavarotti entra rasgando a realidade com aquele verso esmagador: se ci sarà una vita, vivrò in te. (se houver outra vida, eu viverei em você). e naquele momento, não é mais apenas sobre sarajevo. é sobre todas as cidades que já foram e continuam sendo esmagadas enquanto o mundo finge não ver.

porque, no fundo, miss sarajevo nunca foi apenas uma canção sobre o passado. foi um presságio. uma previsão maldita de que a humanidade seguiria repetindo os mesmos erros com uma precisão quase artística. troque sarajevo por gaza, por quiev, por cabul, por sudão. troque os franco-atiradores sérvios por drones, ataques cirúrgicos, explosões que transformam bairros inteiros em poeira. a guerra virou um espetáculo transmitido ao vivo, com gráficos bem editados e comentaristas explicando as razões geopolíticas como se estivessem narrando uma final de copa do mundo.

e a música pergunta: is there a time for keeping your distance? sim, bono, sempre há. é praticamente a única coisa que o mundo sabe fazer bem. manter distância, fingir indignação calculada, escrever textos profundos enquanto assina mais um contrato bilionário de venda de armas. porque guerras são um grande negócio. e a comoção, essa tem prazo de validade. dura o tempo exato de um ciclo de notícias ou até a próxima tragédia ocupar as manchetes.

is there a time to turn to mecca? claro, mas apenas quando convém. quando serve para dividir, para criar medo, para justificar mais um bombardeio humanitário. sempre há tempo para transformar cultura em arma, religião em desculpa, vidas em números. mas nunca há tempo para reconhecer que, no final, todo mundo sangra do mesmo jeito. nunca há tempo para ver que, em cada cidade reduzida a escombros, há pessoas que só queriam viver.

is there a time to run for cover? bom, para quem pode se dar ao luxo de perguntar, sim. mas e os que não podem? os que morrem soterrados em prédios que nunca deveriam ter sido alvos? os que têm suas casas transformadas em pilhas de concreto enquanto governos bem vestidos chamam isso de “danos colaterais”? esses não têm tempo. nunca tiveram.

e agora, enquanto seguimos repetindo essa dança macabra, a música continua ecoando. miss sarajevo nunca foi um epitáfio. foi um aviso. um tapa na cara do mundo, que, como sempre, ignorou. e aquele verso final, gritado por pavarotti como se estivesse cantando o réquiem da humanidade, se torna um testamento da nossa falha coletiva. haverá outra vida? haverá alguma chance de quebrarmos esse ciclo de carnificina glorificada?

a verdade é que a resposta não importa. porque, no final, sempre haverá um novo sarajevo. um novo gaza. um novo nome para o mesmo horror. sempre haverá políticos chorando lágrimas de crocodilo enquanto assinam mais uma resolução inútil. e sempre haverá música para nos lembrar de tudo o que fingimos não ver. até que um dia, talvez, nem a música reste.

e talvez esse seja o maior medo de todos… o dia em que nem a música reste. o dia em que nem um pavarotti fantasmagórico surgindo do além para cantar sobre a morte e a memória seja capaz de nos arrancar do nosso torpor conveniente. porque se tem algo mais assustador do que a guerra em si, é a normalização dela. a aceitação silenciosa de que o mundo sempre foi assim e sempre será. a anestesia coletiva diante de cada novo massacre, de cada nova cidade devastada, de cada nova criança morta antes mesmo de aprender a falar.

e se sarajevo foi o primeiro ensaio moderno dessa tragédia repetitiva, o que temos agora é o espetáculo em alta definição. não são apenas guerras, são temporadas. conflitos editados como documentários premiados, drones filmando a destruição com a precisão de um diretor de fotografia, explosões se transformando em imagens virais, influenciadores comentando a geopolítica entre um unboxing e outro. é isso. transformamos a guerra em entretenimento, mas sem o final redentor. sem o herói para salvar o dia. sem justiça. só ruínas e uma trilha sonora de lamentações que ninguém quer ouvir de verdade.

is there a time for tying ribbons? sim, sempre há tempo para isso. tempo para símbolos vazios, para campanhas emocionadas que duram uma semana, para bandeiras temporárias no perfil das redes sociais. tempo para discursos inflamados sobre liberdade, democracia e direitos humanos, desde que esses discursos não atrapalhem nenhum contrato de exploração mineral ou venda de armas. porque indignação tem limite, e esse limite é sempre traçado pelo dinheiro.

e então, voltamos àquela imagem inicial. as mulheres de sarajevo desfilando entre escombros, segurando cartazes que imploram por algo tão básico que chega a ser absurdo: não nos matem. uma frase que poderia estar escrita em qualquer muro de qualquer cidade em guerra hoje. e a pergunta que não quer calar: alguém ouviu? alguém ouviu em sarajevo? alguém está ouvindo agora? ou só vamos esperar até que seja tarde demais para fingir que nos importamos?

e é por isso que miss sarajevo continua sendo o epitáfio não apenas de uma cidade, mas de toda uma forma de ver o mundo. um lamento por todas as vidas que poderiam ter sido salvas se a humanidade tivesse um pingo de decência. mas o mundo não aprende. não quer aprender. prefere repetir. prefere assistir. e então, um dia, quando sobrar apenas poeira e cinzas, talvez alguém pergunte: is there a time for asking questions?

mas aí já será tarde demais.