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2024

viajar

todo mundo adora essa fantasia de sair conhecendo o mundo, desbravar novos territórios, explorar culturas exóticas e encher o feed do instagram com fotos de lugares distantes. mas me diz uma coisa: quantas vezes você realmente explorou o lugar onde mora? não só passou por ele, mas de fato se permitiu conhecer sua própria cidade como se fosse um turista? pois é, talvez nunca.

há essa ilusão de que as coisas mais interessantes estão sempre do outro lado do mundo. mas será que já passou pela sua cabeça que o lugar onde você vive pode ser tão fascinante quanto qualquer capital europeia? o problema é que você tá anestesiado pelo familiar. o novo, o distante, parece sempre mais sedutor. mas quem disse que o que está perto de você, o que faz parte da sua rotina, não pode ser igualmente encantador se você se permitir olhar?

já pensou em visitar os comércios locais com curiosidade, como quem está em um país desconhecido? conhecer as histórias das pessoas que vivem e trabalham ao seu redor, descobrir um restaurante de esquina que você nunca teve tempo de visitar, ou até aquele café onde ninguém da sua bolha frequenta? talvez o dono da padaria tenha uma história de vida que faria você pensar duas vezes sobre seu lugar no mundo, ou o brechó da esquina esconda tesouros que você nunca imaginou.

e as pessoas? quem disse que só dá pra conhecer “novas culturas” viajando pra outro continente? já experimentou bater um papo com quem mora na rua de baixo? talvez o choque cultural que você tanto busca esteja ali, na diferença entre a sua visão de mundo e a da pessoa que sempre te serve o café. só que isso, claro, não rende likes.

a obsessão por carimbar o passaporte enquanto ignora o próprio quintal é o exemplo perfeito de como a gente vive em busca de distrações. o exótico nos fascina porque nos permite evitar olhar para o que está próximo, para o que nos obriga a lidar com o que somos de verdade. viajar é fácil – você volta pra casa, cheio de histórias e souvenirs, sem nunca ter que encarar a realidade de que o desconhecido pode estar bem ao seu lado.

então, antes de gastar todo o seu dinheiro em passagens pra tailândia, que tal explorar as ruas do seu bairro com a mesma curiosidade que você teria em bangkok? quem sabe, no fim das contas, o mundo que você tanto busca não esteja mais perto do que você imagina.

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2024

hyperfoco

por muito tempo, me disseram que meu hyperfoco era um problema. “você precisa ser mais organizado”, “como assim deixa tudo pra última hora?”, diziam. parecia que eu estava sabotando a mim mesmo. eu me culpava, não entendia por que só conseguia montar apresentações minutos antes delas acontecerem. achava que tinha algo de errado comigo, que eu era desleixado, distraído, talvez até um pouco irresponsável.

mas, com o tempo, percebi que não era nada disso. o que eu achava que era um veneno, uma falha, na verdade era minha maior força. é nesse caos de última hora, quando o relógio corre contra mim, que as ideias vêm com força total. o hyperfoco não me atrapalha – ele me joga numa zona onde tudo desaparece, e só sobra o essencial. é quando eu paro de ouvir o barulho ao redor e começo a criar de verdade.

eu levei anos pra perceber que não funciono como todo mundo, e quer saber? tudo bem. não preciso de duas semanas de preparação pra entregar algo foda. é nesses quinze minutos finais que o melhor de mim aparece. enquanto o resto do mundo está controlando o tempo e seguindo listas, eu tô em outro nível de criação, onde tudo é intenso, real e visceral.

então, sim, o que antes parecia um veneno, hoje eu vejo como um superpoder. o que a sociedade chama de desorganização, eu chamo de fluxo criativo. e agora, em vez de me culpar, eu celebro isso.

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2024

chegou

lembra quando a gente crescia ouvindo aquela ladainha de que, se não cuidássemos do planeta, nossos filhos e netos pagariam o preço? era uma ameaça meio distante, quase fictícia, que fazia a gente pensar num futuro apocalíptico bem lá na frente. o problema? esse futuro já chegou. não estamos mais falando sobre o mundo inabitável que nossos netos vão herdar – estamos vivendo nele. o que prometiam ser um pesadelo distante, tá acontecendo bem debaixo dos nossos narizes.

sabe aquele calor infernal em pleno inverno, que faz você pensar se tá no mês errado? as florestas queimando, o ar irrespirável em cidades grandes, a água sumindo aos poucos. e a gente, fingindo que tá tudo bem. os “especialistas” dizem que ainda temos tempo, que se fizermos pequenos ajustes – reciclar aqui, comer menos carne ali – podemos salvar o que sobrou. mas, sejamos honestos: não é só sobre diminuir o uso de plástico, não é sobre fazer um post no instagram em homenagem ao dia da terra.

nós estamos vivendo o futuro distópico que prometiam pra gerações que viriam depois da gente. só que ninguém quer encarar essa verdade. as conversas sobre mudança climática já não são mais sobre evitar o desastre. é sobre tentar sobreviver em meio a ele. e sabe o que é pior? enquanto você tá aí se preocupando em apagar a luz pra economizar energia, tem corporações gigantescas lucrando com essa destruição, nos vendendo a falácia de que estamos no controle. “ah, mas nós somos sustentáveis”, eles dizem, enquanto sugam até a última gota do planeta.

meu filho, que ainda nem entende o que tá acontecendo, vai crescer num mundo onde respirar ar puro pode ser um luxo, onde a palavra “verão” e “inverno” vão perder o sentido, e onde a gente vai continuar fingindo que dá pra consertar esse caos com campanhas bonitinhas de ESG e slogans de “consciência ambiental”. e sabe o que é mais revoltante? não é uma questão de “se não fizermos algo agora, nossos filhos sofrerão”. eles já estão sofrendo, nós já estamos sofrendo. estamos no meio do desastre, mas todo mundo insiste em continuar com a cabeça enfiada na areia.

então, sim, eu me preocupo com o que meu filho vai enfrentar, mas não como a gente falava antigamente. não é mais sobre prevenir o pior. é sobre aprender a sobreviver no meio dessa bagunça toda, sabendo que o mundo que prometíamos evitar já tá aí, e a gente nem percebeu quando ele chegou.

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2024

resiliência

resiliência é uma palavra que as pessoas adoram jogar na mesa como se fosse um troféu. a ideia de ser “resiliente” virou quase um slogan publicitário – algo que você cola na parede do escritório, como se fosse uma medalha de honra ao mérito. mas vamos ser realistas: resiliência não tem nada de glamouroso. ser resiliente, de verdade, é um processo feio, doloroso e, muitas vezes, desesperador.

as pessoas falam de resiliência como se fosse uma qualidade mágica que você adquire com o tempo, tipo fazer uma maratona ou subir o monte everest. “seja resiliente”, eles dizem, como se fosse algo que você pode simplesmente ligar e desligar quando precisa. mas a verdade é que ser resiliente é, muitas vezes, estar no fundo do poço, sem ter a mínima ideia de como sair de lá, e ainda assim encontrar uma maneira de continuar.

o que ninguém te conta é que a resiliência é solitária. não tem aplausos, não tem plateia, não tem final feliz garantido. é o tipo de coisa que você faz porque não tem outra opção, porque parar não é uma escolha viável. resiliência é menos sobre ser forte e mais sobre ser teimoso pra cacete.

ser resiliente não significa não se quebrar. significa se quebrar, admitir a merda que aconteceu, e continuar andando mesmo com tudo rachado. é passar pela vida, dia após dia, sabendo que você vai levar mais porradas do que gostaria, mas ainda assim seguir em frente. e aqui vai o choque de realidade: ninguém vai te dar uma maldita medalha por isso.

é engraçado como as pessoas acham que resiliência é um superpoder. como se você estivesse imune às dores e frustrações do mundo. mas, na real, resiliência é aceitar que você vai cair – e cair feio – e que levantar vai ser doloroso pra caramba, mas você faz isso mesmo assim. sem garantias, sem certezas, só com a força de vontade de não ser engolido pelo caos.

então, da próxima vez que alguém te disser para ser resiliente, pense duas vezes antes de idealizar o conceito. resiliência é suja, é crua, e raramente faz você se sentir um herói. e sabe o que mais? tá tudo bem se você não se sentir assim. porque, no final das contas, resiliência é sobre continuar, mesmo quando todo o resto está implorando pra você desistir.

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2024

conselhos…

conselhos para o eu mais jovem? tá brincando? acho que todo mundo, em algum momento, já pensou no que diria pro seu eu mais novo, como se pudéssemos voltar no tempo e dar aquele “toque de mestre”. mas aí, quando você pensa de verdade, percebe: qual é o sentido? o que eu falaria pro meu eu jovem? “não faça isso, faça aquilo”? vai mesmo me ouvir? duvido. e, se eu tivesse me escutado, quem eu seria hoje? provavelmente alguém bem menos interessante, alguém que jogou sempre no seguro e evitou tropeços.

então, ao invés de ficar aí pensando no que poderia ter sido, eu diria o seguinte: faz as cagadas que você tem que fazer. se joga. erra feio. porque, meu amigo, é assim que você vai aprender alguma coisa nessa vida. só não espere que vá ser fácil ou bonito. porque não vai.

e quanto ao meu filho, que ainda é pequeno? bom, não vou querer criar um robô programado para o sucesso. não quero que ele tenha uma lista de dicas prontas, porque ninguém ensina a vida lendo manual de instrução. o que eu diria a ele é pra ser curioso, pra questionar tudo, e pra não acreditar em qualquer baboseira que lhe vendem por aí. quero que ele entenda que a vida é feita de nuance, de contradições, de escolhas erradas e, muitas vezes, de um desconforto que ninguém te prepara pra enfrentar.

quero que ele saiba que ele vai fracassar. e não tem nada de errado nisso. fracassar é uma parte do processo. a parte mais real. o que importa é como ele vai reagir quando o fracasso vier bater na porta. porque vir, vai. quero que ele aprenda a levantar, sacudir a poeira e seguir em frente sem ficar remoendo o que deu errado.

e, acima de tudo, quero que ele tenha coragem de ser ele mesmo. porque, no final das contas, o maior erro que qualquer um de nós pode cometer é tentar ser o que os outros esperam.

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2024

correr

correr. olha, eu sei que muita gente ama pintar isso como a atividade gloriosa dos deuses da disciplina, como se cada passo fosse uma lição de vida sobre determinação, foco e força de vontade. mas, sejamos honestos, correr é doloroso. não tem glamour nisso. você tá ali, sozinho, com seu próprio corpo te traindo a cada segundo, o coração martelando no peito, os pulmões implorando por misericórdia, e as pernas? bom, as pernas tão gritando “pelo amor de deus, para!”… e o que você faz? continua. porque é isso que se faz. você continua.

e por quê? qual é a droga nesse sofrimento voluntário? é que, no fundo, correr é a coisa mais primitiva que a gente pode fazer. não tem aplicativo que vai te ajudar, não tem playlist que vai mascarar a dor. você está completamente vulnerável. cada passo é uma luta com você mesmo, e, ironicamente, é nesse embate que a gente se encontra. parece masoquismo? talvez seja. mas tem algo profundamente humano em colocar o corpo à prova, em desafiar os limites – mesmo que ninguém esteja olhando.

agora, não me venha com essa conversa de “runner’s high”. se alguém te disser que correr é libertador e que, depois de alguns quilômetros, você entra num estado de euforia, pode apostar que essa pessoa tá romantizando a coisa. o que realmente acontece é o contrário: depois de um tempo, você entra numa espécie de transe de sofrimento. a dor continua ali, constante, mas você aprende a conviver com ela. é uma guerra mental. você começa a negociar consigo mesmo. “só mais um quilômetro”, “só mais cinco minutos”. e quando você percebe, chegou. não porque foi fácil, mas porque a sua teimosia foi maior do que a sua dor.

e o mais irônico? a sociedade que a gente vive adora enaltecer a velocidade. todo mundo quer hackear o sucesso, encontrar o atalho, fazer tudo mais rápido. mas correr é justamente o oposto disso. é sobre aceitar o ritmo, abraçar a lentidão. você corre porque sabe que a única maneira de chegar é continuar, um passo de cada vez. não tem truque, não tem mágica. só tem persistência.

correr é a metáfora perfeita pra vida, mas não da maneira que te contam. não é sobre alcançar objetivos. é sobre lidar com a realidade de que o caminho é cheio de tropeços, de dor, de dias em que você não quer nem levantar da cama. é sobre aceitar que a única maneira de sobreviver a esse caos é seguir em frente, mesmo quando tudo dentro de você implora pra parar.

então, sim, correr é um ato de resistência. resistência ao conforto, à preguiça, ao cansaço. e é por isso que eu corro. não porque quero me sentir um super-humano ou porque acredito na baboseira do “runner’s high”, mas porque correr me lembra que eu sou forte o suficiente pra continuar, mesmo quando cada célula do meu corpo me diz que já deu.

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2024

rotinas

rotina, aquela coisa que todo mundo adora odiar. é engraçado, né? de um lado, você tem as pessoas que se orgulham de ser “livres”, que desprezam qualquer tipo de repetição, que vivem sob a ilusão de que estão fora desse ciclo porque “cada dia é uma aventura”. do outro, os que seguem cegamente qualquer guru que aparece, comprando a ideia de que, se você acordar às 5 da manhã, tomar um banho gelado, fazer yoga e jejum intermitente, vai finalmente alcançar o sucesso. como se existisse uma fórmula mágica que te protegesse da bagunça da vida.

mas a verdade é que a rotina – quando bem feita – é o que mantém a sanidade no meio desse caos que chamamos de vida moderna. o problema é que o conceito de rotina foi sequestrado por essa máquina de produtividade que quer transformar todo mundo em robô. “faça isso, faça aquilo, não saia da linha, siga o protocolo.” parece familiar? o que começou como uma maneira de organizar o dia se transformou numa obsessão com cronogramas, apps de produtividade e fórmulas prontas.

e aí você se pergunta: quem diabos disse que tomar banho gelado e acordar antes do nascer do sol é a solução pra todos os problemas? o problema é que vendem essa rotina como se fosse a única maneira de ter uma vida decente. mas, deixa eu te contar, rotina é pessoal. o que funciona pra um, pode ser um pesadelo pra outro. e você, enquanto tenta forçar essas fórmulas na sua vida, vai percebendo que, de algum jeito, está mais estressado, mais ansioso, mais preso.

rotina não deveria ser uma gaiola. deveria ser a fundação. algo que te ajuda a segurar o tranco, não algo que te sufoca. rotina boa é aquela que te faz respirar, que te deixa espaço pra improvisar, pra ser humano. mas ninguém quer falar disso, né? é mais fácil vender a ilusão de que, se você seguir a cartilha direitinho, vai dar tudo certo.

e aí está a ironia: as rotinas que realmente importam são as que você cria sozinho ou com quem você ama, sem seguir nenhuma moda. o banho gelado, a meditação forçada, o cronograma de produtividade… esquece isso. cria uma rotina que faça sentido pra você e quem está ao seu redor, que alimente a alma, que respeite seu ritmo. no final, o que realmente importa não é o que o guru do momento tá te dizendo pra fazer. é o que funciona pra você, e só você pode descobrir o que é.

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2024

posicionamento

se posicionar hoje é um ato quase suicida. vivemos uma era em que o meio termo se dissolveu como açúcar em um café amargo, e quem ousa tentar navegar entre os extremos, buscando nuances ou equilíbrio, é imediatamente esmagado pelas vozes mais altas, mais irritadas e, ironicamente, as menos reflexivas. tentar escutar as várias camadas de uma conversa? esqueça. a escuta ativa evaporou junto com o respeito pelo outro. o espaço para o diálogo honesto foi substituído por trincheiras de certezas absolutas, onde o único objetivo é vencer a qualquer custo – ainda que isso signifique perder o que mais importa: a humanidade.

só que, em tempos assim, posicionar-se não é só uma questão de coragem. é uma necessidade. porque o silêncio, nesses casos, não é neutralidade. o silêncio se transforma em uma conivência perigosa. e o mais absurdo é que, ao se posicionar, você não ganha nada além de novos inimigos. seja qual for o lado, alguém vai te odiar, te rotular, te cancelar. e por quê? porque o extremismo se tornou a voz da vez, enquanto a ponderação virou quase um palavrão. ou você está “com a gente”, ou é o inimigo. simples assim. zero espaço para debates reais, para explorar o cinza entre o preto e o branco.

a verdade é que estamos mais preocupados em ganhar discussões do que em entender a perspectiva do outro. é como se escutar alguém que pensa diferente fosse, de alguma forma, abrir mão de suas próprias convicções. não é. escutar não significa concordar; significa reconhecer que, para construir um mundo menos binário, precisamos, no mínimo, considerar que as pessoas têm experiências e percepções diferentes. mas isso não se vende bem. não rende likes, não viraliza. o extremismo, esse sim, gera audiência. o confronto vende.

e no meio disso tudo, fica a questão: como se posicionar sem ser engolido por essa máquina de extremismo? a resposta talvez seja mais simples do que parece: sendo teimosamente humano. insistindo em escutar. forçando a nuance. não se rendendo à facilidade do “nós contra eles”. não é fácil, e certamente não vai te trazer um exército de seguidores. mas, no final do dia, não é essa a questão. o objetivo não é ser amado por todos. é, no mínimo, poder se olhar no espelho e saber que você não se curvou à polarização barata que transforma pessoas em caricaturas de si mesmas.

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2024

não está tudo bem

ser sensível num mundo que te cobra ser imbatível é como viver no limite de um desfiladeiro, esperando o momento de despencar. a vida te exige estar “no seu melhor” o tempo todo, mas ninguém fala sobre o que acontece quando o seu melhor é só um rascunho amassado de você mesmo. tá todo mundo preso nessa narrativa de superação, como se todo dia fosse uma maratona. mas, às vezes, levantar da cama já é o equivalente a escalar o everest.

e sabe o que é pior? quando você finalmente admite que a cabeça não está no lugar, que a saúde mental está caindo aos pedaços, as pessoas olham de lado, como se isso fosse um capricho. ser vulnerável? é quase um palavrão. você deveria ser uma máquina de criação, sempre ligada, sempre brilhando. mas ninguém quer falar sobre o preço que isso cobra.

você já notou como o mundo do conteúdo, da criação, da arte, é uma máquina insaciável? tem que ser mais, tem que ser melhor, e tem que ser agora. como se a criatividade fosse um botão que você aperta e pronto: tudo flui. o que ninguém te diz é que essa cobrança constante destrói. porque a vida real não tem nada a ver com o que você vê nas redes. e a verdade é essa: às vezes, você não está bem, e isso precisa ser dito. não pra causar choque, mas pra lembrar todo mundo que você é humano. e, sim, é um alívio perceber que você não é o único.

admitir que não está tudo bem não é fraqueza. é uma maneira de puxar o freio de mão antes que você queime o motor. é colocar as cartas na mesa e dizer: “ei, eu sou mais do que aquilo que vocês veem”. e acredite, isso é necessário. porque, enquanto você finge estar sempre em alta performance, sua mente vai desmoronando aos poucos, e ninguém vê. ou pior, ninguém se importa.

é por isso que, se você está passando por essa, fale. as pessoas precisam saber que, por trás de cada post, cada vídeo, cada ideia, tem alguém que também quebra, que também se cansa. e pra quem consome essa arte, um lembrete: criadores não são máquinas. eles merecem ser respeitados pelo que são, não só pelo que produzem.

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2024

babaca

não seja um babaca. parece óbvio, mas, ironicamente, ser uma pessoa decente se tornou quase um ato de resistência. vivemos em uma época onde a arrogância foi promovida a “autenticidade” e onde ser grosseiro virou sinônimo de “falar verdades”. o problema é que esse tipo de atitude não é novidade. na verdade, é a coisa mais fácil que você pode fazer. ser um babaca é a maneira preguiçosa de navegar pelo mundo. você não precisa pensar, não precisa se importar, só precisa garantir que o ego está alimentado o suficiente para ignorar o fato de que, no fundo, você está sendo um completo idiota.

sabe o que é realmente ousado? ser gentil. não a gentileza superficial, dessas que aparecem em discursos de liderança ou campanhas publicitárias piegas. estou falando de ser genuinamente bom, mesmo quando ninguém está olhando, mesmo quando você não tem absolutamente nada a ganhar com isso. porque, no fim das contas, ser bom é a única coisa que importa. sua carreira brilhante, seus seguidores nas redes sociais, seu feed cuidadosamente curado – nada disso vale nada se você é uma pessoa que trata os outros como lixo. mas claro, isso não é o que as pessoas querem ouvir. elas querem o caminho fácil, o atalho da arrogância, onde você faz piadinhas às custas dos outros e, de alguma forma, se convence de que isso é “ser sincero”.

ser bom não é ser trouxa. ser bom é ser inteligente o suficiente para entender que não precisamos tornar a vida mais difícil do que ela já é. a gentileza exige esforço, exige paciência, exige caráter. e adivinha só? caráter não pode ser ensinado, comprado ou conquistado com diplomas. caráter é o que separa os adultos dos moleques mimados que acham que o mundo gira em torno do próprio umbigo.

e se você acha que ser um babaca é sinônimo de poder ou controle, sinto muito. ser um babaca só revela uma coisa: que você é fraco. é isso mesmo. porque é preciso muito mais força para ser compassivo em um mundo que nos empurra constantemente para o cinismo, para o individualismo e para o egoísmo disfarçado de assertividade. ser babaca é fácil, é preguiçoso. é o caminho de quem não tem coragem de se vulnerabilizar, de quem não tem coragem de se importar. no final do dia, o verdadeiro poder está em quem sabe a hora de calar a boca, escutar e ser uma boa pessoa – não porque espera algo em troca, mas porque entende que é assim que o mundo deveria funcionar.