
olha, não é só a praga do gpt, é a praga da terceirização da própria alma. antes, escrever era um ato quase indecente… você expunha suas feridas, botava o dedo no próprio umbigo e depois enfiava a mão na ferida do leitor. hoje? hoje escrever virou um serviço de buffet: “me manda um briefing e eu te entrego algo neutro, rápido, sem colesterol emocional”. é como se a humanidade tivesse descoberto uma forma de vomitar palavras sem nunca ter mastigado um pensamento.
e não me venha com aquele papo de “ah, mas é só uma ferramenta”. ferramenta, o cacete. um martelo é uma ferramenta. uma faca é uma ferramenta. gpt não é martelo, é o cozinheiro inteiro fazendo seu mise en place, cozinhando, montando o prato, servindo e ainda limpando a cozinha enquanto você fica no canto, mexendo no celular. no fim, o prato é bom, mas não tem seu suor, não tem seu erro, não tem seu tempero. e, pior, você começa a achar que nunca soube cozinhar de verdade.
a indústria adorou. claro que adorou. nunca foi tão fácil encher o mundo de conteúdo. e “conteúdo” virou exatamente isso… uma massa homogênea de frases que cabem em qualquer marca, qualquer post, qualquer legenda. e se você acha que tá sendo original usando gpt, te digo… você é só mais uma peça nessa fábrica de linguiça linguística onde cada salsicha tem o mesmo sabor genérico.
antigamente, as pessoas liam pra sentir alguém. hoje, leem pra confirmar que nada vai incomodar, que tudo vai ser mastigado e servido num tom neutro, sem arestas, sem verdade demais. gpt é perfeito pra isso, um sommelier de irrelevância.
e sabe o mais triste? não é que as pessoas não saibam mais escrever. é que elas não querem mais passar pelo desconforto de pensar. escrever exige lidar com silêncios, com o feio, com aquela frase que não sai. mas agora, quando o branco da página aparece, você corre pra pedir ajuda ao robô, como quem chama um entregador porque esqueceu como se frita um ovo. e assim, pouco a pouco, você para de cozinhar e começa a viver de comida pronta.
daqui a pouco, nem vai ser mais “escrever com gpt”. vai ser só “escrever” e pronto, porque a palavra vai perder o peso de ser um ato humano. e aí, meu amigo, o que sobra? a gente, sentado num banquinho, assistindo uma máquina contar as histórias que a gente nunca teve coragem de viver.
porque, no fim das contas, o gpt pode até escrever por você. mas ele não pode beber no seu bar sujo preferido, nem brigar com seu amigo… e são essas coisas que valem a pena contar. o resto é só mais um post bonito pra ninguém lembrar amanhã.