
escrever com caneta em papel, em pleno 2025, é o equivalente contemporâneo a caçar sua própria comida com uma faca de osso enquanto o resto da galera tá pedindo sushi por drone e discutindo produtividade com coach de lifestyle no tiktok. é um gesto arcaico, quase obsceno, tipo usar dinheiro vivo ou saber de cor o número de telefone da sua mãe. ninguém faz mais isso. ninguém quer fazer mais isso. e é por isso mesmo que eu faço. não porque sou especial, deus me livre dessa palhaçada, mas porque gosto de lembrar que ainda sou um ser humano de carne, osso, raiva, tinta e letra horrível.
escrever com caneta é como cozinhar com gordura de porco em plena era do air fryer. é ruidoso. é engordurado. tem gosto de verdade. todo mundo hoje quer a porra da eficiência, da estética minimalista, do teclado silencioso. querem resultados rápidos, limpos, pasteurizados, sem suor, sem cheiro. e aí entro eu, suando porco, puxando um caderno encardido e uma caneta bic mastigada com dentes de nervoso, rabiscando pensamentos tortos que não servem pra nada… nem pra like, nem pra engajamento, nem pra monetização.
porque escrever à mão é anti-instagram. é slow food mental. é escrever uma frase de merda, riscar com ódio, escrever outra pior, amassar a folha, jogar no lixo, catar de volta, ler, rir da própria decadência e escrever de novo. não tem botão de “salvar”. não tem “nuvem”. só tem você, seu ego inflado, e a verdade crua do que sai da sua cabeça quando não tem corretor ortográfico segurando sua mão.
e sabe o que mais? tem algo deliciosamente obsceno em escrever algo que ninguém vai ler. num mundo onde tudo precisa virar post, story, thread, podcast, curso, e-book, NFT e sei-lá-mais-o-quê, escrever só por escrever… com caneta, num papel que pode ser rasgado, queimado, cagado por um pombo… é subversão pura. é tipo mijar na fonte da juventude. é dizer: “eu ainda faço isso aqui por mim, não pra vocês, seus bastardos sedentos por conteúdo”.
e eu sei, vão dizer que isso é nostalgia. que é pose. que é fetiche retrô de intelectual decadente. que caneta é coisa de professor frustrado e diário de menina dos anos 90. e, olha, talvez seja mesmo. mas ao menos, quando escrevo com caneta, eu sei onde minhas palavras estão. sei o peso que elas têm. sei a sujeira que deixam.
e isso, meu chapa, é muito mais do que posso dizer de um monte de PDFs que ninguém lê, de textão de linkedin com emojis corporativos, ou de legendezinhas de foto de café com frases de bukowski.
então que se foda a praticidade. que se foda o teclado. que se foda a “experiência do usuário”. escrever com caneta é ter uma experiência com o eu, com a falha, com o grotesco, com a beleza imprecisa da letra que muda conforme o humor, a bebida ou o nível de desespero.
escrever à mão, hoje, é um grito surdo no meio do show de luzes da modernidade. e eu, com minha caneta estourando no bolso da camisa, continuo gritando. porque ainda acredito que certas ideias precisam sujar os dedos antes de virarem qualquer coisa que preste.
e, convenhamos, se você nunca escreveu algo com tanta raiva que rasgou o papel… talvez você nem esteja vivo de verdade.
e é exatamente por isso que 90% das coisas que escrevo vocês nunca lerão… pois estão em algum caderno de papel ou já foram destruídos pelo tempo ou por mim mesmo!