
acabei de ver um vídeo do primo rico… sim, ele mesmo, o messias das planilhas, o profeta do excel, o homem que descobriu que dá pra transformar powerpoint em tábua sagrada. o cara estava num podcast, diante das pirâmides, aquele cenário que já por si só grita “megalomania”, e teve a ousadia de se comparar com a cultura de moisés. moisés, o sujeito que abriu o mar vermelho com fé e coragem… e ele, o sujeito que abriu uma plataforma de cursos com gatilho mental e boleto parcelado em doze vezes sem juros.
e ali, entre um discurso e outro, percebi… não estamos falando de empreendedorismo. estamos diante de uma espécie de religião fast-food. uma liturgia de instagram, com dogmas de copywriting e milagres em forma de gráfico de pizza. o cara fala como se tivesse recebido as revelações do monte sinai, mas na verdade foi só um e-mail do hotmart confirmando a venda de mais um curso.
a cena é patética e fascinante ao mesmo tempo. porque é isso… ele não quer ser moisés, quer ser faraó. sentado diante da pirâmide, com a aura de alguém que não guia o povo à liberdade, mas os conduz até o carrinho de compras. moisés tinha dez mandamentos, ele tem dez módulos, mais um bônus exclusivo se você comprar agora.
imagina o estudo científico disso. “síndrome do empreendedor messiânico: uma análise neuropsicológica da auto-estima tóxica em ambientes arenosos”. metodologia… colocar dez influenciadores diante de monumentos históricos e ver em quanto tempo eles se comparam a figuras bíblicas. resultado… em média, três minutos e meio. e não dá nem pra culpar a vaidade pura, é marketing. é sempre marketing. porque se ele tivesse citado zezinho da padaria da esquina, não teria o mesmo efeito. mas moisés, ah, moisés dá um cheiro de eternidade, de destino, de mito. e é exatamente esse mito que ele tá vendendo, não só a promessa de riqueza, mas a sensação de estar participando de algo épico, digno de livro sagrado.
e a plateia? engole. acredita. compartilha com hashtags tipo #mindset #fé #libertaçãofinanceira. não veem que estão apenas carregando tijolos invisíveis, ajudando a erguer a pirâmide do ego alheio. e o que recebem em troca? frases motivacionais recicladas, uma comunidade de telegram e aquele doce veneno de acreditar que estão no caminho certo.
a verdade é que todo coach sonha ser profeta. mas o primo rico deu um passo além, ele já se imagina personagem bíblico, com direito a cenografia. só falta agora um êxodo de seguidores atravessando o deserto do cartão de crédito até a terra prometida do pix caindo na conta.
e eu fico pensando… se moisés tivesse feito isso hoje, será que teria virado influencer também? será que o mar vermelho teria um patrocinador? “esta abertura é um oferecimento de xp investimentos”. porque é exatamente isso, um teatro de fé terceirizada, onde o deserto é só um funil de vendas e a libertação vem em forma de e-book gratuito.
no fim, não tem revelação. não tem êxodo. não tem promessa cumprida. só tem a repetição eterna de um ciclo, o messias sobe a montanha, desce com slides novos, e o povo paga ingresso pra ouvir. e tudo isso em frente às pirâmides, o símbolo máximo de que a humanidade sempre foi ótima em construir monumentos gigantescos à custa da ingenuidade coletiva.