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2024

reagir

hoje, estamos todos vivendo numa montanha-russa emocional, reagindo a tudo como se cada pequena inconveniência fosse uma questão de vida ou morte. a velocidade com que saltamos para a reação, sem nem pensar, é quase desesperadora. não é só impulsividade; é como se estivéssemos programados pra isso. você acorda e já tá pronto pra se irritar, esperando por aquele comentário atravessado, aquela interrupção, qualquer coisa que te dê motivo pra explodir. e o que é realmente assustador é que a maioria das pessoas nem percebe o quanto está se sabotando com isso.

o mundo tá cheio de gente que confunde a força com a reatividade. mas a verdadeira força, o verdadeiro poder, não vem de quem reage a tudo. vem de quem consegue pausar, refletir e responder com intenção. e essa é uma habilidade que, francamente, a maioria nem chega a desenvolver. porque dá trabalho. exige uma dose de autoconsciência que poucos estão dispostos a cultivar. é fácil se convencer de que reagir rápido é sinal de controle, mas a realidade é exatamente o oposto. reagir sem pensar te torna marionete das circunstâncias, à mercê de qualquer situação ou pessoa que saiba onde apertar os botões certos.

se a gente parar pra pensar, quanto da nossa energia diária é consumida por essas reações automáticas? é um gasto que não rende nada, não traz paz, não constrói nada de útil. e o que fica são pequenas cicatrizes, aquelas tensões acumuladas no corpo e na mente, resultado de se deixar levar por esse ciclo interminável de estímulo e resposta. se você só reage, você não está vivendo a própria vida; você tá apenas sendo empurrado de uma reação para outra, controlado por qualquer impulso que cruze seu caminho.

mas, ao escolher responder, você começa a recuperar o controle que, talvez, nem sabia que tinha perdido. porque responder não é só sobre esperar um segundo a mais antes de explodir. é sobre se perguntar: o que realmente merece minha atenção? o que eu quero construir a partir disso? às vezes, a melhor resposta é não reagir. outras vezes, é responder de um jeito que desarma, que muda o tom da conversa, que te coloca numa posição de paz que nenhuma reação impulsiva pode oferecer.

escolher responder, ao invés de reagir, é um ato de profunda autonomia. é se recusar a ser manipulado pelo mundo ao seu redor e, em vez disso, afirmar que você escolhe como quer navegar por ele. isso não é fraqueza; é um poder que poucos compreendem. é a capacidade de olhar para a vida — com todos os seus socos e rasteiras — e decidir que você vai dirigir o próprio espetáculo, que o seu estado de espírito e a sua paz interior não serão moeda de troca para qualquer provocação que apareça.

é um trabalho constante, mas é assim que se constrói uma vida onde você escolhe, a cada dia, onde vai gastar a sua energia, o que realmente merece seu foco, o que você quer construir com o que a vida joga em você. porque, no fim, o poder verdadeiro está em fazer dessa escolha uma prática. e quem consegue, de fato, viver assim, não só escolhe a própria tempestade — mas também aprende a navegar por ela, intacto, enquanto os outros se perdem no olho do furacão.

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2024

meditar

ah, a meditação. aquela arte sublime de sentar em posição de lótus, fechar os olhos e esperar que os pensamentos fluam por você como se fossem hóspedes não convidados. o grande truque é perceber que até o ato de pensar “ah, estou meditando!” já é só mais um pensamento intruso, um vagabundo qualquer que apareceu pra te lembrar que você ainda tá preso na sua própria cabeça.

o mundo espiritual, zen, essa história de desligar a mente – parece que as pessoas pensam que vão sentar e, de repente, vão atingir o nirvana e ver a face de buda sorrindo. mas, na real, o que acontece? você fecha os olhos e é bombardeado por um desfile de ideias inúteis. do nada, você tá relembrando aquele troco errado que você recebeu no mercadinho há cinco anos. e então você se flagra ali, no meio do “eu estou meditando”, achando que finalmente tá pegando o jeito. mas, surpresa: esse pensamento também é só mais um troço inútil.

meditar é, essencialmente, o ato de deixar que tudo que cruza a sua mente – a lista de compras ou a vontade de comer um cheeseburger – venha, e vá embora. sem dar bola. como se fosse um filme péssimo de sessão da tarde passando na sua frente. você não tá ali pra assistir com atenção; tá ali pra deixar que as cenas rodem sem a menor interferência. no final, você saca que meditação não é sobre calar a mente. é sobre aceitar que a mente nunca cala, mas que você pode escolher ignorar as idiotices que ela fica sussurrando.

então, medite, mas não se iluda. você não vai parar de pensar, só vai se cansar de dar bola. e isso já é um baita progresso. bem-vindo ao verdadeiro zen.

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2024

ser professor

ser professor é, no fundo, uma das maiores declarações de amor ao conhecimento que alguém pode fazer. imagine um trabalho onde o pagamento real não vem em dinheiro, não vem em aplausos, não vem em placas de “funcionário do mês” penduradas na parede. ser professor é escolher, dia após dia, mergulhar de cabeça num oceano de olhos preguiçosos, de mentes distraídas, de cadernos em branco. e, ainda assim, encontrar prazer nesse ato de nadar contra a correnteza. ser professor é ser, de algum jeito, um romântico incorrigível, aquele que acredita, contra todas as probabilidades, que um mundo melhor começa dentro de uma sala de aula.

porque, veja bem, é ali, naquele cenário caótico de lousas rabiscadas e celulares espreitando debaixo das carteiras, que a magia acontece. o professor é como um chef que não trabalha com receitas prontas. ele entra na cozinha sem saber o que vai encontrar, com ingredientes que mudam a cada dia, mas sempre com a mesma paixão. e, entre uma explicação e outra, ele vai misturando ideias, histórias, experiências de vida. ele vai jogando temperos de sarcasmo e de crítica, de provocação e de questionamento, porque sabe que o bom conhecimento não é digerido de uma vez só – ele é degustado, pedaço a pedaço, até se tornar parte de quem o experimenta.

e olha, ser professor é ser o mestre de um ritual antigo. em cada aula, ele desafia a ordem natural das coisas. porque, enquanto o mundo lá fora vende a ilusão do sucesso rápido, das respostas prontas, o professor tá ali pra mostrar que o saber de verdade é um processo lento, doloroso às vezes, mas absolutamente necessário. ele tá ali, não pra te dar a resposta, mas pra te ensinar a fazer as perguntas certas. é como ser um guia numa trilha escura: ele não vai te carregar no colo, mas vai iluminar o caminho pra que você descubra sozinho onde pisar.

a realidade é que os professores são os heróis mais subestimados da nossa sociedade. eles são os que seguram o barco enquanto tudo ao redor parece afundar. e eles fazem isso com uma paciência invejável, com uma resiliência que desafia qualquer lógica. porque, no fundo, eles sabem que o que estão plantando ali vai além da matemática, da literatura, da química. estão plantando o senso crítico, a curiosidade, aquela faísca de querer saber mais, de querer entender o mundo. estão criando um exército de pessoas que, se tudo der certo, vão questionar o que precisa ser questionado e mudar o que precisa ser mudado.

e o mais incrível? eles fazem tudo isso sabendo que a maioria dos seus esforços jamais será reconhecida. você não vê professores estampando capas de revista, nem ganhando prêmios milionários. mas eles estão lá, todos os dias, criando revoluções silenciosas em mentes que ainda estão descobrindo o próprio poder. o professor sabe que, um dia, um aluno pode olhar pra trás e perceber que foi ali, naquela sala de aula, que ele começou a entender quem realmente é. e isso, meu amigo, é o tipo de impacto que nenhum salário pode pagar.

ser professor é também, vamos admitir, uma espécie de vício. uma vez que sente o gosto de ver alguém despertando pro mundo, não tem mais volta. você tá fisgado. é como se a cada dia você fosse o único que consegue enxergar o potencial oculto naquela molecada distraída, aquele brilho apagado em cada olhar sonolento. e por mais desafiador que seja, por mais que as estruturas tentem engessar seu trabalho, você encontra um prazer secreto em subverter as regras, em encontrar brechas pra instigar, pra provocar, pra plantar uma dúvida onde antes só existia indiferença.

e aí está o grande segredo: o professor não tá ali só pra ensinar fatos ou teorias. ele tá ali pra ensinar como ser humano. ele tá ali pra mostrar que o conhecimento não é só um monte de fórmulas e datas; é um jeito de ver a vida com profundidade, com nuance, com coragem. e é por isso que ele usa de tudo: das piadas sarcásticas que tiram uma risada até os discursos que forçam o aluno a repensar aquilo que ele sempre aceitou como verdade. cada comentário, cada provocação, é como uma marretada nas paredes que o mundo ergue ao redor dessas mentes jovens, e a satisfação tá em ver essas paredes começarem a rachar.

e, no meio de tudo isso, o professor ainda encontra tempo pra se importar. ele percebe aquele aluno quieto no canto, aquele que nunca participa, aquele que parece invisível. porque o professor sabe que, às vezes, o que você ensina não tá nos livros, mas no fato de estar ali, de ser a pessoa que se importa o suficiente pra perguntar se tá tudo bem, pra oferecer uma palavra de incentivo quando ninguém mais oferece. isso, meu amigo, é o tipo de coisa que fica. é o tipo de coisa que um aluno vai lembrar quando, anos depois, ele se pegar pensando em quem ele realmente é, de onde ele veio e pra onde ele quer ir.

ser professor, no fim das contas, é ser um escultor de mentes, um arquiteto de sonhos, um plantador de ideias subversivas que, um dia, vão brotar nos lugares mais inesperados. é saber que, mesmo que você não veja o resultado agora, você tá criando raízes profundas que vão sustentar futuros que você nunca vai testemunhar. e isso é um tipo de glória que poucos têm o privilégio de experimentar.

então, se você é professor, saiba que você faz parte de uma liga secreta de agentes do caos e da curiosidade. você é o que desafia a banalidade, o que ri na cara do conformismo, o que planta dúvidas como quem planta sementes, sabendo que nem todas vão brotar, mas as que brotarem vão florescer de um jeito que ninguém pode prever. e se isso não é motivo de orgulho, de inspiração e de pura teimosia, então eu não sei o que é. porque ser professor, apesar de todas as batalhas diárias, é ser, no fundo, um eterno otimista disfarçado de cínico. é acreditar, todo santo dia, que o futuro vale a pena. e só por isso, você já merece todo o respeito e admiração do mundo.

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2024

qualidade?

o famoso “conteúdo de qualidade”. essa mística mágica que todo mundo persegue, mas poucos entendem. parece que a cada esquina digital tem um novo “gênio” dizendo que basta criar conteúdo de qualidade para ser visto, para “se destacar” no meio da bagunça, como se fosse uma receita de bolo. como se fosse uma senha secreta que destravasse a atenção do mundo, não importa o quanto ele esteja gritando. o que eles não te contam é que a maioria das pessoas que fala de qualidade realmente não faz ideia do que isso significa. acham que é só pegar a estética certa, uma musiquinha inspiradora, uns cortes rápidos e pronto – temos o tal do conteúdo de qualidade. bom, spoiler: não é. isso é só outro pacote vazio no desfile interminável de quinquilharias digitais.

conteúdo de qualidade não tem nada a ver com ser bonitinho ou “engajante” – duas palavras que, honestamente, deveriam ser banidas do vocabulário de quem quer criar algo de valor. conteúdo de qualidade é o que se destaca, não porque grita mais alto, mas porque tem um peso, uma verdade. é como aquela coisa inesperada que surge no meio da bagunça e, de repente, você percebe que tudo ao redor está ali só pra preencher espaço. é aquilo que, se você se permitir encarar, te faz lembrar de que não dá pra mascarar autenticidade.

a maioria do que chamam de “conteúdo de qualidade” hoje em dia é só mais uma distração, uma edição bem-feita, um post que parece autêntico mas não é nada mais do que um truque barato de ilusionismo digital. porque conteúdo de qualidade, de verdade, exige uma coisa que quase ninguém está disposto a oferecer: uma dose desconfortável de honestidade. mas, claro, isso não cabe num reels, não ganha like fácil. porque a real é que qualidade não vem empacotada para agradar, não vem polida e pronta para o consumo em massa. é desajeitada, é crua, é aquele prato rústico que você prova e te faz lembrar de que, sim, existe mais na vida do que o conteúdo diluído que você consome todos os dias.

mas aí, em vez de algo de valor, o que a gente vê são feeds polidos, montados pra enganar a gente, pra nos fazer acreditar que estamos vendo algo verdadeiro quando, na verdade, é só mais um balão de ar quente. e o problema não são as pessoas que se deixam levar, porque quem é que não gosta de uma distração bem feita? o problema é o que a gente perde nessa confusão: o que poderia ter sido, a autenticidade jogada de lado em nome do marketing. qualidade, afinal, não é uma coisa que se compra, não é uma fórmula. é aquela coisa que, quando você vê, sabe na hora. e, ao contrário de todo o resto, ela não está ali pra te distrair; está ali pra te acordar.

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2024

não

vamos encarar a realidade: você não precisa dizer “sim” pra toda situação que aparece no seu dia a dia. então, normalize o “não” sem justificativas, e ponto final. se algo não faz sentido pra você, se não se alinha com o que você acredita ou se está prestes a transformar a sua rotina num pesadelo, não tem motivo pra hesitar. o seu “não” é válido, legítimo, e não precisa vir seguido de uma explicação de duas páginas.

tem uma reunião que vai consumir horas da sua vida e que, no fundo, você sabe que não serve pra nada? “não.” o convite pra se envolver em um projeto que não te interessa, não vai te ensinar nada, e ainda vai sugar toda a sua energia? “não.” sem a menor cerimônia.

tá na hora de entender que um “não” na hora certa pode ser o melhor investimento que você faz em si mesmo. tem tanta coisa que nos arrasta pra um ciclo de irritação, frustração e perda de tempo. tudo porque somos condicionados a acreditar que, sem uma justificativa, o nosso “não” não tem valor. mas adivinha só? ele vale, sim. e muito.

não quer gastar tempo com algo que vai te roubar a paz mental? “não.” não está a fim de engolir mais um pedido que só vai deixar seu dia mais cheio e sua paciência mais curta? “não.” a vida tem mais a ver com o que você escolhe recusar do que com o que você aceita sem pensar. e toda vez que você se nega a ser o capacho da conveniência, você ganha um pouco mais de controle sobre a sua vida.

primeiro, o “não” cria espaço. toda vez que você diz “não” pra alguma coisa que não se alinha com quem você é, você ganha um pedacinho de tempo de volta. um “não” aqui, outro ali, e de repente, olha só, você tem horas a mais no seu dia pra focar no que realmente importa. ao recusar tudo aquilo que apenas consome e não agrega, você começa a abrir espaço pra o que realmente tem valor. o que significa mais tempo pra você, mais tempo pra aprender, pra descansar, pra criar, pra ser, simplesmente, você.

o “não” também é um escudo. ele filtra o que entra e o que fica do lado de fora. sabe aquelas pessoas que vivem de sugar energia, que chegam com suas demandas e expectativas como se fossem suas pra carregar? o “não” é a barreira que protege você desse tipo de parasita emocional. ele preserva sua saúde mental, sua paciência e sua paz de espírito. e, com o tempo, você percebe que as pessoas que realmente importam, aquelas que respeitam seus limites, continuam por perto. as outras, bem, que sigam o caminho delas.

mais do que isso, o “não” é um ato de respeito por você mesmo. é como dizer pra si mesmo que você merece escolher, que você não está no mundo pra cumprir o roteiro que os outros escreveram. ele te permite viver de acordo com os seus valores, e não com as expectativas alheias. cada “não” é um voto de confiança em você, é um passo em direção a uma vida mais alinhada com quem você realmente é.

e talvez o melhor de tudo: o “não” te dá liberdade. liberdade de não ser refém do “sim,” de não ter que agradar a todo mundo, de não ter que se explicar. quando você começa a dizer “não” pra tudo o que rouba sua energia, irrita sua alma, ou destrói sua paz, você começa a experimentar uma leveza inédita. você se torna o dono do seu tempo, o arquiteto da sua vida. o “não” é libertador porque é um compromisso com o que você quer e com o que você não quer. e não tem nada mais poderoso do que isso.

no final das contas, o “não” é a base pra uma vida mais intencional, mais focada, e, sem dúvida, mais verdadeira. então, use-o. abuse dele. transforme o “não” num mantra pessoal e veja como, de repente, o mundo começa a se alinhar ao seu redor.

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2024

ser legal dá trabalho

ser legal dá um trabalho desgraçado, e é exatamente por isso que pessoas que conseguem ser genuinamente legais são uma raridade fascinante. essas criaturas parecem viver em um universo paralelo, onde a gratidão e a paciência são moeda corrente e o bom humor não é um esforço, mas sim um estilo de vida. para essas pessoas, não basta simplesmente existir – não, elas fazem questão de transformar o ordinário em algo ligeiramente suportável, de uma maneira que chega a ser quase desconcertante. elas encaram o mundo com um sorriso sincero e uma palavra gentil, enquanto o resto de nós só quer sobreviver ao próximo aborrecimento sem mandar ninguém ao inferno.

e sabe de uma coisa? eu realmente gosto dessas pessoas. elas não são apenas legais por conveniência, como quem tenta passar uma imagem de pureza ou de superioridade moral. não. essas pessoas estão nesse jogo de bondade porque, de alguma forma incompreensível, acreditam mesmo nisso. elas acham que cada gesto importa, que cada palavra pode fazer diferença. e, com essa crença meio ingênua, acabam criando pequenos milagres no caos diário. elas não são do tipo que oferecem gentileza esperando algo em troca, como aqueles falsos bonzinhos que na verdade só querem se sentir superiores ao resto da humanidade, disfarçando seu ego inflado atrás de uma fachada de “santidade”.

não, essas pessoas legais de verdade se levantam todos os dias e decidem que vão ser a mudança que querem ver no mundo. elas não estão aqui para nos dar uma lição, nem para jogar na cara nossa falta de paciência. elas estão simplesmente ocupadas demais tentando fazer o mundo ser menos insuportável para se importarem com o que o resto de nós pensa.

e, francamente, é por isso que eu admiro esses estranhos. ser legal requer uma energia que a maioria de nós não tem, ou simplesmente não se importa em gastar. dá trabalho. é um investimento de tempo e de sanidade que poucos estão dispostos a fazer. enquanto estamos todos à beira do colapso, ansiosos e prontos para a próxima chance de esbravejar, essas pessoas legais continuam firmes, navegando calmamente por um mar de cinismo e indiferença, sem perder o ritmo.

é um tipo de loucura admirável. o resto de nós vive na defensiva, prontos para o ataque, desconfiados de qualquer sorriso que dure mais de dois segundos. mas essas pessoas? elas estão em outro plano, ocupadas demais sendo boas para se importar com o nosso olhar de desconfiança. a verdade é que o mundo precisa delas. sem essas pessoas, estaríamos todos, sem exceção, afundados em um pântano de amargura e sarcasmo, sem um raio de esperança à vista.

então sim, que venham mais dessas almas decididamente boas. quem sabe, com o tempo, a gente até aprenda alguma coisa. ou, na pior das hipóteses, a gente acaba sendo levado de arrasto por essa onda de positividade irritantemente autêntica. porque, no final das contas, ser legal pode dar trabalho, mas é esse tipo de trabalho que faz o mundo girar de um jeito que a gente até se esquece, por um momento, do caos ao nosso redor. e se você, como eu, ainda está tentando entender por que essas pessoas são assim, talvez seja porque, lá no fundo, você sabe que precisa delas – mesmo que não admita.

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2024

crianças

ah, as crianças. o futuro da humanidade, os pequenos portadores da esperança, as bolinhas de energia descontrolada que muitas vezes parecem movidas a açúcar e determinação inabalável de destruir qualquer ambiente silencioso. mas, olha só, é aí que reside o encanto desses pequenos seres em formação. são como obras de arte ainda em rascunho, um caos de criatividade e curiosidade que, quando a gente para para observar, até faz a gente sentir uma ponta de inveja.

elas têm essa habilidade única de se encantar com o mundo de um jeito que você, adulto cínico e amargo, nem consegue mais imaginar. enquanto você só vê uma poça d’água nojenta que vai sujar o sapato caro, elas veem um oceano de possibilidades. a inocência com que elas exploram o mundo é quase um lembrete de que, uma vez, você também foi assim: sem medo de se sujar, sem vergonha de perguntar o que é óbvio, e sem o peso dessa bagagem existencial que a gente coleciona ao longo dos anos.

mas, veja bem, não são só flores. não estamos falando de anjinhos celestiais. elas são sinceras de um jeito brutal que deixa qualquer adulto desconfortável. você acha que sua roupa nova está arrasando? uma criança te diz que você parece um palhaço, e com a maior naturalidade do mundo. e no final das contas, não dá pra negar, elas são quase sempre brutalmente honestas. essa sinceridade, esse desapego com convenções sociais, é o que torna a presença delas tão revigorante. são elas que, sem querer, nos mostram o quanto a gente se leva a sério.

e sim, é verdade que crianças também são um pouco como cientistas malucos, sempre testando os limites do possível. se você diz “não toque nisso”, elas imediatamente tocam. mas, ao contrário do que muitos pais pensam, isso não é desobediência gratuita. é curiosidade pura, é essa fome de mundo que talvez a gente nunca mais recupere depois de velho. e talvez a gente precise dessas pequenas doses de caos para lembrar que a vida não é feita só de cronogramas, listas de afazeres e reuniões que poderiam ser e-mails.

o segredo, se é que existe algum, está em aprender a apreciá-las como elas são: pequenos agentes do caos, sim, mas também mestres do riso, do aprendizado e da descoberta. com elas, tudo é um experimento, tudo é um “e se?”. e, no fundo, talvez o mundo precise mesmo de mais perguntas e menos respostas definitivas. talvez todos nós devêssemos ser um pouco mais como crianças – com menos medo, mais curiosidade, e um pouquinho mais de coragem para encarar o mundo de peito aberto e olhos arregalados.

então, da próxima vez que você cruzar com uma criança, seja paciente. pode ser que ela te faça enxergar o mundo sob uma nova luz, ou pelo menos te lembre que, às vezes, tudo o que a gente precisa é de um mergulho numa poça d’água.

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2024

ler

olha, é assim: você entra numa livraria hoje e o que vê? uma parede de papel barato com os títulos de sempre, os hits de instagram, aqueles livros de autoajuda camuflados de literatura séria, e as ficções blockbuster que vêm e vão mais rápido que o café da manhã. é como se o mundo tivesse trocado “a divina comédia” por “os segredos dos milionários que acordam às cinco da manhã” e “crime e castigo” por alguma bobagem de fantasia genérica sobre um vampiro apaixonado. a moda é agora devorar romances banais de youtubers, como se fosse o auge do saber.

e antes que me acusem de saudosista, digo logo: nem todo clássico é intocável ou vai te fazer tremer. tentei ler “moby dick” três vezes. três vezes, meu caro! e tudo o que consegui foi imaginar quantos capítulos mais eu teria de aguentar sobre a bendita baleia. você já tentou encarar “ulisses” de james joyce? eu, uma vez. duas, se contar as páginas que folheei sem entender absolutamente nada, imaginando o que diabo ele estava tentando dizer. e, se estamos sendo honestos, abandonei “em busca do tempo perdido” antes de passar da página 100 – marcel proust com seu desfiar de lembranças como se fosse alguma revelação divina; uma ladainha que só me fez buscar o tempo perdido em algum outro lugar.

e a verdade é que tem muita gente presa em livros que deveriam ter largado há muito tempo, como uma amizade que já foi boa um dia, mas agora só resta um fio de paciência. mas não, insistem, empurram, se amarram nesse masoquismo literário como se fossem ser canonizados por terminar aquele volume interminável de tolstói ou aquelas frases intermináveis de faulkner. o pessoal parece achar que largar um livro é como desistir de um filho, uma ofensa pessoal ao autor, ou – deus nos livre – um sinal de que são “menos leitores”. como se existisse um ranking secreto, uma lista de onde seu nome só vai entrar se você ler até o último ponto final de “os irmãos karamazov”.

mas, sabe, é libertador saber desistir. é como abandonar uma festa chata sem dar explicações, aquela decisão sem culpa, sem remorso. é um talento subestimado, saber largar mão de um livro que só está te torturando. nada de ir até o final só porque um crítico barbudo disse que é a melhor coisa já escrita. se o livro não te pegou, larga. é simples. um livro que não te toca não merece o peso da tua atenção. ler é coisa séria demais pra ser um fardo, e a vida é curta demais pra páginas que você vai esquecer no minuto em que fechar a capa.

então, que se danem os modismos, os clássicos de pedante, e os romances descartáveis. lê-se o que se ama, e o que não faz o sangue ferver, a gente larga. e é assim que se vive, como deve ser.

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2024

o que realmente importa

engraçado como uma febre infantil faz você largar tudo e repensar a vida, como um susto no meio do caminho que te obriga a pisar no freio. um minuto antes você tá ali, imerso nas banalidades do dia a dia — trabalho, compromissos, aquele happy hour que você marcou mas nem tava com tanta vontade de ir. aí vem ele tremendo de frio com calafrios, um corpo quente, e o mundo muda num estalar de dedos. você se pega numa vigília absurda, conferindo temperatura a cada cinco minutos, como se sua própria existência dependesse disso. e, de certo modo, depende.

e não é que as prioridades mudam, elas evaporam. todo o resto vira ruído de fundo, um monte de besteira sem importância. aquele projeto no trabalho que parecia questão de vida ou morte, de repente parece risível. as contas que te atormentavam viram poeira. porque, ali, deitado no sofá com os olhos pesados e o rostinho quente, está a única coisa que realmente importa. você percebe que toda essa coisa de “vida” não faz o menor sentido sem ele bem, sem ele ali, saudável e feliz, puxando a barra da sua camisa e te pedindo atenção.

aí você percebe o quanto toda essa construção é frágil. você, que já se achou um gigante, invencível, com o mundo sob controle, descobre que basta uma febre pra te reduzir a nada. você já não passa de um figurante sem nome, o cara que faz o que pode nos bastidores, enquanto a estrela do show enfrenta o próprio pequeno apocalipse. é humilhante e, ao mesmo tempo, libertador. porque te obriga a encarar a verdade: toda essa corrida, toda essa performance que você chama de vida, se dissolve na irrelevância quando a saúde dele está em jogo.

é o tipo de epifania que só vem quando você encara a fragilidade de alguém que depende de você. é aquele tapa na cara, sem cerimônia, sem aviso prévio, que te lembra o que realmente importa, que coloca tudo em perspectiva, que faz a vida inteira fazer sentido. porque a verdade é que você tá aqui pra isso. pra cuidar, pra se preocupar, pra estar presente. e, no fim, tudo se resume a isso: a felicidade dele é a sua, a dor dele é a sua, e toda a sua vida se resume a garantir que ele possa, um dia, correr por aí sem nunca se lembrar da noite em que você ficou acordado, contando respirações e trocando compressas.

no final das contas, você se dá conta de que essa é a única coisa que vale a pena. o resto é paisagem. o resto é conversa fiada.

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2024

adivinhações

ah, as decisões cruciais da vida. aquelas que a gente é forçado a tomar no escuro, tropeçando nos próprios pés e torcendo para que, de alguma forma milagrosa, tudo dê certo. mas a verdade é que a vida adora pregar peças e exigir de nós um nível de sabedoria que, sejamos honestos, ninguém possui. a ironia é que, quando essas encruzilhadas surgem, raramente estamos equipados com o que realmente importa: informação de verdade. a gente até se ilude, busca conselhos, lê uns textos aleatórios na internet, assiste a vídeos de gente que se acha guru… mas, no fim das contas, é como montar um quebra-cabeça no escuro.

é quase como se a vida quisesse nos ver falhar, dar aquela risadinha cínica, enquanto a gente tropeça e cai de cara no chão. você se depara com essas escolhas, na maior parte das vezes, quando está vulnerável, com pressa ou simplesmente sem a mínima ideia do que fazer. e aí você escolhe – com base na intuição, na esperança, ou até no puro medo de ficar parado. e depois, bem, depois você fica anos pensando se foi o melhor caminho, se aquela escolha idiota foi o que estragou tudo ou se, na real, o erro foi nunca ter ousado mais.

mas é isso, não? a vida é um jogo de adivinhações mal-intencionado, onde a gente tem que decidir de estômago embrulhado, sem mapa, e fingir que entende alguma coisa. a verdade é que ninguém sabe porra nenhuma. e, de certa forma, isso é até um consolo. no final das contas, somos todos palhaços dançando nesse circo, tomando decisões estúpidas, sem a menor garantia de que vai dar certo. só que fingimos que está tudo bem. porque, no fundo, o que resta é o espetáculo de seguir em frente, sem olhar muito para trás, e rir do absurdo de tudo isso.