
videogames. tentei. porra, eu tentei. liguei a máquina, peguei o controle, me preparei para ser tragado para essa maravilha tecnológica onde tudo é possível, onde mundos inteiros se dobram à minha vontade, onde cada detalhe foi meticulosamente projetado para sugar minha alma e me manter engajado como um rato pressionando alavancas por um torrão de açúcar. quinze minutos depois, eu queria morrer de tédio.
talvez o problema seja eu. talvez eu tenha perdido alguma coisa, algum gene da modernidade que faz as pessoas ficarem obcecadas com esse troço. ou talvez o problema seja o fato de que videogames, assim como fast food e redes sociais, foram projetados para te viciar sem te dar nada de verdade em troca. uma dose cuidadosamente medida de dopamina a cada “missão cumprida”, cada “nível alcançado”, cada pequena recompensa que mantém seu cérebro feliz enquanto suas horas desaparecem no ralo.
mas eu não sou rato de laboratório. não preciso que me deem estrelinhas douradas por apertar botões na sequência certa. então desliguei aquela merda e voltei para o que realmente me relaxa… escrever. porque escrever não me dá pontos, não me elogia, não me faz sentir um vencedor só por ter existido. escrever me enfrenta. me desafia. me olha na cara e pergunta: “é só isso que você tem?”
e talvez seja exatamente isso que falta nos videogames modernos. risco. imprevisibilidade. o cheiro de sangue na água. hoje, tudo é calibrado para ser seguro, acessível, para que ninguém fique frustrado, para que todos sintam que estão indo bem. um grande parque de diversões digital onde todo mundo ganha, onde tudo é um espetáculo de luzes e barulhos que mascaram o fato de que, no fim, você não fez nada. não aprendeu nada. não conquistou nada.
eu sei que tem jogos incríveis por aí, que para muita gente isso é arte, um refúgio, um escape válido. beleza, sem ressentimentos. mas para mim? quinze minutos e já estava de saco cheio. talvez porque prefira criar meu próprio mundo a vagar por um que alguém já desenhou para mim. talvez porque precise da frustração de uma página em branco, do risco real de falhar, da liberdade absoluta que só existe onde não há regras.
ou talvez porque eu simplesmente não tenha paciência para perder tempo com besteira.
já escrever me fode. me arrasta pelo chão, me esmurra, me faz duvidar de cada palavra que sai da minha cabeça. não tem botão de reset, não tem checkpoint, não tem mecânica de recompensa para me fazer continuar. tem só eu, uma página vazia e a pergunta incômoda… isso aqui presta? isso aqui vale alguma coisa? isso aqui sangra o suficiente para ser real?
e é exatamente por isso que eu escrevo. porque não há atalhos. não há sistema projetado para me fazer sentir bem o tempo todo. escrever é sujo, difícil, ingrato. é cavar fundo e encontrar coisas que eu preferia deixar enterradas. é falhar, reescrever, detestar tudo, jogar fora e começar de novo.
mas quando funciona… quando uma frase estala como um golpe preciso, quando uma ideia se encaixa como se sempre estivesse ali esperando para ser escrita… nada se compara. não existe recompensa digital que se equipare a essa sensação. não há “achievement unlocked” que chegue perto do momento em que você olha para algo que acabou de escrever e pensa: “porra, isso aqui tem vida.”
e é isso que me vicia. não o conforto, mas o desconforto. não a certeza, mas a dúvida. não a segurança de um caminho pré-definido, mas a luta constante contra o vazio, contra a mediocridade, contra a tentação de escrever qualquer coisa só para preencher espaço.
escrever não me dá paz.
escrever não me relaxa.
escrever me mastiga e me cospe.
mas, no fim, é a única coisa que faz sentido.